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Conteúdo 16 de março de 2009

Deixem o consumidor tirar o Brasil do atoleiro

Ex post facto, depois que o Comitê de Política Monetária do BC promoveu a maior queda na taxa Selic em mais de cinco anos, as reações foram as esperadas. A decisão do Copom não agradou a ninguém. Estarão todos certos em seus muxoxos?

O senhor presidente, de acordo com o noticiário, teria dito que demorou demais a queda nos juros. Um líder sindical dos patrões, usineiro em seu estado de origem, mostrou-se frustrado com a falta de "ousadia" da autoridade monetária. Secundaram suas críticas as dos líderes sindicais que, em coro, afirmaram que a redução dos juros chegou tarde demais.

A questão é: tarde demais para quê? Para evitar que fôssemos atingidos pela "marolinha"? Mas como uma queda nos juros impediria que a demanda externa se retraísse, acompanhando a queda nos PIBs em quase todo o mundo?

Se a redução dos juros tivesse ocorridono último trimestre do ano passado se teria evitado o efeito da queda dos preços das commodities, que tanto dano está causando às nossas exportações? Teria impedido a queda no emprego nos setores fortemente dependentes do mercado externo, e que se seguiu à retração das exportações?

Não é por aí, certamente. Talvez os críticos da redução "tardia e pouco ousada" na Selic tenham em mente outra coisa. Provavelmente supõem que o violento abalo sobre a produção industrial poderia ter sido atenuado e os efeitos sobre o emprego suavizado.

Infelizmente, também aqui os críticos erram. Primeiro, porque os grandes projetos de investimento são financiados pelo BNDES a taxas que independem do valor da Selic. Segundo, porque a queda na Selic não produz os mesmos efeitos proporcionais sobre as taxas de empréstimos bancárias. Alguém imagina que as taxas de empréstimos cairão 12%, acompanhando a queda percentual da taxa Selic? Meu cartão de crédito reduzirá a taxa que me cobra se financio o saldo devedor de 110% em 13 pontos percentuais?

Não é preciso ser um grande teórico da economia para saber o que pode combater a recessão e produzir efeitos imediatos sobre a demanda e a produção: cortar impostos. Isso mesmo: cortar impostos.

A teoria é simples e facilmente comprovável. Com mais dinheiro no bolso, o consumidor compra; com menos dinheiro, deixa de comprar. Simples assim. Só os PhDs que assessoram o governo e as entidades sindicais de trabalhadores e empresários não veem o óbvio.

A prova do pudim acaba de ser feita pelo próprio governo. Os feirões de fim de semana em São Paulo e em todo o País se encarregaram de reduzir os estoques depois que o governo diminuiu os impostos sobre os automóveis. A produção foi retomada. Muitos trabalhadores mantiveram seus empregos. Em decorrência, venderam mais os supermercados e o comércio em geral. Como a segunda corrente de opinião desejava, foi atenuado o efeito do choque externo à economia brasileira.

O choque recessivo teria sido ainda mais atenuado se a queda nos impostos também se aplicasse ao setor têxtil, à cadeia alimentar, aos combustíveis, ao comércio em geral. Mais pessoas seriam atingidas se tivesse sido reduzido o recolhimento do imposto de renda na fonte dos assalariados.

Os líderes sindicais de trabalhadores e patrões, que agora reclamam que a queda dos juros veio "tarde demais", ainda não reclamaram que os cortes nos gastos correntes do governo não acontecem nunca. E o próprio governo, que se ressente do "atraso" na queda dos juros, não manifestou até agora -com a recessão à porta- qualquer pressa em cortar despesas e impostos. Porque é disso que estamos precisando. De nada serve o governo ficar sentado no meio fio se lamuriando com a queda "tardia" da taxa de juros.

É claro que o governo não reduz os impostos porque insiste em aumentar, todos os anos, a carga tributária que incide sobre os cidadãos. Ao criar despesas permanentes, como o aumento dos servidores em um ano recessivo, não pode cortar impostos. Ao promover o maior festival assistencialista da história desse país, o governo não pode cortar impostos. Por coerência, não deveria lamentar que o Copom seja o responsável pelo atoleiro em que estamos nos metendo.

O que de fato precisamos é de um Copom fiscal, que em uma hora como essa corte despesas correntes e impostos. Com dinheiro no bolso, o próprio consumidor tira o país do caminho da recessão. Simples assim.

Roberto Fendt é economista

Fonte: Diário do Comércio – www.dcomercio.com.br

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