Facebook Twitter Linkedin Instagram Youtube telegram
Conteúdo 13 de agosto de 2008

Me engana que eu gosto

Tirando São Paulo, capital, e certamente exceções pelo interior do País, a eleição municipal, faltando um pouco mais de 50 dias para a viagem do eleitor até a urnas, está um marasmo só – uma pasmaceira de dar dó.

O caso da capital paulista é excepcional, e se justifica por outras razões que não a disputa pela gerência do município. Aqui, estão se digladiando os dois partidos com maior poder de fogo para as eleições presidenciais de 2010 e é aqui que se encontram as forças mais influentes tanto no PT quanto no PSDB. O Estado ainda serviu de berço às duas legendas.

A eleição paulista tem, assim, características de uma eleição federal, um teste para PT e PSDB para os embates que travarão – salvo alguma excepcionalidade – daqui a dois anos. Não foi por outra razão que Lula abriu mão de sua prometida neutralidade no primeiro turno para entrar, como está prometendo, de corpo e alma na campanha de Marta Suplicy. A outra exceção, em São Bernardo do Campo, explica-se por razões sentimentais.

Somente por isso o eleitor paulistano está mais ligado, já sintonizou nas eleições, já tem noção do que cada um representa e até já definiu, preliminarmente (preliminarmente, porque em eleição o voto pode mudar até o instante final) em quem pretende votar. As mais recentes pesquisas indicam que menos de 15% do eleitorado ainda se confessa indeciso. Se fosse apenas pela eleição municipal, São Paulo estaria mais ou menos como a quase totalidade das capitais e das grandes cidades brasileiras – desinteressada de seus candidatos, de suas pregações, de suas promessas.

À guisa de comparação, peguemos dois exemplos: Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A primeira, sempre uma caixa de eco das questões nacionais; a segunda, capital de um estado de fortes tradições políticas e por onde fatalmente passará um dos eixos da sucessão presidencial – se por lá não desembarcar. Pois bem! Em ambas, o número de eleitores indecisos gira em torno de 50%.

Quais as razões: falta de empenho dos candidatos? Desentrosamento partidário? Desleixo dos padrinhos dos concorrentes? Nada disso, o mundo político está totalmente ligado na urnas. Haja vista o presidente Lula, que quando não está fora do Brasil está fora de Brasília, preparando os palanques de 2010, e o esvaziamento do Congresso e da Esplanada dos Ministérios nos fins de semana quase sempre emendados com a segunda-feira e a sexta-feira.

O eleitor é que não se ligou, porque falta assunto, falta conversa bastante para convencê-lo de que o que lhe está sendo ofertado pelos candidatos será capaz de melhorar mesmo a vida na sua cidade, a sua vida cotidiana, na luta para driblar a violência, o trânsito, a poluição, as enchentes, as escolas de baixa qualidade, os serviços de saúde de péssima qualidade.

Alguém (se existe, se apresente, por favor) em qualquer quadrante nacional, já ouviu, pressentiu, farejou, de parte dos postulantes municipais, alguma idéia realmente inovadora – e exeqüível – para tornar menos tormentosas as mazelas nacionais de responsabilidade direta das prefeituras? Tenho certeza absoluta que não. O que estamos assistindo é um desfilar de velhas propostas, já testadas e retestadas em seu fracasso, recicladas e requentadas nos departamentos de marketing das campanhas.

O blá-blá-blá , a ladainha de sempre com novas embalagens, com diferentes molduras. E o pior de tudo, o mais desesperador: sem demonstrar a menor noção de que o espaço dos cofres públicos é – ou pelo menos deveria ser – finito.

O conjunto das propostas – melhor, talvez, dizer: promessas – que os candidatos vão expelindo em seus vagares eleitorais e nos programas de governo, não cabem, rigorosamente, em nenhum orçamento público racional. Ou seja: ou não farão tudo que anunciam ou vão meter a mão um pouco mais no bolso do cidadão.

Para esse desânimo dos eleitores, os candidatos, seus assessores e seus marqueteiros têm um antídoto que a todos parece infalível – o horário eleitoral obrigatório, no ar já na próxima semana. Em outras palavras: propaganda, propaganda, propaganda. Nenhum choque de realismo, nenhum da verdade com o cidadão. Até funciona. Mas porque o voto é obrigatório…

Não faz bem, porém, para a cidadania. O envolvimento do brasileiro nas questões públicas é cada menor. E a desconfiança em seus dirigentes, cada vez maior. Só o populismo ainda empolga numa sociedade carente como a brasileira. Não é duradouro, porém.

Um dia o mundo real cobra a sua conta.

José Márcio Mendonça é jornalista e analista político

 

Fonte: www.dcomercio.com.br

Enersys
Volvo
Savoy
Retrak
postal