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E-commerce 28 de abril de 2023

Modelos de Negócios – Redesenho da Cadeia de Abastecimento: aqui, a tecnologia exerce papel fundamental

Mudanças no comportamento dos clientes no comércio eletrônico vêm trazendo grandes transformações no modo de fazer logística.  E, neste contexto, a tecnologia tem papel fundamental, no que se refere às ações e, inclusive, para a sobrevivência da empresa.

Modelos de negócios – Redesenho da Cadeia de Abastecimento. O comércio eletrônico, a partir da experiência do cliente, vem sofrendo constantes transformações. A tecnologia desempenha um papel importante neste processo. Novos modelos são criados, obrigando a Supply Chain a se reinventar. Como aplicar a tecnologia de ponta em Centros de Distribuição?

Estes são os motes de mais esta matéria especial da Logweb.  Acompanhe.

Exigências dos clientes

A pandemia de Covid-19 mudou os hábitos de consumo e vem revolucionando o varejo, com as compras online alcançando 49,8 milhões de brasileiros em 2022, segundo a NielsenIQ|Ebit. Ou seja, praticamente 1 a cada 4 brasileiros já faz compras pela internet.

Outra pesquisa mais recente, feita pelo Google, apontou que 64% dos brasileiros não têm marcas insubstituíveis e que o principal critério de escolha de um produto é o preço, para 37% das pessoas.

“Com um mercado superaquecido e clientes que não são fiéis a marcas, a guerra do varejo agora é mais disputada na definição de portfólio, preço de venda e prazo de entrega. E no quesito prazo, a logística faz toda a diferença”, avisa Newton Novaes, sócio da Ekantika Consultoria, especializada na evolução dos negócios.

Hoje, para manter uma operação de varejo competitiva, é indispensável ter uma visão em tempo real de cada etapa da cadeia de valor dos produtos, além de um controle rígido de quanto, como e onde as empresas estão investindo na definição dos portfólios e dos estoques, diz Novaes.

Erica Couto, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Operadora Logística DHL Supply Chain, também fala da pandemia ao se referir às exigências, em termos de logística, impostas hoje pelas novas experiências dos clientes.

Segundo Erica, a pandemia reforçou a importância e o peso de dois aspectos fundamentais: a resiliência e a flexibilidade das cadeias de suprimentos. Resiliência para manter as cadeias funcionando mesmo sob condições extremas, como bloqueios e desastres naturais ou em situações mais cotidianas, como atrasos e falta de capacidade. Já a flexibilidade é para se adaptar às flutuações do mercado, principalmente do comportamento do consumidor. Neste ano, além disso, os juros elevados trouxeram novamente uma pressão por maior eficiência, a fim de manter os custos sob controle.

Na verdade, o boom do e-commerce foi bastante impulsionado pela pandemia e pela consequente mudança dos hábitos de consumo da população. Com isso, o setor logístico precisou reagir rapidamente e se adaptar a uma situação nova e a um consumidor mais exigente, sem perder produtividade e competitividade.

“Em meio a esse cenário de oportunidades, observamos um movimento de embarcadores – empresas cujo core business está em outra atividade, porém a gestão logística também é atividade essencial – se transformarem em Operadores Logísticos, a fim de atender essa nova dinâmica de mercado”, diz, agora, Angela Gheller, diretora de produtos de Logística da TOTVS, considerada a maior empresa de desenvolvimento de sistema de gestão do país.

Hoje, continua Angela, o cliente final exige entregas mais rápidas, com qualidade e transparência na comunicação do frete, para acompanhar informações sobre prazo e localização do produto. Tudo isso impacta o trabalho do setor logístico, que precisa ampliar sua capilaridade e alcance das entregas e, em paralelo, repensar o valor do frete, buscando a redução do custo interno e para o cliente, a fim de se manter competitivo. “E para atender essas demandas latentes, as empresas do segmento precisaram investir e ampliar suas estruturas internas, com investimento em tecnologia para suportar a operação logística.”

Hoje, os consumidores querem flexibilidade para realizar suas compras, seja de qualquer lugar ou canal – sites, aplicativos, redes sociais, etc. – e opções variadas de entregas – seja para retirar no caminho de casa/trabalho, seja receber no local desejado –, aliados a curto prazo e baixo custo. Vale ressaltar que, dependendo do produto, a questão do prazo é ainda mais relevante para o cliente, muitos trocam de loja e até mesmo pagam mais caro para receber mais rapidamente.

