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Conteúdo 2 de janeiro de 2009

Cautela e caldo de galinha em 2009

A Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) divulgou o seu relatório sobre as perspectivas para a região (2009 Economic Outlook for Latin America).

Vale a pena ver o que a CEPAL pensa a respeito do ano que vem para a região e o Brasil. Primeiro, as boas notícias. Em boa parte da América Latina houve progresso nos fundamentos econômicos, aí incluídos a drástica queda na inflação endêmica que sempre assolou a região e a retomada do crescimento na maioria dos países. As mudanças nos regimes cambiais – e, em alguns casos como o do Brasil, a introdução de uma certa responsabilidade fiscal – criaram as pré-condições para que fosse possível aproveitar a excelente maré da economia mundial, enquanto durou.

Tão ou mais importante que estar habilitada a tirar proveito do crescimento explosivo da economia mundial nos últimos cinco anos é a maior resistência da região a crises. Essa maior resistência foi propiciada pelas reformas iniciadas, no caso brasileiro, no finzinho da década de noventa e mantidas nas três últimas administrações.

Se o leitor achar que estou falando somente do Brasil enganou-se por pouco, já que as mesmas conclusões aplicam-se também ao Chile e, em parte, ao Peru. No nosso caso, a combinação de superávits primários, do regime de câmbio flutuante e do sistema de metas de inflação vem propiciando um recorde de inflações baixas. Não víamos nada assim desde a primeira metade do século passado e é meritória a manutenção dessa política econômica.

Contudo, nem tudo são flores. A combinação do câmbio flutuante com metas de inflação baixas produz taxas de juros maiores nos países que seguem essa estratégia, relativamente aos países desenvolvidos que não a seguem. É claro também que a responsabilidade fiscal é relativa aqui e mais absoluta lá. À medida que nos tornarmos mais responsáveis, menor será a carga sobre o Banco Central para manter juros elevados. Algo que ainda não está no horizonte.

As informações contidas no relatório da CEPAL também permitem algumas conclusões interessantes sobre onde estamos e para onde podemos estar indo. Uma maneira simples de visualizar a situação atual é comparar, para os países da região, os seus saldos fiscais e do balanço de pagamentos. Nos anos de 2006 e 2007, seis países apresentavam simultaneamente superávit fiscal e superávit no balanço de pagamentos: Bolívia, Venezuela, Equador, Paraguai, Argentina e Peru. Desses, os primeiros quatro são exportadores de energia, beneficiados pelo extraordinário aumento nos preços dos energéticos no mercado mundial. Argentina e Peru são exportadores de commodities e como tal também beneficiados pela alta de preços desses produtos.

Já as estimativas da CEPAL para 2008 mostram um quadro menos positivo. Com a exceção da Bolívia, que segue olimpicamente em posição ainda melhor segundo os indicadores escolhidos, todos os demais países devem apresentar um desempenho pior, de acordo com o indicador escolhido. Além da Bolívia, somente o Equador deve permanecer entre os países com o duplo superávit fiscal e do balanço de pagamentos. O Brasil, que em 2006 e 2007 apresentou um déficit fiscal da ordem de 3% do PIB e um pequeno saldo positivo no balanço de pagamentos, deve, de acordo com a previsão da CEPAL, continuar em 2008 apresentando um déficit fiscal similar ao do período anterior e agora um déficit no balanço de pagamentos da ordem de 2% do PIB.

Não é um cenário catastrófico tendo em vista a deterioração da economia mundial no último trimestre deste ano. Mas nos serve de advertência. O Chile, sempre conservador em sua política econômica, deve apresentar um superávit fiscal de quase 7% do PIB este ano. Trata-se de medida cautelar, já que os mercados externos são muito importantes para a economia chilena. E lá, diferentemente daqui, segue-se uma regrinha simples de política econômica: quando o ano é muito bom guarda-se um pouco para os anos maus, que inevitavelmente surgem algum dia. Quem sabe não será possível aproveitar essa experiência e nos tornarmos ainda mais resistentes às crises do que estamos agora.

Cautela e caldo de galinha, são os meus votos.

 

Fonte: Diário do Comércio – www.dcomercio.com.br

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