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Conteúdo 14 de abril de 2009

O contêiner e a globalização

Temos ouvido e lido tanto sobre globalização e ainda há quem se assuste e queira acabar com ela, como se fosse possível. E debitando-lhe todos os males do mundo. Em face da crise, temos convivido com uma nova expressão – "desglobalização". Em nossa opinião, o mundo está ai para evoluir e as pessoas têm obrigação de acumular conhecimentos e avançar. E pensamentos assim nos levam a crer em involução. Como pode ser tão difícil às pessoas analisar os fatos e ver que globalização sempre existiu e esteve caminhando pari-passu conosco?

A essas pessoas temos a dizer que esqueçam o assunto e a tratem naturalmente, como "andar", pois é algo que nasceu com o homem e faz parte da sua existência. A globalização não é nova e nem é moda. O homem sempre fez globalização por meio do envio de mercadorias de um país a outro, remessa de divisas, abertura ou compra de empresas em outro país, viagens, tráfico de mão-de-obra escrava, invasões de países, visitas, mudanças etc. O que são esses movimentos se não um processo de globalização, ou seja, integração mundial em todos os setores?

Para complementar, pensemos que Marco Polo, o mercador e explorador veneziano, já fazia globalização no fim do século 13 e e início do 14, ao levar o macarrão da China para a Itália, e muitas especiarias mais, ligando o mundo conhecido. Ou quando os romanos invadiram a Judeia, há mais de 2.000 anos. O que ocorreu foi que esse processo de um mundo sem fronteiras acabou sendo, nas década de 70 e 80 do século 20, externado claramente por intermédio da nomeação do processo, de muitos livros, e de muita consultoria vendida. Portanto, continuou a mesma, tendo sido apenas tornada visível e de percepção por todos.

Mas porque isso ocorreu mais intensamente nas últimas décadas, levando à sua consciência, a uma visibilidade total? A responsabilidade direta, seguindo pela trilha de uma possível descrença do leitor, mas crendo que apenas à primeira vista, é de que as coisas que a tornaram passível de grande expansão e rápida visibilidade podem ser divididas em três pernas. O desenvolvimento da tecnologia da informação e o da comunicação e, mais importante, por um equipamento de transporte chamado container, equipamento usual em nossas vias públicas. Que, então, permitiu o desenvolvimento das duas citadas, já que o mundo é econômico e esta área comanda o planeta.

Abordaremos apenas o container, por absoluta inutilidade de se falar das outras duas, por obviedades conhecidas de todos e por se constituírem em consequência desta.

O container foi criado em 1956 pelo caminhoneiro e visionário Malcom McLean, falecido em 2001, que o colocou sobre um navio tanque, reformado e adaptado para tal. Em 1957 foi lançado o primeiro navio full container da história. Em 1968 houve a fantástica padronização do equipamento, o que proporcionou a mesma coisa com navios, portos, equipamentos de movimentação etc, possibilitando multiplicar a capacidade de carga dos navios e sua movimentação. Hoje, pouco mais de meio século depois, o mundo movimenta cerca de 520 milhões de TEU – Twenty feet or equivalent unit (container de/ou equivalente a 20 pés – 6,09 m).

Alguns podem discordar, mas os exemplos estão aí para serem analisados. Nós próprios exportávamos um produto congelado há três décadas que, para embarque de 5.000 toneladas, em forma de carga solta, em caixas de papelão, necessitava de um navio inteiro, convencional, e cerca de 7 a 8 dias para embarque. Isso se tudo corresse beml. Esse produto, containerizado em 200 unidades de 40 pés (400 TEU), pode agora, com as marcas de produtividade atingidas pelos nossos principais terminais portuários, ser embarcado em 3 a 5 horas (em alguns lugares do mundo, em 2 horas) contra as anteriores mínimas 180 a 200 horas, ou seja, cerca de 50 vezes mais rápido.

Se pensarmos nos atuais números mundiais de containers movimentados, bem como no volume de comércio exterior global, cerca de 34 trilhões de dólares em 2008, poderemos, sem muito esforço, imaginar o quão o mundo estaria menos globalizado sem o container.

Para entender a importância do container, basta ver a evolução do comércio global. Em 1950 a corrente de comércio foi de 115 bilhões de dólares norte-americanos. Em 1960 foram 230 bilhões, atingindo 600 bilhões em 1970 e 3,9 trilhões em 1980, após a padronização do container. Em 1990 o comércio atingiu 7,6 trilhões, em 2000 chegou a 13 trilhões e em 2008 alcançou 34 trilhões de dólares, 56% do PIB mundial.

Não seria possível hoje, com os velhos navios convencionais, realizar mais do que uns 10% a 15% do comércio atual, o que significaria estarmos vivenciando os anos 70, apenas com calendário de 2009.

 

Samir Keedi é professor da Aduaneiras, autor de vários livros em comércio exterior e tradutor oficial para o Brasil do "Incoterms 2000". samir@aduaneiras.com.br

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