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Conteúdo 14 de setembro de 2010

Os desafios da logística urbana

AUTORES

Pablo Guerrero
Natural da Colômbia, é especialista em transporte do BID. Atuou como consultor do Banco Mundial e tem mais de 10 anos de experiência em empresas de consultoria internacionais.

Reinaldo Fioravanti
Consultor em Logística e Transporte no BID em Washington, DC. É membro do LALT – Laboratório de Logística e Transporte da UNICAMP. Tem mais de 10 anos de experiência em empresas de consultoria e tecnologia internacionais.

Elcio Grassia
Atual presidente do Capítulo América Latina do Supply Chain Council, tem 30 anos de experiência em Operações, Supply Chain e Logística. De maio de 2007 a dezembro de 2009 foi responsável pelo Desenvolvimento de Negócios na América Latina da Havi Global Solutions, empresa especializada em serviços de Supply Chain.

Segundo nota publicada pelo BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento (A Logística de Cargas na América Latina e no Caribe: uma agenda para melhorar seu desempenho), que realizou um diagnóstico da logística na América Latina, alguns dos principais problemas da logística no Brasil são:

–    Excessiva dependência do transporte rodoviário;
–    Inspeções aduaneiras excessivamente lentas e burocráticas;
–    Malha viária frágil (restrições de capacidade, manutenção deficiente, necessidade de ampliação);
–    Distorções dos fluxos logísticos por questões fiscais;
–    Ineficiência portuária;
–    Roubo de carga;
–    Interferência do transporte de cargas com fluxos urbanos – falta de anéis viários.

Muitos avanços têm sido feitos nas últimas décadas na melhoria da eficiência logística da perspectiva do setor privado visando reduzir o custo logístico total e melhorar a competitividade através de estratégias eficientes de distribuição e armazenagem e gestão da cadeia de suprimentos de maneira integrada.

Por parte do setor público, o desenvolvimento das infraestruturas básicas (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos) e especializadas (terminais multimodais, plataformas logísticas, Centros de Distribuição e portos secos) faz parte da agenda do país como resposta à necessidade de maior competitividade.

Uma parte da logística que tem crescido em importância, no entanto, seja pela mudança do padrão de consumo ou pelos problemas de mobilidade nas grandes cidades, é a distribuição de produtos nas áreas urbanas, a chamada logística urbana ou logística da última milha. A logística urbana influencia diretamente no ambiente urbano, uma vez que compete com o transporte público e privado pelas mesmas infraestruturas e tem amplificado as externalidades geradas, como a poluição, o congestionamento e o risco de acidentes.

Um estudo do CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals demonstrou que a última milha representa em média 28% do custo total de transporte (variando de 13% a 75%) – poucos fatores representam mais a "cara" da empresa para o cliente que a entrega (ainda tratada como "apêndice"). Enfim, a última milha parece ser, também, a última fronteira para a Supply Chain na busca de otimização de custos e níveis de serviço.

Do ponto de vista público, o transporte comercial em ambiente urbano representa aproximadamente 30% do volume de tráfego nas grandes cidades e entre 20% e 35% das emissões de gases de efeito estufa, além de representar entre 15% e 20% dos acidentes gerados nas redes viárias urbanas.

Os principais problemas enfrentados pelo setor privado na logística da última milha estão relacionados à mudança do padrão de serviço exigido nas grandes cidades, como: crescimento do e-commerce e consumo de perecíveis com distribuição diária e fracionamento de entregas com menos espaços de armazenagem. A interação entre os veículos comerciais e os privados e de transporte público coletivo gera congestionamentos, dificuldade de acesso, falta de locais designados para carga e descarga ou ocupação desregrada dos mesmos. E, finalmente, as políticas públicas visando melhorar a mobilidade urbana com "janelas de entrega" cada vez menores restringem a mobilidade das mercadorias, que ao final afetam a desenvolvimento comercial. Não há o interesse, a "liberdade" para fazer a entrega em qualquer momento do dia, mas é necessária uma visão conjunta, impulsionando desde o setor público e o privado para desenvolver políticas comerciais e de logística urbana ao nível das nossas cidades.

As políticas públicas impactam diretamente o desempenho do setor privado pelo simples fato que quase toda regulamentação contraria a otimização pura da logística empresarial. Operações cooperadas podem reduzir custos, mas colocam em risco o diferencial competitivo, nem sempre o que funciona numa cidade serve para outra, e a criação de regras com base em "modelos" sem uma pré-avaliação da aplicabilidade local gera grandes riscos. Isso leva a uma série de conflitos de interesse entre as mesmas e os responsáveis pelo planejamento urbano, como demonstrado na tabela 1.

Como resposta a esses desafios, a logística urbana requer uma integração entre o setor público e o privado, visando à otimização da logística da cidade com uma visão integrada, buscando o equilíbrio e a sustentabilidade econômica, social e ambiental.

Alguns modelos de gestão da logística urbana têm sido implantados com sucesso em países desenvolvidos, principalmente da Europa. Citamos alguns exemplos:

–    Entregas Noturnas: Apesar do acréscimo de custos trabalhistas, permite grandes ganhos de produtividade. O desafio com os clientes é a disponibilização de pessoal para recebimento ou confiança no entregador.

–    Corredores Urbanos de Distribuição: Corredores cortando a cidade em direção a certos destinos principais (sem parada ou transbordo), aliviando a pressão sobre vias urbanas comuns. Viável quando existe fluxo de cargas constante e permanente no percurso, sobrecarregando vias. Permite, além da melhoria no tráfego, desenvolver atividades imobiliárias ao longo do corredor, o que atrai ainda maior investimento e pode se converter em arranjos produtivos de serviço logísticos quando tiver uma boa qualidade de infraestrutura pública.

–    Centros ou Plataformas Urbanas de Distribuição: Concentrar geradores de tráfego; veículos destinados à região urbana entregam nos CDs, consolidando cargas para redistribuição otimizada; particularmente aplicável a empresas sem logística coordenada ou visando à consolidação de volume.

A logística urbana traz complexidades que exigem um planejamento estratégico da perspectiva pública e privada, visando alinhar os objetivos de eficiência logística e desenvolvimento econômico com fatores que, cada vez, mais guiaram o planejamento das grandes cidades, como a questão da poluição e da mobilidade urbana.

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