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Especial 28 de fevereiro de 2023

O que esperar em um ano novo com novos governos federal e estaduais? Quais os sentimentos do setor empresarial?

A análise, nesta matéria especial, é feita no plano geral da economia e, também, mais especificamente, sob o aspecto da logística. As visões são de profissionais do segmento, além de representantes do mercado de capitais.

Ano novo, governos federal e estaduais novos. Como estão os sentimentos dos profissionais diante destas mudanças. A revista Logweb foi ouvir alguns profissionais, tanto do setor de logística, quanto de outros segmentos, além de especialistas. Veja a seguir os depoimentos.

Como representante do segmento de logística, Rafael Dantas, diretor de vendas da Asia Shipping – multinacional brasileira que atua na gestão de processos logísticos de mercadorias tanto na importação quanto na exportação, utilizando diversos modais como aéreo, marítimo e rodoviário –, vê, neste momento, que toda a América Latina está se voltando para um novo cenário político. Sendo assim, precisamos entender o quanto isso irá impactar de fato os negócios daqui para frente.

“Em minha opinião, o mercado está mais cauteloso que nunca, segurando novos projetos, investimentos e reduzindo estoque para entender as medidas que serão tomadas para a economia com o novo governo”, aponta.

Já Ana Flávia Sutil, gerente de Consumer Experience e Operações da Borzo – serviço global de intermediação de entregas expressas que permite a entrega de mercadorias de qualquer peso ou tamanho dentro da mesma cidade no mesmo dia, por meio de qualquer rota, por diferentes tipos de transporte – avalia que o setor de logística está prevendo um momento de revisão e aumento de condições trabalhistas em geral, principalmente nas categorias de base, visto que esse assunto é muito presente no discurso do novo governo.

Bruno Ackermann é gestor de fundos logístico da cy.capital, gestora de fundos imobiliários que entrou em operação com seed money da Cyrela, sócia majoritária com 85% do negócio, e gera hoje um fundo de logística e outro de crédito, que somam cerca de 500 milhões em patrimônio.

Ele diz que a empresa entende que o novo governo provavelmente vai, no primeiro momento, impulsionar o consumo, até por conta dos incentivos de Bolsa Família, aumento de salário mínimo, enfim, colocar mais dinheiro no mercado. “Então isso de certa forma deve fomentar, no curto prazo, a demanda por galpões, fomentar o setor de logística como um todo, o que é positivo.

Por outro lado, a cy.capital enxerga que o mercado de capitais está muito machucado, com juros altos, perspectivas piores da economia no médio prazo, etc. “Então, depois que a fase do consumo passar, provavelmente a conta deve vir no mercado de capitais, e ele já acaba antecipando um pouco esse movimento, então já observamos que os Caps Rates, que são o retorno que o investidor quer para investir no galpão, já estão mais altos. Por conta disto, achamos que vão ‘secar’ um pouco os investimentos em novos galpões no ano de 2023. Temos uma perspectiva de pouca transação de compra e venda de galpões, menos entregas de galpões novos ao longo deste ano, por conta das variáveis macros.”

O gestor da cy.capital também destaca que a maioria dos players do mercado está aguardando para identificar qual será o rumo do governo. Algumas direções distintas estão se desenhando com movimentos antagônicos, com sinais de medidas visando um estado maior, uma preocupação fiscal menor e, em outros momentos, com declarações de que o fiscal será respeitado. “É uma força que puxa um pouco mais para a preocupação fiscal, uma política econômica mais moderada, mais na linha do governo anterior. Então é importante entender qual dessas forças, afinal, vai ter mais influência no atual governo, e aí dependendo de qual delas vai ser, vamos ter um cenário econômico, juros mais altos ou um cenário um pouco mais estável.”

Com base em qual desses dois caminhos o país vai tomar é que vão se basear as decisões de investimento do setor privado, em todos os setores. “Mas, falando do nosso setor imobiliário, focado nas áreas de indústria e logística, achamos que esse certamente vai segurar bastante, até conseguir ter um pouco mais de clareza, de qual caminho o governo federal vai tomar.”

Iltenir Junior, diretor executivo da Qargo, transportadora digital de cargas e encomendas que se baseia na economia colaborativa e na análise de grandes quantidades de dados (Big Data), crê que o sentimento do mercado em relação ao novo governo é positivo e otimista. “A indústria está ansiosa para trabalhar com o novo governo para impulsionar o crescimento econômico e melhorar as condições de transporte no país. No entanto, ainda há preocupações quanto ao cumprimento de compromissos fiscais e a realização de reformas estruturais para apoiar o desenvolvimento da indústria. Mas, de maneira geral, o setor está animado com as oportunidades que o novo governo pode trazer.”

