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Conteúdo 25 de novembro de 2008

As empresas no pós-crise

Agora que a crise se instalou de vez no cenário produtivo real do país é hora de refletir sobre o futuro. Vamos começar com uma reflexão sobre a primeira conseqüência que é a redução de demanda.

Será que não há mais necessidade para as pessoas consumirem bens ou serviços? Obviamente que as pessoas continuam precisando, umas mais do que outras, de muitos produtos. Na verdade, talvez a demanda esteja crescente, pois o número de gente no mundo só tem crescido nos últimos anos, e como a maior parte é composta de pobres, todos são carentes de praticamente tudo, inclusive de alimentos.

Então, a questão é puramente de disponibilidade de crédito. O crédito nada mais é do que a disponibilização de recursos financeiros de alguém que os tem em sobra para outro que não os tem, mas deles precisa para comprar algo que deseja ou necessita.

Como não há contato direto entre esses dois “alguéns”,  entra no meio o banco que pega daquele que mais tem e distribui, a seu critério, a quem o deseja. Cobra para fazer essa intermediação retendo grande parte dos juros (penalidade paga pelo tomador do dinheiro) cobrados sobre o empréstimo, isto é, não o remetendo integralmente ao possuidor dos recursos. Por ganhar dinheiro nessas operações, e em todas as outras, que resumidamente podem ser enquadradas como semelhantes, pagam impostos.

O que deu errado foi que a ganância dos bancos os impeliu a emprestar mais do que tinham. Gosto de discutir economia na sua forma mais rudimentar, excluindo, portanto, termos exclusivos da área.

Logo, o câncer de toda essa engenharia econômico-financeira é o sistema bancário.

O que mais me espanta é que os governos socorrem os bancos, quando deveriam socorrer a sociedade onde eles atuam.

Deveriam transformar todos os bancos em sociedades sem fins lucrativos. Afinal o que produzem os bancos?

Uma vez, não me lembro onde, li a seguinte frase: “A pobreza de um país se mede pela riqueza de seus bancos”, ou seja, bancos ricos estão em países pobres. Não que esta seja uma verdade absoluta, mas dá uma dimensão de quanto os bancos absorvem da sociedade.

Até bancos bem estruturados, saudáveis, com grandes margens de lucro, com lucros crescentes ano a ano, como os bancos brasileiros, ou os estrangeiros aqui instalados, quando se vêm diante de crises na economia real não partem em seu socorro, mesmo após receberem injeção de dinheiro dos governos. Repentinamente aumentam as taxas de juros sobre empréstimos. Nem descontos de duplicatas, garantidas por grandes compradores (processo conhecido como vendedor),

escapam de terem seus custos aumentados.

Dá para se entender que aumenta a aversão ao risco. Mas tratar o risco no espaço abaixo da média é dizer que todos seus clientes são bandidos, caloteiros, mal intencionados, até prova em contrário.

Em todas as crises que meus anos de vida permitiram sofrer junto, e em todas as outras lidas de livros e contadas nas academias, sempre os bancos reaparecem mais lucrativos.

Então vão sofrer as empresas dos outros segmentos de mercado e os seus consumidores.

Vem então a segunda conseqüência da crise no mundo real: demissões em massa. É sobre esse movimento que gostaria de me deter agora.
 
As empresas, em geral, também tratam a dificuldade usando a média. Dessa forma, decisões sobre demissões caem uniformemente sobre todos os departamentos, que devem demitir em média alguma percentagem do total de seu pessoal. Decisão sábia que é explorada com a indicação de que não se quer prejudicar um departamento mais que o outro.

O que tem acontecido, entretanto, com as empresas localizadas no Brasil é que, ao contrário dos bancos, elas não saem mais fortalecidas depois das crises. Elas saem melhor em termos financeiros que dão bons resultados a curto e a médio prazos. Entretanto, a longo prazo só tem perdido.

Somem das empresas, a cada crise, as melhores cabeças, em geral aquelas mais bem pagas.

Resta o operacional, a turma importante do dia-a-dia, mas a empresa perde a capacidade de pensar. Isso, em longo prazo, só pode implicar em queda da capacidade de resposta e de novos desenvolvimentos que irão atender ao mercado no futuro. Perde também na inteligência administrativa, o que incidirá na perda de competitividade para seus concorrentes. Isso poderia, de alguma maneira, ser minimizado se as empresas contratassem consultores especializados, como ocorre em outros países desenvolvidos.

Acontece que, em bom número de empresas de médio e de grande porte, a alta gerencia se julga capaz de resolver todos os problemas, enquanto que nas de pequeno porte sequer é entendida a vantagem da ajuda de fora , isto é dos consultores, e , de olho apenas no resultado financeiro, trabalham no esquema deixar ficar como está para ver como é que fica.

Perdem todos , mas especialmente perde o nosso país na medida que, mais e mais, passa a ser suprido de bens por indústrias de outros países, enquanto  do lado dos serviços a qualidade cai.

Por falta de hábito ou tradição, ou por não encontrar apoio governamental específico, as empresas também não estreitam seus contatos com as universidades.

Logo, pode se questionar como a empresa brasileira poderá ganhar capacidade de competição internacional.

Isso é preocupante pois quanto antagônico ao desejo de todos em ter uma população mais educada e bem treinada, preferencialmente com nível universitário. Para trabalhar onde? Para trabalhar em que função? Fazendo que tarefas? Aquelas puramente operacionais?

Falta uma política nacional de desenvolvimento industrial e sua adequação simultânea às atividades acadêmicas, caso contrário o fracasso será ainda maior daqui a alguns anos.

 

Fonte: PortoGente – www.portogente.com.br

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