Assim, essa combinação de flexibilidade, prazo e custo é cada mais relevante, revela Ivan Jancikic, Regional Vice President, Engagement Management & CSP LATAM da Coupa Software, plataforma de Gestão de Gastos Corporativos (Business Spend Management – BSM) baseada em nuvem que unifica os processos das áreas de Supply Chain, procurement e finanças dos negócios. 

De fato, como também coloca Ricardo Aranha, executivo de negócios da Associação Brasileira de Automação – GS1 Brasil, ligada à GS1 Global, os clientes, principalmente os que compram em marketplaces, estão muito exigentes quanto à entrega no menor tempo possível e com qualidade. O tempo de entrega de um marketplace passou a ser uma variável importante na decisão do consumidor em comprar da empresa A e não da empresa B, mesmo que o preço da empresa A seja um pouco maior que a de B. As condições da entrega justificam pagar mais pelo produto.

Para atender a essa demanda do seu consumidor, os marketplaces que trabalham tanto com estoques próprios – disponíveis em seus Centros de Distribuição – quanto com o estoque dos seus vendedores – descentralizado e distante do consumidor – utilizam-se de muita tecnologia para conseguir integrar logicamente esses estoques, além de necessitarem de uma rede eficiente de coleta dos pedidos junto aos vendedores.

Uma solução apresentada para resolver a descentralização do estoque dos vendedores – prossegue Aranha – é o conceito fulfillment, no qual o vendedor entrega seu estoque nos Centros de Distribuição do marketplace e esse administra e distribui em suas próprias cadeias para que o produto esteja cada vez mais próximo do consumidor. Isso garante que o last mile seja rápido.

“Primeiro, precisamos falar do óbvio, que é a velocidade das entregas e um tracking bem preciso do que está acontecendo com cada pedido”, diz Guilherme Juliani, CEO do Grupo MOVE3 – que reúne as empresas Flash Courier, Moove+, Moove+ Portugal, Jall Card, M3Bank, Rede 1 Minuto e a transportadora Rodoê – e diretor da especialidade de transporte de e-commerce do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região – SETCESP.

Além disso, prossegue, temos, agora, o desafio de dar autonomia para o destinatário resolver 100% dos possíveis problemas, através de chatbots ou sites de tracking. Com isso, o consumidor poderá decidir receber sua encomenda em locais alternativos, lockers, pontos de retirada, fazer pequenos acertos nos endereços, etc. A ideia é que sempre que um cliente tiver alguma dificuldade ou dúvida, ele possa se autosservir e customizar sua entrega com ferramentas amigáveis e de fácil acesso.

“O que é fundamental para os clientes, principalmente os de e-commerce, é a chave para a logística associada a seus negócios. Exatidão, atualidade e disponibilidade de informações são essenciais. O planejamento e a execução dos pedidos devem ser compartilhados em tempo real com os clientes. Assim como a disponibilidade de produtos e a rastreabilidade dos pedidos no armazém. O controle de informações e fluxos físicos assumiu uma nova dimensão para atender a estas exigências e impõe excelência operacional em todos os níveis da operação”, pontua David Charvier, diretor de Operações da ID Logistics, um dos principais operadores logísticos internacionais.

O setor de logística e a cadeia de suprimentos se tornaram peças-chave no funcionamento das organizações. Hoje em dia, sabemos que 89% dos executivos sabem que uma possível interrupção da cadeia de suprimentos é o maior risco de curto prazo para suas empresas. Esse número aparece em um relatório recente da Capgemini Research Institute, o 2023 Global Investment Research

“É importante entendermos que a Supply Chain é uma prioridade que está à frente de outras questões importantes, se não conectadas, como o aumento dos preços das matérias-primas, a crise energética, impostos mais altos e as turbulências geopolíticas”, diz Pierre Jacquin, vice-presidente para América Latina da project44, provedora da Movement, plataforma que atua em visibilidade em tempo real para a cadeia de suprimentos global, 100% digital.

Tudo isso está na pauta dos clientes de transportadoras, embarcadores e no horizonte das empresas especializadas em logística. “Acredito que a complexidade da economia aumentou a visibilidade do atendimento ao cliente na logística, e isso enfatiza a importância de melhorar processos.” 