Pedro Janot é considerado um dos maiores nomes do ramo empresarial brasileiro, com passagem pela Azul, na qual foi presidente, Mesbla, Lojas Americanas, Richards e foi o executivo escolhido para trazer a marca espanhola Zara para o Brasil. Também atua como palestrante, mentor, conselheiro de diversas empresas e investidor.

E, segundo ele, o atual mercado financeiro tem ideias muito antigas para o Brasil, principalmente se quisermos crescimento para o futuro. Por outro lado, existe uma visão de positivismo no mercado, uma espécie de “pior não fica”. Ou seja, estava tão ruim a situação do país que agora só tende a melhorar. Esta visão positiva pode contaminar os setores, como, por exemplo, o varejo, que vem trazendo grandes desenvolvimentos desde já. Este ano, embora tenha recém-começado, de uma maneira geral, cresceu 21% sobre o mesmo período do ano passado.

“Pensando neste novo cenário para os meus investimentos e para as minhas empresas, eu estou com um pé no acelerador e outro pé no freio. São sentimentos e estratégias quase antagônicos, mas estou me preparando. Ao primeiro sinal de centelha, eu largo o pé do freio e afundo no acelerador! Esta é a abordagem que sempre usei. Porque tenho uma crença muito grande de que os problemas internos são muito maiores do que os problemas externos, na medida em que a gente foca no nosso negócio, dentro da nossa empresa, essa diferença vem rapidamente”, completa Janot.

Helcio Takeda, sócio sênior da Pezco Economics – consultoria econômica com prêmios nacionais e internacionais por suas projeções e cenários macroeconômicos e setoriais e altamente reconhecida em suas práticas de regulação de mercados, projetos de infraestrutura e análise econômica de riscos –, diz que, aparentemente, há um sentimento ambíguo do mercado com relação ao novo governo.

De um lado, expectativas de que o discurso do diálogo contribuirá na direção da pacificação do país, embora pontualmente, os discursos realizados até o momento ainda mantenham elementos da polarização presentes na campanha eleitoral.

Do outro, temores acerca da preferência pelo incremento da despesa pública (com consequente pressão sobre a carga tributária e endividamento público) e as indicações de que as reformas relevantes aprovadas desde 2016 serão revisadas piorem o ambiente de negócios e limitem a participação das fontes privadas no financiamento dos projetos de investimento.

A consequência da materialização destas intenções seria uma redução do PIB potencial, inflação acima da média do período 2017-2022 e maior endividamento público.

“A agenda do novo governo aumenta claramente os desafios para o setor privado. A preferência pela expansão do gasto público levará ao inevitável aumento do endividamento público e da carga tributária. A consequência final será maior pressão inflacionária – a inflação brasileira não convergirá para a média observada nos países emergentes – e maior exigência de prêmio de risco, encarecendo o custo do capital. Associada às intenções de revisões das reformas estruturais, a tendência é de degradação do ambiente de negócios, com implicações negativas e não desprezíveis sobre o PIB potencial do país”, lamenta Takeda.

E a logística?

Com relação às perspectivas exclusivamente de logística, Dantas, da Asia Shipping, acredita que o debate sobre nearshore será uma grande tendência em 2023. A pandemia chacoalhou o mercado de comércio exterior e fez vários players repensarem a logística internacional.

“A dependência exclusiva da China como o principal fornecedor provocou questionamentos e reacendeu a pauta de nearshore como forma de evitar a quebra da cadeia logística e garantir preços mais competitivos. Acredito que será uma grande oportunidade para a Índia, México e Sudeste Asiático. Os principais desafios são crise global, possível recessão nos Estados Unidos e na Europa, e a necessidade de integração digital e multimodal. Atualmente, o maior problema na cadeia de suprimentos é a falta de visibilidade total das informações. A Asia Shipping está trabalhando em uma nova solução para conectar todas as informações e evitar esse tipo de gargalo. A integral digital e multimodal permite uma ação preditiva e preventiva.”

Gabriela Guimarães, vice-presidente de Operações de Varejo e E-commerce da DHL Supply Chain – unidade de negócios do Grupo Deutsche Post DHL responsável pela armazenagem e distribuição de cargas – lembra que a empresa tem investimentos importantes programados até 2025 e mantêm expectativas positivas. Especialmente nos mercados de transportes, e-commerce e real estate.

As cadeias de suprimentos continuam a passar por profundas transformações e o contexto de grandes transformações aumenta a necessidade de flexibilidade e agilidade dos processos logísticos, o que acaba gerando oportunidades. “Vamos continuar investindo também em inovação e digitalização, fortalecendo a resiliência e eficiência das nossas operações.”

Iltenir Junior, da Qargo, ressalta que as perspectivas para o setor de logística são otimistas. “Acredito que a demanda por soluções de logística e transporte de cargas continuará a crescer, especialmente com o aumento da globalização e da necessidade de entregas rápidas e confiáveis. Além disso, vejo uma tendência crescente de automação e tecnologia no setor, o que pode aumentar a eficiência e a qualidade dos serviços de logística.”

