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Conteúdo 10 de janeiro de 2011

Espírito empreendedor ou aventureiro

Sr. Jorge F. é dono de uma indústria de produtos de limpeza no interior de São Paulo. Assim como milhares de empresários brasileiros, estava ocupado demais tentando chegar “vivo” no próximo mês. Mas ele não entendia porque, diariamente, descontava duplicatas e antecipava cheques para pagar as contas, apesar das vendas crescerem continuamente. Sensibilizado, um amigo em comum me chamou para dar uma ajuda a esse empresário.

De imediato fiz três perguntas. A primeira foi: “Seu Jorge, qual é o seu sonho?” Ele ficou surpreso. Jamais esperaria uma pergunta desse tipo em uma reunião sobre finanças. Afinal, eu estava ali para “resolver” seu problema de fluxo de caixa, não para divagar sobre assuntos existenciais. Mas, como ele não conseguia responder, esclareci:

– Sei que está se sentindo desconfortável diante de uma pergunta, aparentemente tão fora de contexto. Mas acredite, a resposta pode ajudá-lo a encontrar a solução do seu problema.

Fiz essa pergunta por um simples motivo. Sonho é mais que um mero pensamento, é o que nos proporciona uma visão, um motivo que transformamos em razão e que nos impulsiona a desenvolver ações concretas para realizar algo. Quantas vezes ouvimos de nossos pais, professores e amigos a pergunta “qual é o seu sonho?”. Por outro lado, desaprendemos a ser empreendedores quando nos perguntam “o que você vai ser quando crescer?”. A verdade é que a sociedade não nos ensina a buscar por oportunidades, ela inibe as pessoas que ficam com medo de inovar, assumir riscos e serem criativas.

Aí fiz a segunda pergunta: “Seu Jorge, o que você mais gosta de fazer na sua empresa?”. Neste momento ele parou e me disse: “conversar com clientes e vender, mas na situação atual eu gasto todo meu tempo tentando fabricar dinheiro para pagar as contas do dia”.

Infelizmente, a escola não ajuda a descobrir o talento natural de uma pessoa. Descobrir e usá-lo é fundamental, pois você vai se concentrar no que sabe fazer e em pouco tempo fará coisas incomuns.

Na escola somos ensinados a repetir fórmulas e as informações são voltadas para o passado. Elas deveriam ajudar as pessoas a desenvolver suas experiências próprias, analisar, avaliar e resolver problemas, e desenvolver seu próprio jeito de produzir algo positivo para as pessoas.

É fundamental lembrar sempre que as empresas são idealizadas, criadas e administradas por pessoas para atender pessoas. Para sobreviver, uma empresa precisa encontrar pessoas que se identifiquem com a sua cultura, tenham ambições e atitudes para resolver problemas, queiram colaborar e tenham paixão em servir.

A última pergunta que fiz foi: “Seu Jorge qual é o seu negócio?”

Esta resposta estava na ponta da sua língua: “vender produtos de limpeza”. Respondi que, na verdade, aquele não era o seu negócio, mas sim o ramo de atividade. “As empresas costumam dedicar tão pouco tempo a essa importante questão, que talvez esta seja a mais importante causa “do fracasso dos negócios”, já dizia Peter Drucker, considerado o pai da administração moderna.

O principal objetivo de uma empresa é saber escutar e servir as pessoas, para buscar uma solução para as suas necessidades, anseios ou desejos. Ou seja, é preciso descobrir o que sua empresa proporciona aos clientes que justifique o que eles pagam pelo produto/serviço. O sucesso financeiro não depende de quanto sua empresa ganha, mas de como fazer o melhor para atrair quem valoriza a sua empresa, para fidelizar à sua marca.

No fundo, empreendedor não é aquele que cria uma empresa para ganhar dinheiro. Empreendedor de verdade é aquele que acredita em suas ideias, aplica sua identidade no negócio e diferencia-se dos demais porque acredita que suas ações podem produzir algo de bom para outras pessoas.

Como não aprendemos empreendedorismo na escola, ficamos sujeitos àquela antiga forma de aprender: por tentativa e erro. Porém, nenhuma aprendizagem ocorre sem uma profunda reflexão.

O Sr. Jorge finalmente entendeu que na vida profissional as coisas nem sempre caminham tranquilamente. A partir deste momento, ele começou a agir com atitude e determinação, assumindo a responsabilidade pelas decisões e focando nas oportunidades de vendas, em vez de fabricar dinheiro. O que ele percebeu, e que muitos empresários nem sempre compreendem, é que a raiz da questão é que não somos limitados pelo mercado, e, sim, pela falta de imaginação.


Francisco Barbosa Neto – sócio-diretor da Projeto DSD Consultores. Há mais de 20 anos presta consultoria, ministra cursos e palestras para empresários e profissionais que buscam conhecimento em Gestão Empresarial
juliana.melo@2pro.com.br

 

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