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Top do Transporte 15 de agosto de 2017

Presidente da NTC&Logística: “O transporte é uma atividade estratégica que defendemos com unhas e dentes”

Reeleito presidente da NTC&Logística (Fone: 61 3322.3133) para a gestão 2017-2019, o empresário José Hélio Fernandes, também diretor administrativo da Transportes Gerais Botafogo, concedeu uma entrevista exclusiva para a revista Logweb, na qual faz uma análise do TRC – Transporte Rodoviário de Cargas no país, apontando os problemas enfrentados e o que a entidade está fazendo para mitiga-los. Ele também aproveita para destacar a importância do Prêmio Top do Transporte, realizado pelas revistas Logweb e Frota&Cia., que este ano chega a sua 11ª edição.

Logweb – Como você analisa a atual situação do TRC?
Fernandes – Ainda vivemos uma grande dificuldade porque a economia continua bastante lenta e o impacto no setor de transportes é imediato. A crise vem desde 2014 e, em 2017, parecia que seria o início da retomada, com a queda da inflação e dos juros, mas os problemas políticos ainda são muito grandes. Acredito que, primeiramente, é preciso resolver os problemas políticos para depois resolver os econômicos. Estávamos bastante animados aguardando que o PIB deste ano fosse pelo menos 0, não -3 ou -3,5, porque significaria que não houve queda, mas ainda vemos muita incerteza. As reformas trabalhista e previdenciária são muito importantes para melhorar a situação, mas tenho receio se vão mesmo acontecer. Por outro lado, não deixamos de ser um pouco otimistas. Nosso país é muito grande e já caímos o máximo possível, daqui para frente tem de haver recuperação, ninguém consegue parar o Brasil.
Logweb – Afetadas pela crise, o que as empresas do setor fizeram para continuar no mercado?
Fernandes – Muitas fecharam, sobreviveram aquelas que já estavam mais bem estruturadas, com um padrão de gestão melhor, que realmente perceberam com maior rapidez a profundidade que a crise viria e tomaram medidas para sanar os problemas. Algumas delas encolheram, ficando do tamanho que o mercado exigia e poderia suportar. Quem ficou com uma estrutura muito grande e pesada evidentemente teve mais dificuldades. Mas as mais ágeis na tomada de decisão realmente acabaram se sobressaindo e estão passando pela crise mais fortalecidas. Na hora que a economia retomar, elas também estarão mais bem preparadas para exercer suas atividades e novamente sair na frente.

Logweb – Quais são as perspectivas?
Fernandes – Esperamos que as reformas previdenciária e trabalhista aconteçam porque são estruturais. E também acompanhamos o andamento do Projeto de Lei nº 4860/2016 – Marco Regulatório do Transporte Rodoviário de Cargas para ver de que forma ele pode contribuir para o regramento do setor e fazer com que o governo resolva os problemas e volte a investir em infraestrutura. Também lutamos muito contra o roubo de cargas, que tem se agravado bastante, principalmente no Rio de Janeiro, onde está quase fugindo do controle.

Logweb – Pode-se dizer, então, que o roubo de cargas é o maior problema enfrentado pelo segmento?
Fernandes – É um dos maiores, pois influencia no custo de toda a operação. Tanto é que está sendo cobrada pelas empresas do TRC a taxa EMEX, de emergência excepcional, para serviços de transportes no Rio de Janeiro, a fim de cobrir as alíquotas de seguro e escolta. Mesmo assim, os roubos continuam acontecendo. Outro grande problema é de infraestrutura. Neste começo de ano, cerca de três mil caminhões ficaram atolados na BR-163, que liga Cuiabá, em Mato Grosso, a Santarém, no Paraná, devido às chuvas. É preciso de muito investimento para melhorar a infraestrutura logística do país.

Logweb – Como essas dificuldades poderiam ser superadas?
Fernandes – Sobre o roubo de cargas, o governo deveria investir em segurança. As empresas de transporte têm adotado as providências que podem: veículos rastreados e escoltados, uso de GPS… todos os tipos de prevenção. Mas quando o roubo acontece mesmo assim, elas não têm poder de polícia. O fato é que tem de se combater, principalmente, a receptação. Não adianta focar no operador do roubo, é preciso chegar na fonte, onde a carga é distribuída, senão é como enxugar gelo. Hoje se rouba de tudo: medicamentos, eletroeletrônicos, alimentos, tecidos, pneus, cigarros… Realmente é algo que tomou uma proporção muito grande. Com relação à infraestrutura, notamos que concessões feitas no ano passado ainda não deslancharam, como da própria BR-163 no Mato Grosso e da BR-040, que vai de Brasília ao Rio de Janeiro. Também há as que não foram concedidas, como a BR-163 no Pará, corredor importante devido ao complexo portuário em Miritituba, no Rio Tapajós, que tem uma capacidade muito grande de escoar grãos, mas que está em péssimas condições. Os investimentos têm de ser feitos, inclusive em portos, para melhorar nossa logística.