Em relação ao mercado de maneira geral, o diretor executivo da Qargo diz que o sentimento é semelhante ao seu. “A maioria dos players no setor está otimista quanto às perspectivas de crescimento e à necessidade de soluções de logística e transporte de cargas. No entanto, há preocupações quanto às questões regulatórias e ao aumento dos custos logísticos, o que pode afetar a competitividade do mercado. De maneira geral, acredito que o mercado está animado com as oportunidades de crescimento e inovação neste setor.”

Para Ana Flávia, da Borzo, o mercado de entregas deve se manter em expansão, principalmente pela continuidade do bom momento visto pelas empresas de comércio eletrônico – que já fazem parte do cotidiano dos consumidores.

“Também acreditamos que mudanças importantes possam auxiliar o setor, como a abertura de negociação para logística intermunicipal quanto dentro dos próprios municípios.”

Entre outras possibilidades e tendências que a Borzo vê para esse ano de 2023 está a implementação do 5G, que pode auxiliar os motoristas a terem uma conexão de internet mais rápida e segura. “Também acompanhamos as melhorias tecnológicas do setor, atualizando e adaptando nossa plataforma com diversas funcionalidades, como monitoramento em tempo real, multientrega e outros.”

De fato, a logística continua sendo o ponto focal, em especial no varejo e mais especificamente no e-commerce, porque essas empresas têm de finalizar a jornada de compra com excelência e realizar a última milha dentro do prazo comprometido, coloca, agora, Janote. Então, o desafio é muito grande no intuito de fazer o fatiamento dessas entregas para que o cliente receba no prazo, com qualidade, segurança, conforto e encantamento, claro. “Portanto, eu não chamo de ‘a última milha’, eu gosto de chamar de ‘o último metro’, justamente para enfatizar essa proximidade com o consumidor e a necessidade de a logística trabalhar com eficiência até o fim. O último metro é a chegada à sua casa e, dessa forma, o desafio é bastante grande.”

Com relação aos desafios vistos pela Cy.capital, Ackermann diz que a empresa imagina um ano difícil – pelo mencionado anteriormente, os mercados de capitais fechados, aguardando a captação. “Provavelmente vamos ter um desafio grande, os fundos imobiliários em geral vão ter desafios grandes para captar, o capital vai ser escasso. Mas, por outro lado, vemos isso também como oportunidade. À medida que você tem menos dinheiro no mercado girando, menos interessados, menos investidores atrás de comprar novos terrenos, novos galpões, você acaba diminuindo a demanda por esse tipo de ativo.”

E o gestor de fundos continua: “Caindo a demanda você encontra boas oportunidades, principalmente de comprar um ativo com um valor mais competitivo, mais barato, do que você compraria num mercado muito grande. Aqui temos a vantagem de ter a Cyrela por trás, e estar muito bem capitalizada, então temos uma vontade de buscar oportunidades e de utilizar essa não necessidade de captação, utilizar esses recursos disponíveis aqui, para tentar fechar bons negócios durante esse ano e tentar aproveitar um pouco dessa situação, um pouco mais caótica, que eventualmente vamos ter. Os desafios são os de sempre, vamos continuar monitorando a construção, as novas tendências do mercado logístico, temas ESG, então acho que os desafios do dia a dia serão os mesmos”.

Finalizando, Frederico Turolla, sócio sênior da Pezco Economics, avalia que, do lado positivo, o mercado de logística ainda sentirá os benefícios advindos das amplas reformas microeconômicas e dos efeitos dos diversos programas de concessões de ativos de infraestrutura dos governos federal e subnacionais, que foram realizados nos últimos anos, pois esses efeitos são diluídos no tempo.

Porém, esses ganhos tendem a arrefecer e, para alguns segmentos, podem até se reverter já a partir dos próximos meses.  “A nova composição de governo, fortemente orientada a objetivos políticos e condicionada por uma orientação geral que não privilegia abordagens pró-mercado, tende também a produzir estratégias com resultado mais seletivo, beneficiando grupos específicos. Um dos grupos beneficiados são os exportadores de commodities que podem se beneficiar do enfraquecimento do Real brasileiro.”

Adicionalmente, continua o sócio sênior da Pezco Economics, a deterioração do ambiente de negócios no país traz grandes desafios às empresas do setor de logística, que deverão lidar com novas pressões de custos de vários tipos, ao mesmo tempo em que experimentarão redução no ritmo de crescimento da demanda, além de incertezas regulatórias.

O ano de 2023 traz um ambiente desafiador que exigirá cautela e atenção das empresas de logística. As estratégias serão mais conservadoras e os orçamentos de investimento de capital no setor deverão ser cuidadosamente avaliados frente ao custo de capital mais elevado e à incerteza nas tendências das estratégicas macroeconômicas e setoriais do país.

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