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Conteúdo 24 de março de 2009

Custo Brasil (4)

Se parece não haver relação direta entre logística de transportes e a falta de apoio aos inventores, ela entretanto existe e é bem real. Cito um caso ocorrido apenas dias atrás, quando um empresário pernambucano entrou em contato com este colunista para obter informações sobre um sistema que facilitaria a descarga de contêineres com produtos agrícolas a granel. Nos Estados Unidos, existe há décadas um sistema que na Sea Containers ganhou o nome de Tip Kit. Talvez no Brasil exista algo similar, mas essa informação não chegou a quem dela precisa. Um negócio está sendo perdido (porque o eventual fornecedor não é encontrável), e outro está sendo prejudicado (pois poderia ser mais eficiente), porque a informação não circulou. E, se não forem encontradas alternativas nacionais, divisas talvez sejam gastas na obtenção do equipamento estrangeiro, por compra ou locação.

Ou seja, o aperfeiçoamento da logística de transportes deste agronegócio depende de um produto demandado pelo mercado mas que não encontra fornecedores nacionais, e talvez precise considerar o uso de um equipamento estrangeiro, com custos em outra moeda. E é apenas um detalhe, entre os muitos exemplos de como é dificultada a montagem de operações logísticas pela falta de informações e de apoio oficial ao desenvolvimento de soluções nacionais… e sua divulgação.

Também se pode falar em Custo Brasil quando se lembra que mesmo a parcela ínfima de recursos aplicados em pesquisa no país, em comparação com outras nações, resulta em estudos acadêmicos apresentados por universidades públicas brasileiras em seminários multilingües realizados também no Brasil, mas nos quais o idioma português é desestimulado e chega a ser expressamente proibido. Isso, num país em que português é o idioma oficial e menos de 1% da população tem fluência em outros idiomas. Assim, mesmo quando o erário nacional financia alguma produção de conhecimentos pelos pesquisadores brasileiros, eles beneficiam mais os estrangeiros do que os nacionais. Os estrangeiros lêem tais estudos em sua língua nativa, os brasileiros precisam desfazer a tradução para entender o que é ensinado…

E nem falemos dos "missionários religiosos" estrangeiros que circulam pela Amazônia coletando clandestinamente informações, entre os indígenas, sobre a biodiversidade e como ela pode ser aproveitada pelos grandes laboratórios internacionais…

A baixa escolaridade é outro componente da incompetência formadora do Custo Brasil. Com grande número dos chamados analfabetos funcionais – aqueles que, mesmo sabendo rudimentos de leitura e escrita, são incapazes de interpretar o que leram e usar as informações assim obtidas -, o Brasil tem portanto uma força de trabalho despreparada para as necessidades atuais, e uma população incapaz de consumir produtos destinados a pessoas mais instruídas. Pessoas que até possuem aparelhos sofisticados e operam computadores, mas não utilizam todos os recursos desses equipamentos e programas, por sequer saberem para que servem. Mesmo a elite intelectual do país – cerca de 1% da população – obtém diploma universitário mas comete erros graves em suas profissões, por não ter preparo suficiente para exercê-las.

Sem conhecimento, sem cultura, sem informação, é difícil fazer planejamentos a longo prazo, implantar procedimentos de racionalização de custos. Resultado: o brasileiro trabalha, e muito, mas produz pouco, e mal. Muito do que produz é perdido por estar fora dos padrões demandados ou é desperdiçado por falta de gerenciamento eficiente desses esforços. Por exemplo, acaba de ser noticiado que 100 mil frangos morreram num só dia em uma granja de Goiás, por falha no fornecimento da energia elétrica que permitiria ventilar o local e amenizar o calor reinante. De uma forma ou de outra, é mais um item que será debitado no Custo Brasil…

 

Carlos Pimentel Mendes é jornalista e edita o site Novo Milênio (www.novomilenio.inf.br): pimentel@pimentel.jor.br

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