Logweb – Que ações a NTC& Logística tem tomado com relação a esses assuntos?
Fernandes – Nós acompanhamos todos os projetos relacionados à atividade e apresentamos propostas ao governo, cobrando soluções que possam contribuir para melhorar as condições do TRC no Brasil. Pelo 17º ano consecutivo promovemos, em maio último, um dia todo de palestras na Câmara dos Deputados, levando para dentro do Congresso Nacional todos os temas importantes relativos ao setor para debater com os deputados e senadores.
Logweb – Os políticos são receptivos?
Fernandes – São, mas a grande dificuldade é que no Brasil tudo é muito demorado, as coisas só acontecem no tempo do governo e não da iniciativa privada. No entanto, não podemos parar, temos de continuar insistindo e cobrando, porque às vezes os projetos caminham, mesmo que não seja no tempo que gostaríamos.

Logweb – Como a entidade avalia a relação embarcador/transportador hoje?
Fernandes – Não é que se possa chamar de uma relação conflituosa, mas uma relação de capital x trabalho, com um tentando pagar menos e outro tentando receber mais. E sabemos que as empresas do TRC têm mania de falar que o frete no Brasil inviabiliza porque é rodoviário. Mas nossas pesquisas revelam que o frete, às vezes, é caro para quem paga e barato para quem recebe, em função das condições logísticas que temos, dos problemas de infraestrutura, da enorme burocracia, da carga tributária elevadíssima e de uma série de outros fatores.

Logweb – Essa relação foi piorando durante os anos ou sempre foi assim?
Fernandes – Acredito que sempre foi assim, a competitividade no mundo todo chegou a um nível muito grande, fazendo com que cada um defenda o seu próprio negócio. Não há nada de errado nisso, mas os dois lados precisam conhecer muito bem o seu limite. O embarcador não pode tentar impor um preço que propicie até insegurança no transporte dos produtos. Por outro lado, o transportador precisa saber até onde chegar para não inviabilizar o negócio, pois um descuido pode gerar uma situação irreversível.

Logweb – Qual o papel da NTC na melhoria do relacionamento embarcador-transportador?
Fernandes – Para orientar os transportadores realizamos duas vezes por ano o CONET&Intersindical – Conselho Nacional de Estudos em Transporte, Custos, Tarifas e Mercado. A última edição aconteceu de 3 a 6 de agosto, no Rio de Janeiro. Nosso departamento técnico realiza pesquisas no Brasil inteiro para saber o preço do frete praticado por região e estado, para analisar a defasagem que existe e outros indicadores. Por exemplo, em uma determinada rota, o custo verificado é X, o transportador tem, então, um ponto de partida para fazer sua negociação. Fica a critério da empresa qual preço irá praticar, mas ela recebe orientação bastante segura para tomar sua decisão. Temos procurado também dialogar com as entidades que representam os embarcadores, porque é uma via de mão dupla: quem produz precisa transportar, e quem transporta precisa de quem produz. Portanto, é preciso achar um nível de negociação que propicie a convivência dos dois lados, senão fica difícil.

Reconhecimento do mercado
O presidente da NTC&Logística também avalia o prêmio Top do Transporte, que aponta as melhores transportadoras em vários segmentos através do voto do próprio embarcador. Segundo ele, a premiação é muito importante, servindo de estímulo ao mercado. “Os concorrentes querem saber o que as vencedoras fizeram para conquistar o troféu. De certa forma, o prêmio nos permite analisar o que estamos fazendo e como podemos nos aperfeiçoar. E para quem ganha é uma responsabilidade vencer no ano seguinte, para mostrar que manteve o mesmo padrão”, conta.
Fernandes diz que o Top do Transporte também é importante para os embarcadores, que levam em consideração premiações como esta para contratar. “É aquela história: quem tem preocupação com o processo de fabricação, também precisa pensar em escolher uma empresa de qualidade para manusear e transportar seus produtos, que entregue no prazo necessário.”
Ele não tem dúvidas de que o embarcador faz uma avaliação bastante criteriosa e observa todos os fatores que levaram as empresas a conquistar o prêmio, afinal, para ganhar, é preciso ter boas notas em um conjunto de competências, não em apenas um item, sem falar que são os próprios clientes que avaliam seus fornecedores de transporte.
“Gostaria de parabenizar toda a equipe pela iniciativa de realizar o Prêmio Top do Transporte. Todo mundo fica de olho, querendo saber o resultado, e isso é muito bom para a nossa atividade. Sou apaixonado pelo transporte, que é indispensável na vida de qualquer um. Afinal, nada do que vemos em farmácias, restaurantes, lojas de confecção ou outros comércios nasceu lá. Cada item veio de um lugar diferente. No final, está tudo ali reunido perfeitamente para atender o público. Por isso é uma atividade estratégica muito importante que nós, da NTC, procuramos defender com unhas e dentes”, finaliza.

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