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Conteúdo 26 de novembro de 2008

Coragem gaúcha

"Mas ba, tchê!" – A expressão típica dos gaúchos, os habitantes do estado brasileiro do Rio Grande do Sul, significando mais ou menos "Não é importante!", reflete bem o ânimo de um grupo de empresários daquela região, em relação à grande crise econômica mundial. Eles pensam a longo prazo, e de seus cenários consta a instalação de um pólo de construção naval na cidade portuária de Rio Grande, quase na fronteira com o Uruguai e bem no centro do Mercado Comum do Sul (Mercosul), que abrange também a quase vizinha Argentina e outros países. Os ambiciosos planos de expansão, anunciados poucos dias atrás, permitirão até 2012 empregar mais 20 mil trabalhadores.

A construtora WTorre não se preocupa nem com a redução nos preços por barril de petróleo ocorrida nas últimas semanas, já que tal fator afeta apenas os negócios em curto prazo, e as empresas petrolíferas precisam trabalhar com cenários bem mais ampliados: navio não é mercadoria que está na prateleira da loja à espera do cliente.

Os planos anunciados: uma fábrica de cascos (ERG2) na continuação do dique seco (ERG1) e um condomínio de empresas petrolíferas e da área de navegação, empregando cerca de cinco mil trabalhadores. E, até 2012, com a construção de plataformas petrolíferas no dique seco, é possível atingir a meta de 20 mil funcionários, conforme declarações de Walter Torre Jr. em reunião havida na Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul.

Aliás, a meta inicial era apenas ampliar o dique seco, que seria alugado à Petrobrás nos dez anos iniciais –, resultando numa capacidade de processamento de aço desse pólo naval da ordem de 1,8 mil toneladas. Os novos projetos mudam radicalmente esse quadro, pois agora se pretende atingir 6 mil toneladas, o que torna tais instalações um dos maiores estaleiros do mundo.

A idéia da empresa, aliás, é não depender apenas da empresa-mãe, a Petrobrás, por maior que seja ela, mas ter como clientes empresas de petróleo globais e outros mercados, como o de navios de longo curso transportadores de minério.

E a construção da primeira plataforma petrolífera licitada, a P-55, começa antes mesmo da conclusão do dique seco, previsto para o segundo semestre de 2009, já que os trabalhos iniciais, menos complexos, podem ser feitos nas oficinas atuais.

Os investimentos serão de até R$ 900 milhões no ERG1 e R$ 500 milhões nos ERG2 e ERG3 (totalizando algo como US$ 600 milhões a US$ 700 milhões, dependendo da variação cambial dessa instável moeda chamada dólar norte-americano…) e incluem um bairro residencial com capacidade para até 6 mil residências pré-fabricadas (alguém ouviu falar de crise imobiliária por lá?). Uma nova empresa (a ser anunciada no início de 2009, resultante da fusão da divisão de óleo e gás da WTorre com um estaleiro asiático) ficará encarregada das operações do segundo estaleiro.

Os gaúchos – que têm no Brasil uma imagem semelhante à dos cow-boys estadunidenses, acostumados a montar no cavalo e dominar no laço os bois desgarrados – parecem dispostos a fazer o mesmo com a crise mundial: vão montar nela, transformá-la em oportunidade e laçar as oportunidades desgarradas.

Crise? Que crise? Isso é coisa lá do presidente Bush e de Wall Street! No pampa gaúcho não tem muros (walls) nem ruas (streets), e bolsa é apenas aquela peça da indumentária onde se guarda o chimarrão e a faca do churrasco!
 

Carlos Pimentel Mendes é jornalista e edita o site Novo Milênio: pimentel@pimentel.jor.br

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