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Logística Setorial 7 de maio de 2021

Transporte internacional: Vários fatores, inclusive no país de destino da carga, impõem condições especiais para operacionalizar

Um dos principais desafios ao se operar neste segmento está relacionado às diferenças na legislação de transporte entre os países. Outros incluem os trâmites em fronteira e o balanço de carga entre os países, além dos documentos exigidos.

 

Realizar o transporte rodoviário internacional de carga envolve inúmeros desafios, como a falta de constância devido à variação cambial, além de legislação e política, já que o mercado está sempre em constantes mudanças, fazendo com que não haja estabilidade.

A documentação correta para esse tipo de operação, como o permiso internacional fornecido pela ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres no Brasil, e o cadastro dessa permissão junto ao órgão referente do país exterior pretendido, além do seguro internacional, são fatores básicos que precisam estar atualizados e ser portados pelos motoristas para que não haja contratempos.

O sócio-administrador da Rufatto Transportes, André Rufatto, que especializou sua transportadora em transportes internacionais, acredita que as principais particularidades dessa operação sejam a burocracia exigida para cada tipo de operação e a cultura, pois cada país tem sua particularidade e seus costumes que acabam afetando o dia a dia da empresa e dos funcionários.

“Cada país tem suas normas e políticas. Um exemplo clássico é o fato de que nenhum país do Mercosul, além do Brasil, aceita os bitrens. Sem uma permissão específica, a entrada desses veículos não é permitida. Outro exemplo está no tipo de sinalização e de acessórios de segurança que o veículo deve possuir de acordo com a lei de trânsito do país exterior”, completa Rufatto.

Márcio Medina, diretor Comercial da Tora, também pondera que o principal desafio está relacionado às diferenças na legislação de transporte entre os países.

No Brasil, por exemplo, é permitido transitar com veículos com altura de até 4,40 metros. No Mercosul, por outro lado, o limite é de 4,30 metros. “Esse fato traz o desafio de termos que operar com veículos dedicados para os fluxos internacionais, reduzindo a oferta e a flexibilidade.”

Os trâmites em fronteira são outro ponto importante. Atualmente, o processo de desembaraço de carga entre os países está um pouco mais facilitado; entretanto, em alguns casos, ainda há a demora na liberação dos veículos em fronteira, reduzindo a produtividade dos ativos e novamente impactando na oneração de custos no transporte.

Outro ponto importante está relacionado ao balanço de carga entre os países. Do Brasil para os outros países do Mercosul, o volume de carga exportada é superior ao volume importado. Por conta disso, os transportadores precisam planejar bem o modelo de atendimento e os recursos utilizados para evitar o retorno de caminhões vazios. “Destaco, ainda, a variação cambial e as diferenças inflacionárias em cada país. Como os preços, normalmente, são cotados em dólar, qualquer variação de câmbio pode representar perdas consideráveis no processo no momento de conversão das divisas para a moeda local”, também comenta o diretor Comercial da Tora.

Por fim, os volumes transportados entre os países dependem diretamente da política de balança comercial adotada por cada um de seus governos. O reflexo disso é a variação constante na demanda por transporte, trazendo o desafio de replanejamento frequente de frota e de recursos pelos transportadores.

“Para minimizar estes problemas, inicialmente, nos preocupamos em disponibilizar veículos mais flexíveis. A Tora, por exemplo, disponibiliza carretas diversas com o objetivo de se adequar às mudanças de demanda e atender os clientes da melhor maneira possível: siders retos, rebaixados, top siders, etc. Além disso, para oferecer mais flexibilidade e possibilidade de adequações durante o processo de transporte, disponibilizamos uma estrutura para armazenagem e transbordo de carga em Uruguaiana, RS. Com isso, conseguimos realizar parte do trajeto com veículos adequados ao trânsito no Brasil, com a complementação da entrega com veículos adequados ao trânsito no Mercosul. Isso eleva a nossa capacidade de transporte em momentos de pico de demanda e, assim, conseguimos oferecer uma solução mais completa para os embarcadores”, completa Medina.

 

Mais desafios

Estes são apenas alguns dos desafios enfrentados no transporte internacional. A estes, Sérgio Gabardo, sócio-proprietário da Transportes Gabardo, acrescenta o idioma, o funcionamento da aduana, como agem os policiais e ter certeza da rota a ser seguida pelos motoristas como desafios em suas operações. “Nas nossas atividades, cada operação é completamente estudada com antecipação, entendida e verificada para que o nosso equipamento e a carga na rota que seguirão estejam 100% de acordo com as exigências para obtermos êxito.”