Com isso em mente, prossegue Jacquin, os clientes esperam cada vez mais visibilidade no transporte de mercadorias, porque isso os auxilia na tomada de decisões. Isso resulta em um gerenciamento melhor de aspectos como armazéns, transporte e a venda de ponta a ponta. 

Papel da tecnologia

Como já dito, estamos passando por um momento onde a forma de consumo vem se transformando e cada vez nos sentimos mais confortáveis e adaptados aos novos formatos de consumo, através de e-commerce e aplicativos. Conforme esse comportamento cresce e se torna cada vez mais comum, os estabelecimentos precisam se adaptar a novos processos logísticos, uma vez que atender demanda em lojas físicas é completamente diferente de atender demanda quando a compra é feita online. Para que os negócios crescem de forma sustentável, escalável e com baixa necessidade de caixa, ou até mesmo gerar rentabilidade de imediato, é fundamental estruturar um formato em termos de usabilidade/consumidor final e logística/operações que tenha tecnologia suficiente para sustentar a escalabilidade do negócio, uma vez que se trata de uma demanda que mensalmente se multiplica conforme tendência natural do momento que estamos vivendo, aponta Jessica Gordon, fundadora e CEO da Bebida na Porta – startup que tem como objetivo entregar bebida gelada em minutos para consumidores finais –, fazendo uma análise do papel da tecnologia neste processo, tanto de redesenho da cadeia de abastecimento, quanto para atender às exigências dos clientes.

Antes de falar especificamente da tecnologia para o apoio no desenho da cadeia de abastecimento, Jancikic, da Coupa Software, lembra que a tecnologia é o viabilizador de toda a entrega dessa jornada do cliente, desde o marketing de produtos, estrutura de vendas, como os portais, páginas de capturas de clientes, emissão de pedidos, faturamento, tracking de entrega, etc. Estas ferramentas se encaixam dentro desse ambiente para viabilizar essa execução de maneira eficiente.

Especificamente na Supply Chain, a tecnologia viabiliza o desenho ideal da cadeia logística, fazendo uma análise da demanda e incorporando os níveis de serviço esperados para fazer o posicionamento adequado em cada um dos elos de estoque e entrega.

“Não adianta uma empresa ter uma rede com 500 lojas se não der a opção que o cliente deseja. É fundamental ter uma combinação de tecnologias que ajudem a definir os estoques de segurança adequados em cada um dos pontos da cadeia, que auxiliem no desenho dessa cadeia logística, de toda essa malha de atendimento, não somente para abastecer os pontos de venda, de coleta e de entregas diretas dentro do nível de serviço adequado, mas também o dimensionamento do transporte. E a otimização das rotas de entrega só conseguimos com o uso da tecnologia. Como tudo isso tem que ser feito com uma velocidade muito grande e já conectado com sistemas de captura de pedidos, sem tecnologia não é possível.”

Resumidamente – completa Jancikic –, a tecnologia atua, primeiro, em uma visão mais estratégica, no desenho dessa malha de abastecimento, posteriormente no correto posicionamento desses estoques em cada um dos elos da cadeia, seja no Centro de Distribuição que tenha o maior estoque, quanto em pontos de redespacho ou nos locais mais próximos dos clientes e, ainda, na parte de transporte, otimizando as rotas, dimensionando a frota necessária para atender essa demanda. E tudo isso alinhado com um nível de serviço desejado.

Conhecer o seu consumidor, onde eles estão, o que consomem, frequência com que compram ajudam as operações de logística a posicionarem estrategicamente seus estoques e suas equipes de coleta e entrega (last mile) de forma a garantir essa experiência. “Dados trabalhados por meio de processos e ferramentas de analytics, são tecnologias que trazem a inteligência que operação de logística precisa para ser bem-sucedida atualmente”, avalia Aranha, da GS1 Brasil.

Com dados precisos é possível planejar qual o posicionamento dos Centros de Distribuição, rotas entre CDs, dark stores e o last mile. Uma vez que essa cadeia esteja montada, ter sistemas integrados que permitam a visão geral do estoque em seus diversos pontos garante a integridade do que está sendo oferecido em suas vitrines online em tempo real. Esse é um dos grandes desafios para atender à exigência dos clientes.

