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Conteúdo 3 de setembro de 2008

José Roberto Croce – gerente geral para o Mercosul da BDP International

A necessidade de dotar os portos brasileiros de eficiência operacional tem sido discutida intensamente nesses últimos meses. Grandes obras de infra-estrutura, incluindo dragagem de aprofundamento e expansão portuária, foram determinadas pelo governo federal planejando tornar o segmento mais competitivo. Mas, para isso, também é necessário que todo o processo logístico e de transportes funcionem de acordo com que o comércio internacional exige.
 
Em entrevista exclusiva ao PortoGente, o gerente geral para o Mercosul da BDP International – empresa líder mundial no gerenciamento logístico dos setores químico e petroquímico -, José Roberto Croce, apontou uma série de deficiências que precisam ser superadas no País. Dentre elas estão o incentivo quase nulo ao modal aquaviário e a falta de comunicação entre as empresas que prestam serviços de logística e seus clientes.

Formado em Administração pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e tendo trabalhado como consultor de finanças corporativas na Phillips do Brasil, Croce ingressou no mercado de logística em 2002. Ele acredita que a gestão de logística precisa ser analisada como um serviço de valor agregado. Sua visão faz parte dos métodos de trabalho da BDP, que possui operações em 113 países, com base na Filadélfia, nos Estados Unidos.

 

Com operações em mais de 100 países, qual a importância do Brasil no cenário mundial para a empresa? Por que investir aqui?
O Brasil é um mercado muito importante por ser um dos lideres mundiais nos setores químico e petroquímico, tem uma grande participação nesses mercados. É um ponto estratégico para a empresa.

 
Mais de 60% da movimentação gerenciada pela empresa é feita por via marítima, contrastando com a cultura rodoviarista do setor aqui no Brasil. Você acredita que o modal aquaviário é subestimado no País?
O desenvolvimento do modal aquaviário é fundamental. Não se pode ficar restrito a um único modal, no caso o rodoviário. Por questões econômicas, o modal ferroviário foi abandonado há muitos anos e hoje, apesar de ter melhorado, continua de certa forma bem abandonado. Já as hidrovias só estão em parte desenvolvidas na região Norte do Brasil, por questões geográficas. É uma região diferenciada. Essa restrição é ruim porque só ter uma opção de modal restringe a competitividade e encarece o processo logístico como um todo. Precisamos de mais investimento e de mais interesse de desenvolver esse segmento.

 
Ao seu ver, falta interesse das autoridades governamentais ou das empresas do ramo?
Das duas partes. Falta interesse das autoridades e também das empresas. Aqui, notamos uma série de paradigmas no segmento de logística. No Brasil, se faz rodovia porque não tem ferrovia e ninguém sabe ainda o que é hidrovia. São paradigmas do mercado, refletem desconhecimento ou medo de mudar.

 
E, na sua avaliação, o que precisa ser feito para modificar esse panorama?
É preciso discutir uma forma de mudar no mercado para que fomente o uso do aquaviário. E é necessário criar a demanda para ter a oferta. O País tem que aumentar a abrangência dos rios navegáveis para que todo esse processo flua mais naturalmente.

 
Qual os principais requisitos para operar com sucesso nos setores químico e petroquímico, nos quais a BDP é líder mundial?

No setor de produtos químicos, é preciso ter experiência na parte de transporte e de gestão ambiental. É essencial o conhecimento das necessidades dos produtos perigosos, o conhecimento das certificações. Isso é muito relacionado à credibilidade da empresa. Quando a gente ‘pega’ um transporte rodoviário e acontece um acidente, por exemplo, na Marginal Pinheiros [em São Paulo], vão falar que a carga é de um cliente X e colocar em xeque a credibilidade dele. Por isso, tem que ter experiência e conhecimento para prestar o serviço.

 
Como as obras previstas pelo governo federal, em especial as que estão incluídas no Pacote de Aceleração de Crescimento (PAC), pode ajudar o setor de logística a se desenvolver?
Qualquer melhoria no setor de transportes beneficia o mercado de logística como um todo. Isso é muito necessário para todos no mercado. Gera um custo logístico menor; não vai precisar pagar sobrestadia de caminhão nos portos, não vai precisar pagar muitos pedágios, já que serão construídos mais portos e teremos opções mais próximas de cada centro, não vai trocar roda de caminhão porque não passará mais em grandes buracos nas rodovias, a quantidade de terminais aumentará, reduzindo o preço e aumentando competitividade… Enfim, serão boas soluções para reduzir os custos em geral. Hoje, a oferta nos portos é muito restrita. E o que tem ainda não está bom.

 
Atualmente, cerca de 80% dos investimentos da empresa são destinados aos sistemas de tecnologia da informação. Por que essa ênfase?
Eu sempre busco melhorar continuamente todo o processo. Sempre acredito que há como melhorar, e o básico, para isso, é ter um sistema de informações de transporte completo, flexível e confiável, principalmente ao lidar com logística. É preciso ter um processo muito bem definido. Problemas acontecem, mas temos que ter muita flexibilidade para contorná-los. 

 
E qual o maior desses problemas?
Com certeza é a falta de comunicação. Se você perguntar aos nossos clientes, 99% deles vão te responder isso. Assim, nosso lema é nunca esconder os problemas. É abrir [o jogo] para o cliente e buscar uma solução. O Brasil, por uma série de deficiências locais, gera uma quantidade de problemas muito grande. Temos que conhecer o gargalo e saber resolvê-lo. Logística nada mais é do que comunicação. Tem que ter uma comunicação objetiva entre o transportador e o cliente, o provedor e o cliente, o despachante e o cliente. Senão não funciona.

 

Fonte: PortoGente – www.portogente.com.br

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