David Fernando Gomes, coordenador de Transporte da CSI Cargo Logística Integral, acrescenta a busca pelo menor Transit Time entre os países para atender com agilidade as necessidades dos seus clientes. Para minimizar este problema, os colaborados da empresa são treinados para buscar sempre a forma mais rápida e segura para agilizar o processo documental e aduaneiro.

Especificidades do ambiente de negócios em cada país, tramitação de documentação, situação econômica e as condições de infraestrutura de cada território são desafios apontados por Araujo Klock, gerente de Vendas e Marketing, e Gerson Guedes de Moura, executivo Mercosul, da TW Transportes e Logística. Para superar estes impasses, os representantes da empresa relacionam a transparência nas negociações e a agilidade nos processos. “A TW Transportes tem como padrão fazer a antecipação de documentos e licenças, o que evita que o caminhão fique parado nas fronteiras. Assim, a carga é rapidamente liberada e entregue ao cliente, sempre no prazo estipulado”, aponta Klock.

Falando pela Veloce Logística – que possui habilitação da Receita Federal para operar suas mercadorias sob o regime especial de trânsito aduaneiro –, Júlio César Lucas, supervisor Comercial e de Projetos, afirma que hoje têm como um dos maiores desafios o equilíbrio de malha, rumo sul e norte, que gera custos adicionais ao processo e também morosidade nas fronteiras.

A empresa minimiza este problema através de um mapeamento de processos e volumes completos e, ainda, com uma prospecção direcionada conforme a operação demanda, resultando, assim, em uma malha equalizada.

Outros desafios surgem quando se fala no transporte global. Por exemplo, Fabio Licata, Brazil Branch Manager & Head Of Commercial da AGS Logistics, diz que, neste momento, devido à pandemia, há indisponibilidade de voos e navios. “Sem dúvida alguma, estamos enfrentando uma adversidade globalizada inédita em nosso mercado. Esses desafios estão sendo enfrentados no mundo todo e percebidos nos fóruns internacionais.”

Licata diz que, para minimizar este problema, estão buscando antecipar as necessidades dos seus clientes. “Desde o início da pandemia, estamos trabalhando de forma proativa junto às companhias aéreas e marítimas. Efetuamos a contratação de ‘slots fixos’ em algumas rotas e aumentamos a demandas das nossas consolidadas.”

 

Pandemia

A pandemia do novo coronavírus também dificultou os procedimentos no transporte de cargas em 2020, praticamente parando o Brasil. O faturamento das transportadoras e dos frotistas despencou no primeiro trimestre, ao mesmo tempo em que as fábricas paralisaram a produção de caminhões.

Para André, da Rufatto, atuar neste segmento durante a pandemia foi desafiador, pois cada país lidou de uma maneira diferente. “O fato de os motoristas estarem em constante movimento gerava uma cautela nas fábricas, o que resultou em piores condições de trabalho para os motoristas. Na Rufatto, passamos por muitas dificuldades com veículos parados em barreiras sanitárias locais, que por muitas vezes levavam dias até que a fiscalização confirmasse que se tratava de serviço essencial para liberar a passagem.”

Na maior parte do tempo, as fronteiras permaneceram abertas apenas para motoristas de veículos de carga. Atualmente, a maioria delas já está com a passagem liberada para todos, sendo que algumas exigem a apresentação obrigatória de teste recente para Covid-19 para que o profissional possa comprovar que não está infectado.

De fato, Licata, da AGS Logistics, também aponta que, com a pandemia, a instabilidade logística tornou-se ainda mais contundente, tanto no que se refere às necessidades dos clientes, quanto à oferta de voos e viagens marítimas. E, como era de se esperar, atrelado a esta instabilidade, houve a inflação de todos os serviços agregados à cadeia logística. “Alem de afetar drasticamente a demanda por transporte internacional, a pandemia trouxe o aumento da concorrência”, completa Gomes, da CSI Cargo.

Além de terem que adotar todos os cuidados para garantir a saúde dos motoristas dos seus caminhões e do time que está diretamente ligado à operação, Medina, da Tora, diz que precisaram se adequar às mudanças ocorridas nos trâmites de fronteira.

Se, por um lado, se reduziu o contato direto com os fiscais de alfândega, por outro se acelerou a automação dos processos de liberação de carga. Além disso, logo depois do início da pandemia, como forma de reduzir os custos, os embarcadores decidiram reduzir o estoque de matéria- -prima e produto acabado no processo produtivo.