Para ter integração, visibilidade total do estoque e garantir a rastreabilidade de um produto, desde que ele entre no catálogo, no CD e até chegar à casa do consumidor, passando por todos os nós da cadeia, é necessário e mandatório adotar padrões de identificação de cada item do estoque. Esse cuidado também permite saber a hora certa de se retirar um produto da vitrine devido à falta de disponibilidade.

“Uma tecnologia disponível e que apoia esse processo de integração e rastreabilidade do estoque é a identificação única dos produtos por meio dos códigos GTIN, também conhecidos no e-commerce como EAN. São representados pelos conhecidos códigos de barras, emitidos pela GS1 Brasil”, diz Aranha.

Erica, da DHL Supply Chain, também ressalta que a tecnologia, junto com a abordagem estratégica, é o principal viabilizador do redesenho e modernização das cadeias e na satisfação das expectativas dos clientes. Isso devido a vários fatores.

Primeiro, é a tecnologia que gera os dados necessários para tomar as melhores decisões e aumentar a eficiência. O rastreamento em tempo real acompanha a carga de ponta a ponta e aprimora a eficiência ao automatizar processos repetitivos, proporcionando, também, integração de sistemas entre fornecedores e parceiros, facilitando a colaboração e comunicação entre eles. Em alguns casos, ela muda paradigmas, trazendo uma nova forma de se trabalhar, como, por exemplo, usar drones para vigilância, contagem cíclica de inventário, inteligência artificial para prever demanda e otimizar a gestão de estoque que assegure o atendimento de sua demanda de mercado, reduzindo rupturas.

Charvier, da ID Logistics, completa: “novas ferramentas de aquisição e comunicação de informações são essenciais para garantir a segurança, a veracidade e a velocidade da transmissão de informações. O uso de realidade aumentada para operações de controle ou drones para inventário ou outras inovações são todas chaves tecnológicas para atender às demandas cada vez maiores dos clientes”.

Em sua análise, Novaes, da Ekantika Consultoria, recorda que, desde o início da pandemia, as redes de varejo ampliaram a digitalização de seus negócios e perceberam que havia um buraco negro na logística e no tratamento de dados. Muitas dessas empresas descobriram, assim, que não tinham um bom controle de estoques.

Com isso, em muitos lugares, já é mais rápido, por exemplo, comprar uma TV pela internet e receber em casa do que pegar o carro, ir até um shopping, escolher o modelo e esperar pela entrega.

“Para alcançar esse nível de eficiência e agilidade do varejo online, o rastreamento dos produtos deve ocorrer desde o pedido junto ao fornecedor até a entrega final, com envio do status de cada etapa ao cliente (tracking), através de SMS, WhatsApp, e-mail, etc.”

Hoje, prossegue o sócio da Ekantika Consultoria, com a competição mais acirrada no varejo online, a ciência de dados passa a estar no centro dos negócios, até mesmo para pequenas redes no interior do país.

É certo que empresas de todos os portes estão investindo cada vez mais em tecnologia, e isso não é segredo. Mas, para aquelas que dependem da cadeia de suprimentos para fazer com que produtos cheguem aos consumidores, a digitalização se tornou imprescindível. 

E as expectativas estão em todos os players envolvidos, desde a indústria até o consumidor final, que hoje acompanha, se não todos, quase todos os passos do processo, desde o momento que o produto é adquirido até a porta de sua casa. 

“Ou seja, a transparência é esperada em todas as fases do processo, das matérias-primas ao varejo. Como resultado de mais informação, hoje os agentes da cadeia esperam que seus provedores de logística adotem uma abordagem completa para o atendimento ao cliente, fornecendo insights, orientação estratégica e uma ampla gama de recursos”, diz Jacquin, da project44.

O diretor da especialidade de transporte de e-commerce do SETCESP também diz que a tecnologia sempre vai desempenhar um papel importantíssimo em todos os processos.

Chatbot com respostas automáticas e humanizadas, bases de dados inteligentes que consigam prever os comportamentos dos entregadores e clientes, esteiras automáticas para fazer o inbound e outbound de forma muito rápida e Cross Docking são apenas algumas das ferramentas necessárias para acertar esses processos desde a cadeia de abastecimento até às exigências para com os clientes, diz Juliani.

