Não fale em crise… trabalhe! (4)

Quem procura, acha. Se o leitor procura más notícias, que confirmem a sua percepção de que o mundo acaba nos próximos meses, recomendo a leitura de um livro escrito cerca de dois milênios atrás: o bíblico Apocalipse. Também pode se abastecer de terríveis previsões nas obras da Idade Média, nos textos "adequadamente" interpretados de Nostradamus, ou então, para ser bem moderno, nas linhas escritas com tinta de ouro pelos modernos consultores empresariais. Talvez a maior dificuldade do leitor de tais textos seja decidir se o mundo acabará em fogo, água, vento ou terra. Tem cenário desastroso para todos os gostos.

Agora, se o leitor procura boas notícias, saia da rotina. Visite pólos de desenvolvimento, países emergentes com economia pujante, conheça novos centros tecnológicos, áreas de experimentação agrícola. Lugares que geralmente não são notícia por não terem notícia ruim para relatar. Afinal, muita gente acredita que boa notícia não é notícia. "Homem salvou jacaré" é só obrigação, mas "homem matou jacaré" vira manchete mundial…

Seria possível pegar como exemplo o Porto de Santos e mostrar suas mazelas, as previsões ruins que se faz em relação às cargas que movimenta. Mas, procurando boas notícias, elas também aparecem.

Por exemplo: o centenário grupo Wilson Sons dobrará seu estaleiro na margem esquerda do porto santista, tendo para isso arrendado recentemente uma área de 20 mil metros quadrados nas proximidades das instalações já existentes. Valor do investimento: US$ 40 milhões. Gerará cerca de 500 empregos diretos. A previsão é que, em dois anos, dobre portanto a capacidade produtiva, que é hoje equivalente a duas embarcações de apoio a plataformas petrolíferas, e três rebocadores, por ano. Afora as atividades de reparos e manutenção de embarcações (iates, barcos pesqueiros, rebocadores etc.).

Do outro lado do estuário, ainda no mesmo porto, mas na margem direita, foi também recentemente anunciada a obtenção pelo Noble Group (empresa de suprimentos agrícolas sediada em Hong-Kong) do controle acionário do futuro Terminal Itamaraty, no cais do antigo armazém 12-A. Nessa área de 9.685 metros quadrados, passará a ser embarcado de 1,3 milhão a 2 milhões de toneladas anuais de granéis vegetais (soja, açúcar ou milho), por meio de esteira ligando o armazém  ao navio, com capacidade de embarque de 3 mil toneladas por hora.

Para o diretor-geral da Noble Group, Richard Elman, ouvido pela imprensa local, "esse investimento garante mais eficiência que qualquer outro porto e permite reduzir custos em escala, além de gerar sinergia para os negócios de grãos e açúcar". O grupo tem uma dezena de terminais portuários espalhados pelo mundo, mantendo ainda armazéns, fazendas produtoras e usinas de açúcar em vários estados brasileiros.

Não são empresas pequenas, recém-iniciadas e dispostas a arriscar tudo-ou-nada. Pelo contrário, são grupos sólidos, que analisam cuidadosamente cada passo a ser dado, e conseguem perceber o sol por entre as nuvens, por mais carregadas que elas pareçam. Aos fãs do Apocalipse, fica a pergunta: será que algumas empresas já enxergam o Paraíso, após o Juízo Final? (e não resisto a especular se esse julgamento final não lembra os dois sapatos atirados por um jornalista iraquiano no presidente Bush, que parece querer procurar mais confusão ainda do que já aprontou, mesmo em seus últimos dias de governo? Lançar os sapatos é o maior insulto que um árabe pode formular, e o caso, já emblemático no mundo árabe, expressa bem a opinião de boa parte do planeta sobre aquele pretenso estadista que gerou a tal crise mundial…).

E novamente o espaço terminou, com tantas boas notícias que nem foi possível ainda cumprir a promessa de comentar como a "crise" é vista em certa região brasileira junto ao Trópico de Capricórnio. Pelo menos, já entramos no canal de navegação do porto santista. É só continuarmos porto a dentro, e lá chegaremos…
 

Carlos Pimentel Mendes é jornalista e edita o site Novo Milênio: pimentel@pimentel.jor.br

Fonte: PortoGente – www.portogente.com.br