“Com a rápida retomada da demanda – completa o diretor comercial da Tora –, as transportadoras tiveram que ajustar rapidamente o recurso disponibilizado com o intuito de reduzir o tempo de viagem entre os países como forma de manter as linhas de produção abastecidas. Atualmente, a demanda por carga emergencial é muito maior do que antes da pandemia.”

Neste contexto, Sérgio, da Gabardo, avalia que houve diversas mudanças trazidas pela pandemia, principalmente as exigências sanitárias – cada país criou as suas –, e os transportadores devem entendê-las e segui-las perfeitamente.

Pelo seu lado, Nadir Moreno, UPS Brazil Country Manager Director, reforça que a pandemia mudou a forma como muitas empresas conduziam seus negócios e algumas delas precisaram mudar seus modelos operacionais para atender às novas demandas do mercado.

A necessidade do transporte rápido e de reagir com agilidade foi algo que notaram. Além disso, antes do início da pandemia, muitas dessas empresas dependiam de serviços de transporte menos urgentes, como o uso de serviços de carga, para transportar seus produtos acabados.

Durante a pandemia, essas empresas aproveitaram o amplo portfólio e a experiência de empresas de logística para ajudá-las a encontrar novas maneiras econômicas de enviar seus produtos com mais rapidez, a fim de atender às necessidades de seus clientes.

“Com certeza, a pandemia de Covid-19 trouxe um impacto imenso no mundo e notamos isso não apenas na logística, mas em quase todos os segmentos, uns mais e outros menos. Adaptações no dia-a-dia e novas formas de olhar e de fazer o que já era rotineiro começaram a engajar grande parte das empresas, que foram obrigadas a se reinventar, e aquele famoso ‘novo normal’ entrou em ação.”

Na Veloce – continua Lucas – foi adotado o trabalho remoto de grande parte do setor administrativo, o que foi realmente um desafio, já que não fazia parte de cultura da empresa. Aconteceram mudanças bruscas em toda a forma de comunicação, principalmente entre os colaboradores, trazendo também certa exaustão pelo aumento significativo de reuniões e mensagens no dia-a-dia.

“Entretanto, pudemos perceber também a facilidade de prospecção com aqueles clientes antes resistentes às reuniões presenciais, agora nos atendendo mais facilmente, já que no formato online tudo se torna mais dinâmico e objetivo. E claro, em um momento pandêmico, para o segmento logístico o aumento de volume se tornou ainda mais perceptível”, completa o supervisor Comercial e Projetos da Veloce.

 

Exigências

Pelo exposto, além dos desafios, e por eles mesmos, são várias as exigências que se fazem para as empresas que atuam no transporte internacional.

Lucas, da Veloce, por exemplo, diz que existe uma série de exigências regulamentares, seja de medidas a serem tomadas ou documentos a serem emitidos.

Para evitar problemas com a fiscalização, é necessário portar os documentos essenciais. Trazer ou enviar mercadorias para outros países direciona o processo a determinadas burocracias, já que cada país precisa controlar suas entradas e saídas de produtos. Antes de tudo, é necessário saber que ao não portar os documentos exigidos, a carga pode ficar ociosa. Isso acontece porque mercadorias que não portarem os documentos necessários são classificadas como irregulares, portanto, não são permitidas passarem a fronteira.

Neste contexto, o supervisor Comercial e Projetos da Veloce lembra que existem três documentos básicos quando o assunto é transporte internacional. Eles permitem uma expressiva redução de custos na armazenagem e, além disso, possibilitam o desembaraço aduaneiro e o pagamento dos tributos da importação.

CRT – O Conhecimento de Transporte é não somente um documento de porte obrigatório no transporte internacional, como também um dos mais importantes. Ele é o responsável por identificar as mercadorias, reunindo os dados essenciais para a operação, de acordo com o que traz a legislação.

MIC – Manifesto Internacional de Cargas – Esse é o documento único necessário para apresentar na Alfândega, permitindo que os produtos possam ser transportados. Ao portar um desses, as mercadorias que estão em transporte são naturalizadas automaticamente para a nacionalidade do país que elas acabam de cruzar. Nesse sentido, se houver qualquer imprevisto ou perda, elas serão tratadas como um produto nacional, de acordo com o país que se localizarem.