Tecnologia nos CDs

Já falando sobre o que considerar na aplicação da tecnologia de ponta nos Centros de Distribuição e o custo disto, Erica, da DHL Supply Chain, afirma que é importante avaliar as necessidades de negócio antes de implementar qualquer tecnologia e identificar aquelas que podem de fato melhorar a eficiência e produtividade. Ter o monitoramento digital de cada etapa em tempo real é o primeiro passo.

O segundo é ter sistemas capazes de consolidar e analisar estes dados. Seguindo, há a questão da automação total ou parcial de alguns processos. Ai, partimos para as inovações mais disruptivas, cuja uma alternativa para sua viabilização é fazer parcerias com startups. Isso envolve considerar o custo de aquisição, instalação, manutenção e atualização da tecnologia, bem como o impacto que ela terá na eficiência, produtividade, treinamento de equipe e satisfação do cliente. Alguns investimentos em tecnologia de ponta podem ser elevados no curto prazo, mas os benefícios de longo prazo, como maior eficiência, redução de custos e melhoria da satisfação do cliente, podem compensar esses custos, diz a vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da DHL Supply Chain.

Novaes, da Ekantika Consultoria, lembra que os CDs estão passando por uma revolução no seu conceito dia após dia. Antigamente eram grandes áreas para armazenamento de grandes volumes, sem tanta precisão nos controles de localização, qualidade, data de validade, etc. de cada SKU. Além disso, normalmente suas cargas eram direcionadas para lojas que faziam o atendimento final ao cliente e “arredondavam” as falhas existentes na cadeia.

Hoje, como forma de diferencial competitivo, percebeu-se que em muitos casos poderiam compor carga e entregar direto ao cliente final sem ter que passar por uma loja. Para isso muitos deles estão se transformando em centros de agilidade e consolidação de cargas ou têm em parceria pequenas áreas de Cross Docking, somente consolidando as cargas perto do cliente final para conseguir atender uma enorme diversidade de SKUs com foco na velocidade e precisão na entrega, pois os clientes estão cada vez mais exigentes, impacientes e menos fiéis a fornecedores e marcas.

“E nesse sentido, a automação/digitalização de processos e atividades tem se tornado imprescindível. Cada metro economizado no deslocamento de um produto é dinheiro na mesa, cada espaço preenchido em um palete ou no fechamento de uma carga se torna um diferencial com a concorrência, e nem se pode pensar em entregar um produto ou quantidade errada ao cliente”, acentua o sócio da Ekantika Consultoria. E completa: para acompanhar essa revolução do varejo, é preciso contar com o desenvolvimento e a implementação de soluções digitais, baseadas em ciência de dados e inteligência artificial.

A aplicação de tecnologia faz parte de um Centro de Distribuição de sucesso, diz, agora, Angela, da TOTVS. “CDs automatizados e eficientes se beneficiam de melhor gestão de estoque, menos custos com mão de obra e despachos imediatos, atendendo as demandas de velocidade do novo consumidor.”

Hoje existem, ainda segundo a diretora de produtos de Logística da TOTVS, soluções que ajudam no front, em tarefas como facilitar o recebimento de produtos ou a visualização transparente dos itens armazenados, possibilitando um olhar macro sobre a situação do CD, reduzindo os riscos e otimizando os processos logísticos.

Softwares que capacitem operações automatizadas, centralizem o controle das operações e integrem os dados também são parte de uma estrutura de sucesso em um Centro de Distribuição. Com tecnologia é possível fazer o gerenciamento de todo o armazém, a gestão de frotas, além de outras funcionalidades que auxiliam em todos os processos.

Sem tecnologia

Como visto, a tecnologia é essencial em todo o processo logístico. Aí fica a pergunta: não fazer uso da tecnologia, hoje, implica em que?

Jessica, da Bebida na Porta, responde com uma lista: não ter o controle de toda a cadeia do negócio; correr o risco de não conseguir entender ou diagnosticar falhas e melhorias (implicando em queima de dinheiro); não se tornar um negócio seguro de se escalar; correr o risco de não oferecer aquilo que a que se propôs, seja no modelo B2B ou B2C; estar vulnerável a controles desorganizados; ter os dados dispersos ou até perdidos (dados devem ser usados como base para decisões internas estratégicas); dependendo do negócio, perder a oportunidade de rentabilizar informações como perfil de consumo, comportamento por região, comportamento de carrinho, entre outros.  “Essa pergunta teria conteúdo para um livro de muitas páginas, mas espero ter levantado pontos que ajudem como reflexão inicial para um tema que deve ser abordado como um valor/pilar do negócio”, completa a CEO da Bebida na Porta.

