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Conteúdo 24 de outubro de 2008

E a luz vem do FMI

Uma das coisas que mais me irrita são pessoas repetitivas.

Portanto, por uma questão de coerência faço tudo para não ser uma delas. De profissão, sou economista, apesar de vez por outra transitar meio que levianamente em outras áreas do conhecimento.

Se bem que hoje em dia muitos duvidam de que a economia seja, verdadeiramente, uma área de conhecimento, sendo mais relacionada à predicados pouco lisonjeiros.

Enfim, enquanto as bolsas de valores do mundo continuam seu frenético sobe-e-desce, o mundo da realidade começa a mostrar que a atual crise, de jeito nenhum, vai ficar só no mundo financeiro.

O desemprego já aumenta nos EUA e Europa. Na China, o governo  inventor do comunismo de mercado está estudando maneiras de minimizar o impacto negativo de um crescimento econômico inferior a 10% para aquele povo.

Enquanto isso, aqui no Brasil, a falta do outrora abundante dinheiro internacional, em conjunto com o prejuízo que umas 200 empresas tiveram com apostas erradas no câmbio, está criando uma situação de pânico, psicose, ou coisa parecida.

Mas olhando o panorama, parece claro que a crise já passou.

Calma leitor!

Não se trata de algum surto doentio de otimismo. Vamos, então, às explicações. Entendo que crise se refira a algo não necessariamente ruim em termos de percepção, mas que esteja fora dos padrões esperados da normalidade.

Por exemplo, fala-se que os artistas, no momento da realização de suas obras-primas, estão num processo de crise criativa.

Da mesma forma, o fato de os países fazerem vistas grossas ao acordo de Basiléia, que previa uma alavancagem máxima de onze vezes o capital, como limite de lastro financeiro dos bancos, acabou provocando uma crise de abundância de dinheiro. Algumas instituições norte-americanas chegaram a multiplicar por 50 os seus recursos.

E deu no que deu: uma ressaca das brabas que não pode ser chamada de crise, mas sim de colapso.

Colapso porque, mesmo que as bolsas continuem oscilando, o investimento ao redor do mundo entrou em prostração repentina.

Os bancos estão morrendo de medo de emprestar, enquanto as empresas não têm a mínima idéia do que vai acontecer com o seu mercado no futuro próximo. Em resumo, não há muito mais a fazer do que continuar tocando o barco da maneira que for possível, com o mínimo de comprometimento.

Um dia, é certo que tudo voltará a andar, mas provavelmente de forma menos intensa daquela que nos acostumamos nos últimos anos.

Porém, prever quando esse momento de retomada vai chegar é puro chute. Afinal, as decisões para destravar a roda da economia são predominantemente subjetivas.

Veja, por exemplo, o que fez o Banco Central do Brasil: liberou, via redução dos depósitos compulsórios, mais de R$100 bilhões para os bancos emprestarem aos seus clientes. Mas para sobreviver, a primeira coisa que uma instituição financeira não pode ser é boba. E com a desconfiança generalizada, o risco de inadimplência acaba sendo alto em qualquer segmento produtivo. E nesse contexto o mais lógico é não arriscar.

Dias, meses, ou talvez anos passarão até que a confiabilidade seja resgatada.

Mas o que fazer até lá?

Incrivelmente, a melhor solução para essa questão vem do diretor-gerente do FMI, o francês Dominique Strauss-Kahn, cujo apoio moral que deu às providências dos países da zona do euro para combater a crise global, foi eclipsado pela descoberta de seus namoricos dentro do trabalho, com uma húngara de nome Piroska, casada com um argentino, para o nosso deleite.

O assunto foi tratado com tanta importância pelo mundo das finanças internacionais, que até teve destaque no poderoso The Wall Street Journal.

De acordo com o jornal, um escritório de advogados está investigando o caso a fundo. Acredito que um bom jornalista da Playboy seria de maior competência para registrar o colóquio.

É claro que Strauss-Kahn foi obrigado a se desculpar publicamente pela travessura. Mas postulados morais a parte, não vejo por que condenar o francês.

Afinal de contas, o mundo vive um momento no qual nada pode ser feito em termos econômicos sem o grande risco de resultar em besteira. Então, para não errar, o melhor mesmo é dedicar o maior tempo possível aos prazeres da vida.

Quando a situação se acalmar, será hora de avaliar o que sobrou e partir para a reconstrução da confiabilidade do mercado mundial.

Mas enquanto isso não acontece, uma das melhores palavras de ordem para o momento é uma adaptação do que dizia o movimento hippie: faça amor; não faça dívidas (o dinheiro secou mesmo!).

Então, vá namorar!

 

Eduardo Starosta
é economista: eduardostarosta@uol.com.br

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