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Conteúdo 7 de agosto de 2008

Dinheiro virando fumaça

Que o prefeito da maior cidade brasileira se preocupe com a poluição do ar, ampliada pelo fenômeno invernal conhecido como "inversão atmosférica" (em que os poluentes ficam na camada mais baixa em vez de subirem para as nuvens), é compreensível.

Que o trânsito de veículos através da cidade de São Paulo, em demanda do interior paulista ou do Porto de Santos, é um problema nacional, que não pode ser totalmente resolvido em termos locais, também é compreensível.

O que não se compreende é que as autoridades, sabendo de todas as implicações econômicas das medidas adotadas, insistam em onerar a economia brasileira com um acréscimo de até 30% no custo do transporte das mercadorias, por conta de um rodízio de caminhões.

Imagine o ilustre leitor recém-chegado de Marte ou Júpiter que na principal cidade do Brasil os veículos com determinada placa só podem circular em certos dias da semana! A empresa compra um caminhão e só pode usá-lo por alguns dias, tendo que amortizar nesses dias todas as despesas de compra e manutenção do veículo, ou seja, tendo que encarecer os fretes para compensar o menor uso. Como se já não bastasse o aumento nos preços dos combustíveis, onerando os fretes e provavelmente já pesando nos índices de inflação, não só de alimentos mas de todos os bens transportáveis.

Atuais congestionamentos são vistos porque faltaram as obras para que o trânsito pesado deixe de passar pela área urbana.

Como essa empresa não pode ficar parada nos dias em que o veículo é proibido de circular, e precisa fazer as entregas programadas, a solução é comprar outro caminhão, a ser registrado com outros números de emplacamento, de forma a circular com ele nos dias em que o primeiro estiver impedido. Ou seja, duplica-se a frota de caminhões, com metade deles estacionados. Bela estratégia de planejamento público!

Não vamos discutir aqui se certas empresas conseguem um jeito de trocar as placas do caminhão para adequá-las à norma do rodízio. É ilegal, mas sabe-se que existe. Uma vez ou outra alguém é apanhado nessa prática. Ou seja, mais uma vez, a norma fica inócua, chegando quase a estimular formas de burlá-la. E talvez algumas empresas consigam fazer um esforço logístico de enviar seus veículos impedidos para fazer transportes fora da área do rodízio paulistano, o que é solução inteligente mas nem sempre aplicável. A não ser que os clientes também se mudem para fora dessa área, o que será um azar para a economia e arrecadação de impostos nessa megalópole…

De qualquer forma, seja mantendo veículos parados, seja redestinando-os a outras regiões, seja duplicando a frota ou por qualquer outra forma, existe um acréscimo de custos, pelo tempo perdido, pelo investimento não amortizado, pela necessidade de readequação logística, que terá de ser pago por alguém. Pelo País, evidentemente.

E tudo isso por quê? Porque faltaram as obras, de há muito necessárias e previstas, para que o trânsito pesado das estradas de rodagem e ferrovias deixe de passar pela área urbana. Obras que não deveriam ficar ao sabor de conveniências políticas, de tentativas de facilitar o trânsito para o Porto do Rio de Janeiro (como a não construção dos trechos que fariam a ligação com Santos), por exemplo.

O resultado de todos esses lobbies foi um só: as obras não aconteceram no tempo devido, e hoje todos pagam a conta. Como se o acréscimo de custos, a produtos que já encontram resistência nos mercados externos por conta do câmbio elevado da moeda Real, nada significasse, ou melhor, nada afetasse a Balança de Comércio Exterior do País. De um país que precisa ter condições competitivas para enfrentar um mercado internacional cada vez mais competitivo, onde cada centavo de Euro pesa nas decisões…
 

* Carlos Pimentel Mendes é jornalista e edita o site Novo Milênio: pimentel@pimentel.jor.br

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