Alejandro Bagnati, diretor de Gestão de Projetos da ID Logistics, também destaca que, não buscar aplicar tecnologia na logística, como também em qualquer tipo de negócio, implica no uso indevido (ineficaz) de recursos e o risco maior de probabilidade de erros operacionais, tendo como consequência o impacto (aumento) nos custos, menor competitividade perante a concorrência e insatisfação do cliente.

“Sobretudo, implica em perda de ganhos de escala com um consequente aumento do custo operacional e aumento do tempo de roteirização nos CDs, além do aumento de erros operacionais. Basicamente, não ter tecnologia nessas operações é ficar atrás e não evoluir perante o mercado”, acrescenta Juliani, do SETCESP.

Erica, da DHL Supply Chain, também considera fundamental a aplicação da tecnologia na logística, e que a falta dela pode implicar em uma série de desafios e limitações para as empresas de competirem no mercado atual, como perder competitividade no curto prazo por ineficiência operacional e colocar o negócio em risco no longo prazo por dificuldade de atender as demandas dos clientes que esperam conveniência, velocidade e transparência na entrega dos serviços logísticos. “A diferença de eficiência é muito grande e tende a crescer ainda mais nos próximos anos. É importante que as empresas considerem a adoção de tecnologias apropriadas para melhorar a eficiência e visibilidade de sua operação logística.”

Sendo direto, Jancikic, da Coupa Software, diz que não fazer uso da tecnologia na logística impacta diretamente na perda de vendas e perenidade dos negócios.

Se não atender as exigências dos clientes, seja com prazo, custo e de uma maneira eficiente, ele irá buscar outro fornecedor. Cada vez mais quem usar a tecnologia a seu favor, alinhado com um nível de atendimento exigido pelos clientes, sairá na frente. “Sem tecnologia, não consigo atender às demandas e, ainda, reagir rapidamente às variáveis do mercado, como a covid-19, guerra da Ucrânia e, até mesmo, em situações com duração menor, como a greve dos caminhoneiros.”

Com ferramentas tecnológicas no conceito do “clone digital” – prossegue Jancikic – podemos simular essas situações reais de uma forma quase que imediata e reagindo de maneira a reduzir ou eliminar possíveis impactos em custo e atendimento. Podemos também simular novas demandas, estratégias de investimento/crescimento de ponta a ponta de uma forma mais eficiente.

“Resumindo, sem o uso tecnologia é a diferença entre viver ou morrer no mundo dos negócios atualmente.”

Jacquin, da project44, também alerta que, com um cenário cada vez mais competitivo, não há muito espaço para improviso, ou achismos. E a tecnologia substitui isso com dados confiáveis. Uma das questões que a tecnologia resolve é o excesso de estoque. Até pode parecer um “bom problema”, particularmente para os varejistas que passaram anos lidando com baixa oferta, grandes atrasos e contêineres presos. No entanto, tentar resolver interrupções com grande quantidade de estoque pode causar problemas no balanço. 

Por que isso acontece? O aumento dos custos e dos níveis de estoque enfraquece as margens de lucro. Por sua vez, isso impacta negativamente o fluxo de caixa. Então, o mais importante é ser inteligente, muito mais do que ser grande no que se refere a estoques, Centros de Distribuição e cumprimento de prazos.

O vice-presidente para América Latina da project44 prossegue: “a falta de tecnologia faz, também, com que operemos sem nos atentarmos para padrões de consumo. Algo que a Inteligência Artificial detecta bem ao analisar milhões de informações em um átimo de segundo”. 

Também na opinião de Angela, da TOTVS, não fazer uso da tecnologia na logística implica, diretamente, em perda de produtividade, competitividade e rentabilidade. Ou seja, perda de market share, aumento de custos e uma operação insustentável a longo prazo.

