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Conteúdo 5 de agosto de 2008

O drama das megalópoles

André Gide, um dos grandes escritores franceses pós-modernos (se é que essa denominação é conveniente), criticado por se repetir, defendeu-se com sua verve cáustica e cínica, dizendo que como todo mundo tem os ouvidos duros, é indispensável não se parar de repetir. Fundado nessa sua argumentação, volto ao tema que, mais de uma vez tratei: o da anomia, ausência de regras, que prevalece nas megalópoles, onde cada vez mais tende a se concentrar a população mundial, gênero urbano a que pertence São Paulo e já ocupa, a esse respeito, um dos postos do pódio mundial. Para cidades desse gênero, afluem itinerantes de todas as partes e culturas sem qualquer laço de conhecimento e de compromisso: não cresceram juntos, não se conhecem e na gigantesca aglomeração de gente são todos anônimos e cada um está na sua.

Esse cada um estar na sua é regido apenas pelo paradigma do custo-benefício e esse critério, exclusivamente pragmático, significa que todos os valores que regem uma convivência humana civilizada se tornam irrelevantes. Daí que se volta para o primitivismo darwiniano, da luta pela vida e da sobrevivência do mais forte, ou simplesmente do mais safado. Quem pode mais chora menos , Relaxe e goze (como preconiza uma dos próceres psicopseudofilosófica do PT) e tantos outros ditados populares correntes. Os laços humanos mais profundos e fortes, como o da solidariedade das famílias vão pras pitas , a corrupção se generaliza como o traço dominante na vida política. Surgem crimes inomináveis, não há Judiciário nem polícia suficiente para dar conta deles, mesmo porque polícia e Judiciário não escapam ao clima geral. O caso Isabela e o caso Dantas são apenas alguns exemplos magnos. (Por falar nisso, qual é o misterioso João , que mal apareceu e sumiu nos esgotos subterrâneos do caso em que o governo se mete até o pescoço? Protógenes que o diga…)

Durkheim, fundador principal da sociologia francesa, estabeleceu as regras para caracterizar um fato social , uma prática coletiva adotada por uma sociedade , algo, portanto, supra-individual e compartilhado por todos seus membros; seu caráter coercitivo, interiorizado mesmo no psiquismo individual, é comum a sociedades que se acham em estágio de evolução equivalente. Sem isso, ou inexiste a sociedade ou o que existe é patológico, isto é, fora da ordem humana natural. A se aplicar esses critérios a megalópole paulistana, ela não chegaria a ser uma sociedade e/ou está profundamente doente, de uma doença cerebral, a se admitir que ela é, de alguma forma, a principal sociedade brasileira.

Obviamente, essa caracterização e o diagnóstico dela decorrente são esquemáticos e não descrevem toda a realidade brasileira. Entretanto, podem ser aplicados apropriadamente para se descrever e compreender o que se passa em uma das suas principais funções, sua vida civil, ou mais especificamente, sua vida política. Uma podridão mafiosa, que da cabeça invade cancerosamente a estrutura de todos os poderes, sem exceção. Situação que, em artigos anteriores, descrevemos como um regime duplo de PF s – os cidadãos, que estamos por fora – e os FP s, os integrantes dos três poderes – ou, mais especificamente, os políticos que para si próprios criaram os privilégios dos quatro Is : i rresponsabilidade, imunidade, inimputabilidade e impunibilidade .

Tais coisas não são invenção brasileira, mas de todos os tempos e lugares. E, no nosso caso, se explica pelo fato de somente neste ano completarmos dois séculos de identidade política (a partir da chegada de D.João VI. Antes, éramos apenas colônia, uma excrescência política. Outras nações, multimilenares, gastaram todo esse tempo para civilizar seus políticos, mas nem assim definitivamente, como se sabe. E a grande maioria da população humana ainda vive nas eras do despotismo religioso fanático…

Fonte: www.dcomercio.com.br

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