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Conteúdo 4 de novembro de 2008

Dragagem viabiliza os portos

Mais uma vez, a opinião de Carlos Pimentel torna-se o mote da nossa opinião sobre a dragagem. E, desta vez, de uma maneira extremamente informal e curiosa.

Estávamos em uma reunião familiar, onde os "causos" tomam conta dos assuntos, quando de repente surgiu o tema de pescarias e piracemas. Não sou pescador, embora tenha participado de várias pescarias e por essa razão tenho minhas histórias que revelo vez ou outra. Deixo claro que recomenda-se a grafia história tanto no sentido de ciência histórica quanto no de natureza de ficção, conto popular e demais acepções (a gosto do cliente).

Assim, a primeira que contei foi a da pescaria com guarda-chuva. Não acreditaram. Mas eu vi, disse. Foi no rio Piracicaba, nos idos anos sessenta, no famoso "salto", cuja pronuncia certa é "sarto", na época da piracema, e eu vi um camarada com o guarda-chuva de cabeça para baixo aparando o peixe que ao tentar subir a cachoeira ficava fora d’água, caindo para trás. Numa conversa dessas, não se pode perder o folego. Então emendei de pronto a pescaria de trobobó, ou bundada, da qual participei no rio Mogi Guassú.

Nessa altura, já notava o interesse dos ouvintes. Contei-lhes, então, que essa pescaria era feita somente a noite, com dois ou três companheiros, utilizando-se apenas um lençol e uma lanterna e do seguinte modo: aproava-se a pequena embarcação no sentido da corrente, desligando o motor de popa. Um dos parceiros era responsável em manter o barco no meio do rio, os outros dois esticavam o lençol longitudinalmente ao barco, entre a proa e a popa, e um destes iluminava o lençol. Aí, começavam a bater com os pés no fundo do barco e com a bunda nos bancos. Os peixes, assustados com o barulho e atraídos pela iluminação, pulavam em direção ao lençol e caíam dentro do barco.

O pessoal me olhou com aquele ar de riso dos incrédulos. Foi nesse momento que eu falei do perigo desse tipo de pescaria, no caso de existir um cardume que pela quantidade pudesse afundar o barco. A risada foi geral e gratificante e, para dar maior veracidade, afirmei que só não acredita quem nunca tivesse visto os botos, em grupos, entrando no estuário de Santos, até Cubatão, cercando e abatendo os peixes de suas dietas.

Não vi e nem vou ver esses botos por causa da dragagem do Porto, disse um dos presentes. E outro retrucou. É a dragagem o grande problema do Porto.

Bom, a partir daí pedi a palavra alegando a minha prerrogativa de DNA (data de nascimento antiga) e comecei: a dragagem não é problema e nem nunca foi. Na verdade, a dragagem é solução! Se não houvesse dragagem não haveria profundidades adequadas aos navios e, portanto, não haveria porto.
 
Não pensem que o Porto de Santos está implantado em local errado ou equivocado. Não está. Era e é aqui o melhor lugar do litoral de São Paulo para esse fim. No entanto, para mantê-lo em condições de atender as atuais demandas da navegação, torna-se indispensável os serviços de dragagem, cujos custos são perfeitamente absorvíveis pelo transporte marítimo.

– É, mas ela é a responsável pela poluição que acabou com os peixes, a biota e os botos em Santos – reafirma o primeiro.

Ôpa, entramos nos aspectos ecológicos. Mas também não é bem assim. Concordo que a dragagem acaba com os "bentos" nas áreas dragadas, mas não com a "biota" como um todo. Por outro lado, a dragagem, em si, não é poluente. Pode remanejar agentes poluentes, e, nesse caso, pode também ser mais solução do que problema em áreas poluídas.

Historicamente, os portos sempre foram implantados em áreas sensíveis ecologicamente. Se, por um longo período, ocorria prejuizos ao meio ambiente, o aumento da quantidade e do tamanho dos navios que demandam ao Porto deflagrou uma aceleração desse processo. O barulho das hélices dos navios provocam resultados semelhantes à pesca de bundada, que eu contei. Lembram-se?

A conversa teria ido mais longe, mas quando alguém disse ter ouvido dizer que… pedi licença e me reportei a uma publicação do jornal A Tribuna, de um artigo do médico Dráuzio Varella, sob o título "Reflexões Transgênicas", no qual ele aborda, com a maestria de sempre, os aspectos da agricultura transgênica e a produção de vacinas em vegetais. Concluí:

"Essa questão é muito relevante para ser decidida por políticos despreparados ou por militantes repetidores de slogans, a favor ou contra. O tema exige preparo intelectual e racionalidade nas decisões".

Eu gostaria de ver esse critério defendido pelo doutor Dráuzio aplicado em outras questões, inclusive na dragagem dos portos, em especial no de Santos.

 

Luiz Alberto Costa Franco é engenheiro civil, foi chefe dos serviços de dragagem do Porto de Santos e diretor de engenharia da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).

 

Fonte: PortoGente – www.portogente.com.br

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