“Em 2021, realizamos uma pesquisa sobre a internalização e a produtividade tecnológica das empresas do setor logístico. Segundo o Índice de Produtividade Tecnológica (IPT) de Logística, estudo realizado pela TOTVS em parceria com a H2R Pesquisas Avançadas, o segmento registrou uma média de 0,38 pontos – em uma escala de 0 a 1 –, reforçando um cenário de baixa internalização e aproveitamento tecnológico nas operações. O estudo identificou que há empresas que ainda não adotam sistemas especializados de gestão e ainda mantêm o controle se suas operações no papel e nas planilhas. Analisando em detalhe os Prestadores de Serviços Logísticos, o estudo identificou que 11% das empresas não possuem sistemas para gestão de compras, enquanto 9% não automatizaram o faturamento e 5% sequer possuem sistema para gestão financeira.”

A digitalização da operação não é uma ação pontual, mas sim uma série de modernizações que podem ser feitas em toda a cadeia logística visando a eficiência operacional. Diversos fatores impactam nesse quesito, como organização e controle de processos, gestão de custos, gestão de frotas etc. Por isso, é imprescindível que as empresas invistam em tecnologias para aprimorar o monitoramento e a organização, proporcionando maior controle e eficiência para a operação.

“E aqui falo, por exemplo, de dispositivos tecnológicos que acompanhem os transportes, de modo a prever e organizar revisões e manutenções dos veículos, evitando possíveis prejuízos e atrasos na operação. De forma inteligente, fazer a otimização logística, entendendo qual a melhor rota (em relação a tempo, segurança, localização e custos), além do aproveitamento do espaço da carga para melhor aproveitamento dos veículos (quais volumes e dimensões de abastecimento, sem afetar a carroceria e a carga)”, completa a diretora de produtos de Logística da TOTVS.

Reinvenção da Supply Chain

Finalizando, ficam mais algumas questões: quais os fatores que mais exigem a reinvenção da Supply Chain? A que custo?

Além dos pontos já mencionados, Jancikic, da Coupa Software, adicionaria as rupturas que podem acontecer na operação. Por exemplo: covid-19, guerra na Ucrânia, hiperinflação são fatores que mudam a demanda de todos e, em muitos casos, rapidamente.

No caso da covid-19, tudo foi do dia para a noite e gerou um desafio imediato de reação de toda a cadeia logística que precisou se reinventar para atender a demanda em termos de tecnologia e operações, entre outros aspectos. “Para alguns clientes nossos, os volumes vendidos por e-commerce aumentaram mais de 300% em 2-3 meses, imagina o impacto disso em toda a malha logística?”

O Regional Vice President, Engagement Management & CSP LATAM da Coupa Software prossegue: “por conta da crise de falta de matéria-prima de alguns componentes eletrônicos e a dificuldade com a produção terceirizada em países com menor custo de mão de obra, por exemplo, já está sendo provocada a reinvenção da Supply Chain utilizando o conceito que chamamos de nearshore, de trazer esses produtos mais para próximo, justamente por algumas restrições do fluxo de abastecimento e nível de serviço exigido. Sempre temos um grande desafio”.

Também Bagnati, da ID Logistics, lembra que nos últimos três anos, “comprovamos na prática a necessidade de uma rápida adaptação da Supply Chain às novas demandas do mercado. Essas adaptações tanto tenham sido impulsionadas por mudanças no comportamento de consumo ou como pelos cenários adversos, como pandemia, guerras ou impactos climáticos. Neste contexto, a agilidade para adaptar modelos operacionais a um custo competitivo, seja como uso de tecnologia ou mudança de processos, é o fator preponderante para a reinvenção da Supply Chain”.

O normal não existe mais. “Explicando: na project44, gostamos de dizer que a noção de normalidade se tornou obsoleta nos últimos anos, com as mudanças que alteraram a política e a realidade socioeconômica que estavam estabelecidas durante algumas décadas.” 

Ainda segundo Jacquin, a Supply Chain, hoje, opera sob esse paradigma, pois enfrentaremos mudanças climáticas que tornam as condições de importações e exportações imprevisíveis. Paralelamente, outras tensões geopolíticas podem influenciar o abastecimento de produtos industrializados ou de matérias-primas.

“De nossa parte, o que podemos fazer, e o que as corporações podem fazer? Sabemos que o desempenho da cadeia de suprimentos pode nos alertar para um potencial abrandamento no desempenho econômico. Isso deixa claro como ter visibilidade logística é algo estratégico para os negócios. Com essa visibilidade, as empresas podem planejar como ajustam a produção de acordo com a demanda, caso o fluxo aumente ou diminua. Trabalhamos para melhorar a visibilidade das cadeias logísticas. As empresas ainda têm pouca visibilidade de suas próprias operações para tomarem decisões ágeis baseadas em dados. Ainda vemos muitos processos manuais ou ineficientes, completa o representante da project44.

