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Conteúdo 2 de abril de 2008

Hora de cortar despesas

Há um forte sentimento no mercado de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central venha a elevar a taxa de juro Selic em sua reunião deste mês. Em razão desse sentimento, o boletim Focus, do BC, mostra que as expectativas do mercado com relação à Selic em dezembro deste ano saltaram de 11,25% para 12%.

Diversas razões são apresentadas para essa mudança nas expectativas do mercado. Consistente com o aumento esperado nos juros, o mercado passou também a esperar um aumento na taxa de inflação. Por seu turno, a Confederação Nacional da Indústria, para citar um exemplo de entidade fora do mercado financeiro, reviu sua projeção do IPCA para 2008 de 4,1% para 4,7%. Essa nova previsão da CNI está calcada em sua estimativa revista de que o consumo das famílias deverá crescer este ano 7,5%, em lugar dos 6,2% de aumento previsto anteriormente. A confirmar-se essa previsão, deverá ser o maior aumento no consumo das famílias dos últimos 11 anos.

É claro que essa mudança de percepção não assegura desde já que a inflação do ano poderá ficar acima do valor do centro da meta de inflação (4,5%). Como reconheceu a CNI em seu comunicado, excluídos os aumentos nos preços da carne, do feijão e do leite, nos 12 meses encerrados em fevereiro a inflação percebida pelos consumidores ficou em 3,4% – bastante distante, portanto, da meta de inflação.

Não está claro, portanto, que aumentos de preços localizados estejam se transmitindo aos demais preços, o que caracterizaria precisamente um aumento na inflação – uma alta generalizada nos preços. Até o momento, o que se tem como certa é uma mudança de patamar de alguns preços de alimentos que, por seu peso na composição do IPCA, estão puxando para cima o índice como um todo.

Dirimir essa questão é matéria da maior importância, já que o BC considera que o instrumento por excelência para manter a inflação dentro do intervalo da meta é a taxa de juros. A perspectiva de uma aceleração da inflação pode desde já, preventivamente, levar o BC a aumentar a Selic na próxima reunião do Copom.

Se é incerto se a inflação está ou não acelerando, é certo que o saldo da balança comercial está em franca deterioração. Não porque a valorização do câmbio tenha desestimulado as exportações, que continuam crescendo. Na raiz do problema está o expressivo crescimento das importações.

Novamente, não está claro se as importações estão crescendo mais rapidamente que as exportações pela valorização do câmbio ou pelo excesso de demanda no mercado interno, ou pelas duas razões. O fato é que o crescimento das importações já ameaça tornar deficitário o balanço de pagamentos, muito além das estimativas mais pessimistas no início deste ano.

Ora, se a demanda está pressionando o balanço de pagamentos, o remédio não deve ser o aumento dos juros, mas um corte nas despesas correntes do governo, como defendem vários economistas, entre os quais o professor Antonio Delfim Netto.

A exemplo do que já vem ocorrendo nos últimos anos, as despesas correntes estão crescendo a uma taxa muito superior à do crescimento do PIB. A parcela principal desse crescimento nas despesas correntes do governo está associada a transferências de diversos programas de governo, entre os quais o Bolsa-Família, cuja expectativa de aumento de despesas este ano é da ordem de 30%.

Um corte nas despesas correntes do governo se justifica em si, independentemente de estarmos ou não diante de um quadro de aceleração da inflação. O que o País necessita nesse momento de retomada do crescimento é de investimentos, e não de despesas correntes.

Aumentar os juros, no momento em que os EUA baixam os seus, terá como único efeito valorizar ainda mais o real, aumentando o risco de um déficit crescente nas contas correntes do balanço de pagamentos brasileiro, e jogando uma ducha de água fria na retomada do crescimento.

Portanto, a hora não é de aumento dos juros, mas de corte de despesas. Já é tempo de a política fiscal ficar no centro do palco, deixando um pouco o BC no papel de coadjuvante, para o bem da economia.

 

Fonte: www.dcomercio.com.br

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