MIC/DTA – Manifesto Internacional de Cargas e Declaração de Trânsito Aduaneiro – Caso o transportador opte, o Manifesto de Carga pode ser combinado ao DTA, no momento de transporte aduaneiro, em que é conferida apenas a documentação e os lacres da carga, sem vistoriá-la na fronteira. Quando há uma intervenção do DTA, neste caso, ao ultrapassar uma divisa a mercadoria continua tendo sua nacionalidade original, sendo considerada pelo país que ela reside como internacional.

“No segmento de transportes se exige os chamados permisos internacionais, que são permissões para cruzar as fronteiras, uma autorização especial para o transporte. Já os clientes, de forma geral, precisam estar cadastrados no radar da receita federal”, completa Moura, da TW Transportes.

Gomes, da CSI Cargo, também lembra que a empresa de transporte precisa estar sempre atualizada com as legislações dos países que atende, apontar os possíveis problemas que podem ocorrer no processo antecipadamente e informar seu cliente, o que diminui o custo e atrasos na chegada da mercadoria.

Além das licenças específicas exigidas por cada país, os chamados permisos de trânsito, Medina, da Tora, considera que as empresas devam possuir: ativos adequados às legislações de cada país; criação de infraestrutura de apoio dos dois lados da fronteira (oficinas mecânicas, fornecedores, bases operacionais); bom conhecimento das diferenças nas legislações tributárias e trabalhistas de cada país, além de corpo comercial dos dois lados da fronteira para garantir a utilização plena dos ativos alocados.

“A necessidade dos clientes atuais de transportarem com rapidez e de serem mais ágeis exige que as empresas de logística estejam preparadas com uma rede ampla e flexível que lhes permitam atender às suas necessidades no momento em que mais precisam. Por esse ser um ano sem precedentes, nossa rede flexível permitiu que nos ajustássemos a volumes inesperados e continuássemos a manter nossos compromissos de entrega para os nossos clientes, apesar dos desafios da pandemia”, completa Nadir, da UPS Brazil.

Expertise é a exigência máxima apontada por Sérgio, da Gabardo. Desde a negociação, quando é contratado o transporte, até a entrega, todos os processos e colaboradores envolvidos em cada etapa devem estar completamente treinados e aptos para que o cliente seja bem atendido e satisfeito.

 

O que considerar

Pela complexidade da operação nesta modalidade de transporte, são vários os fatores que os embarcadores devem considerar ao contratarem uma empresa para o transporte internacional.

Por exemplo, histórico da empresa no mercado, seus projetos, suas métricas, valores e estrutura operacional. “Num momento instável como este que estamos vivendo, é importante contar com a experiência e o conhecimento técnico do seu parceiro”, aponta Licata, da AGS Logistics.

Para Gomes, da CSI Cargo, é preciso buscar entender a estrutura disponível que essa empresa pode oferecer para o cliente – algumas oferecem uma vasta estrutura para a armazenagem de produtos e, com isso, caso surja uma necessidade de parar uma exportação, ela poderá contar com o auxílio logístico do seu transportador. Outro ponto a ser notado é o sistema de informação que o transportador disponibiliza para seus clientes, já que o principal item para diminuir custos é a informação rápida e correta.

“Normalmente, o que os embarcadores costumam avaliar primeiro é o preço praticado por cada transportador. Busca-se o menor custo. Entretanto, o transporte internacional requer conhecimentos específicos, conhecimentos esses que são adquiridos com o tempo. Por isso, acredito que os embarcadores devem se preocupar com a experiência e a capacidade de atendimento que cada transportador oferece. Quando comento capacidade de atendimento, não me refiro apenas ao número de ativos disponibilizados, mas também à capacidade de dar solução aos problemas durante o processo de transporte, como os relacionados, por exemplo, aos trâmites de fronteira”, destaca Medina, da Tora.

Sérgio, da Gabardo, também relaciona a capacidade operacional, a idoneidade da empresa, se a mesma está em dia com todos os seguros nacionais e internacionais, se possui e opera com certificações de normas internacionais e que a empresa tenha know how para lidar em todas as situações possíveis.

São vários fatores que os clientes devem analisar – diz agora Klock, da TW Transportes. Os principais seriam a confiabilidade da empresa, a segurança da carga (empresas que oferecem seguro de carga), e o serviço de acompanhamento da carga com a informação atualizada e constante.

“É um combo de custo, capacidade, tempo, segurança, ou seja, consegue-se destacar diversos critérios, como: custo, confiabilidade, flexibilidade, disponibilidade, capacidade, transit time, sinistro, integridade, perda, distância, dentre outros”, finaliza Lucas, da Veloce.

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