O executivo de negócios da GS1 Brasil também salienta que o ambiente atual é muito diferente do que o de alguns anos atrás, e muito, muito mais complexo.

Os sistemas logísticos precisam estar preparados para suportar modelos de negócios com uma quantidade enorme de produtos, de diferentes vendedores, distribuídos em vários CDs ou dark stores, e tudo isso com uma série de regras fiscais dos diferentes Estados da Federação para controle. Além disso, o sistema logístico tem que garantir o SLA de entrega para não prejudicar os indicadores de performance e evitar o desgaste do cliente com o marketplace e desse com o seu vendedor.

Outro ponto – continua Aranha –, é que tudo ocorre 24 horas por dia, 7 dias por semana. O consumidor está a todo momento procurando produtos, comprando e com expectativas de receber duas horas depois, ou no mesmo dia ou no máximo no dia seguinte. Essa expectativa exigiu e exige ainda a reinvenção de todas as diferentes partes dessa cadeia. Seja o planejamento dos CDs, suas operações de coleta e entrega totalmente customizadas para a nova realidade e muito diferentes do tradicional horário comercial e dias úteis.

“Além da identificação única dos produtos, é importante também ter a identificação única de cada localização física onde esses produtos estão armazenados. Códigos como GLN (Global Location Number) apoiam a integração dessa engrenagem dentro dos sistemas de gestão, permitindo o cruzamento rápido da disponibilidade de um item em determinado local geográfico que está armazenado. Isso apoia a decisão de qual processo last mile deverá ser acionado para atender o pedido do consumidor”, completa Aranha.

Para Juliani, do SETCESP, a reinvenção da Supply Chain é exigida o tempo todo. Temos diversos segmentos sendo criados, como influencers com novos produtos; Tik Tok evoluindo como market place; estoques descentralizados; vendas cross borders mais ágeis; etc. São mudanças acontecendo de forma muito rápida. “Lembro dos eventos de 3 a 4 anos atrás em que o foco principal das empresas era o omnichannel. Hoje, quem não for omni está perdendo muito espaço no mercado.”

Por seu lado, Angela, da TOTVS, destaca que justamente essa mudança nos hábitos de consumo, a velocidade que passou a ser exigida pelo consumidor final (sobretudo por contato do e-commerce) e a flexibilidade para atender diferentes canais (físico, digital, híbrido) são os fatores que mais exigem a reinvenção da Supply Chain.

Como um elo importante da Supply Chain, a logística precisa estar preparada para acompanhar a agilidade, tanto da Indústria, quanto do varejo. Neste sentido, é preciso entender a tecnologia não como custo, mas como um verdadeiro investimento para se manter competitivo, operando com qualidade e eficiência. “Não há outro caminho.”

Erica, da DHL Supply Chain, também vê alguns fatores importantes que exigem a reinvenção da Supply Chain. Um deles é na questão do uso dos combustíveis fósseis. Há uma grande demanda por parte da sociedade e dos clientes para redução da pegada de carbono das cadeias de suprimentos, os clientes estão cada vez mais preocupados com o impacto ambiental da logística, e buscam por parceiros que adotem práticas sustentáveis em seus processos de entrega. O uso de veículos elétricos é um caminho importante, assim como a redução do uso de embalagens, mas vamos precisar ainda de outras iniciativas.

Outro ponto é na predição. “Já temos tecnologias capazes de, com base em dados, prever cenários de demanda com precisão para atender as rápidas mudanças e soluções surgindo constantemente, sendo necessário que as empresas estejam preparadas para integrar essas tecnologias em suas operações.”

Porém – continua a vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da DHL Supply Chain –, aplicar isso em larga escala não é fácil, de forma que é preciso tornar as operações logísticas cada vez mais inteligentes e digitalizadas. E sim, são necessários investimentos, mas os diversos elos da cadeia podem compartilhar os investimentos e ter um retorno em um período relativamente curto. “E, neste contexto, as empresas buscam reduzir custos e aumentar a eficiência em toda cadeia de suprimentos.”

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