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Conteúdo 22 de setembro de 2008

E vem vindo a locomotiva…

Por razões mais que óbvias, assistimos ao desenrolar da crise anunciada, espantados apenas pela velocidade com que os mercados financeiros vão sendo contagiados pela deterioração das expectativas.

O tempo tem sido curto para pensar como esse vendaval pode nos atingir e onde o estrago pode vir a ser maior. Não se trata de catastrofismo, mas de examinar serenamente o que pode vir para antecipar medidas corretivas. Por várias razões, o impacto maior da crise se dará nas contas externas, tanto financeiras como de comércio.

O efeito sobre as contas financeiras carece de maiores análises. O crédito está escasseando

nos países no centro da crise e, obviamente, não permanecerá farto para emergentes como nós.

Do lado do comércio, os preços das commodities estão dando sinais claros que o ciclo de alta está próximo do fim. Talvez o sinal mais óbvio seja a queda dos preços da energia. O preço do gás natural na NYNEX chegou a quase 13,3 dólares por milhão de BTUs em 30 de junho último; dois meses depois havia caído para 7,9 dólares – uma queda de 40%, antes da fase aguda da crise que estamos atravessando. Com o petróleo, mais visível especialmente depois do Pré-sal, os preços desabaram de 140 dólares o barril em 30 de junho para 115 dólares em 29 de agosto. Trata-se de uma redução de 18% em apenas dois meses. Na semana passada, caiu ainda mais e chegou aos US$ 90.

O mesmo ocorreu com os metais preciosos. O preço da platina caiu 32% entre 30 de junho e 29 de agosto, o da prata, 32% e o do ouro, 15%.Dentre as commodities que diretamente nos interessam, os preços acompanharam a tendência geral de queda do mercado. No caso da soja, a perda foi de 17%; do trigo, 8%; e do cacau, 12%.

As commodities já estavam em baixa há mais tempo, como o do café (queda de 13% no ano) e o suco de laranja, cujo pico prévio de preço atingiu 205 centavos por libra peso em 28 de fevereiro do ano passado e em 29 de agosto estava em 109 centavos – uma queda de 47% no período! Enquanto os preços das commodities mostram surpreendente queda, estudo recente da Funcex mostra que para 14 de 24 setores exportadores o volume exportado está em queda, na comparação entre os primeiros sete meses deste ano com o mesmo período do ano passado. Resultado oposto ocorreu do lado das importações, onde 23 de 25 setores mostraram aumento tanto de volume importado como de preços. Em conseqüência, de um total de 29 setores, 23 deles mostraram queda no saldo comercial em decorrência da combinação de queda do volume exportado com o aumento da quantidade importada. Esses resultados serão ainda piores quando os dados até setembro estiverem disponíveis, já que as quedas de preços mais acentuadas ocorreram depois de julho.

Resumo da ópera: nos doze meses terminados em julho último, o valor das importações cresceu 46% comparado com os 12 meses anteriores; no mesmo período, o valor das exportações cresceu 22%. Nos 12 meses terminados em julho as exportações somaram US$ 184,4 bilhões, e as importações, US$ 153,7 bilhões; caso as exportações continuem crescendo 22% nos próximos doze meses e as importações, 46%, chegaríamos ao final de julho de 2009 com um saldo acumulado de 500 milhões de dólares! É claro que se trata de um exercício aritmético banal, que não se materializará. Seu único mérito é mostrar que algo precisa mudar para impedir que não desapareça o saldo comercial no prazo de um ano. A solução pode ser uma progressiva desvalorização do real, que incentive as exportações e desestimule as importações; ou pode vir por uma desaceleração do crescimento que reduza o ritmo de crescimento das importações.

Os 205 bilhões de dólares de reservas internacionais acumulados pelo Banco Central tornarão essa travessia menos arriscada. Mas não deixa de ser curioso que os que agora afirmam que nossos fundamentos econômicos estão sólidos sejam os mesmos que até ontem criticavam acerbamente a acumulação de reservas.

 

Fonte: Diário do Comércio – www.dcomercio.com.br

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