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Conteúdo 15 de outubro de 2008

O gato subiu no telhado

As crises em filiais, tipo Brasil, Coréia, Rússia e Argentina, sempre foram facilmente absorvidas pelo resto do mundo adiantado, como vimos várias vezes. Mesmo quando um país inteiro decide não pagar suas dívidas, como recentemente a Argentina e alguns anos antes o Brasil, a economia mundial e o mercado real continuam caminhando.

O caso é que agora a coisa pegou na matriz. Agora sim, o problema é mundial. Não foi somente a enxurrada de empréstimos subprime que causou toda essa desordem, pois afinal parece que apenas 25% dos financiamentos eram desse nível.

O problema é que uma laranja podre pode estragar toda uma cesta de frutas, especialmente se elas estiverem quase com o prazo de validade vencido. A questão agora é, segundo a maioria dos economistas, que entramos numa crise de confiança.

Como exemplo se uma empresa não confia que terá recursos futuros, ou se terá qualquer mercado futuro, ela não investe. Se quiser investir e precisar para isso tomar empréstimo ao banco, este não lhe dará, pois não confia que terá de volta seu dinheiro. Se alguma instituição decidir emprestar, então a taxa de juros será alta para garantir, em curto prazo, que pelo menos o retorno do principal possa existir.

A causa maior da crise foi o exagero. Todos achavam que o saco de dinheiro não tinha fundo. Nos Estados Unidos chegaram a ter girando empréstimos para compras de qualquer naipe de mercadoria, de lápis a avião a jato, mais de um PIB americano inteirinho.

A filosofia dos bancos americanos de empréstimos muitíssimo além dos recursos disponíveis era de altíssimo risco, que aliado a salários astronômicos de seus dirigentes sugava o que os bancos não tinham. Além disso, emprestavam até para quem, sabidamente, não teria a mínima condição de arcar com as prestações, e depois repassavam tais empréstimos carteiras a outros bancos. Ganância extremada.

A questão é, verdadeiramente, de confiança. Confiar em que sistema? Confiar em quem?

Qual próximo presidente dos Estados Unidos irá evitar que o barco afunde? Nenhum. A não ser que tenha 100% de aprovação e 100% de confiança do seu povo. Talvez nessa crise o melhor é ter o Chávez, que tanto critico, mas que como ditador moderninho pode obrigar seu povo a confiar nele, e quem não quiser… bem…

Como escutei hoje, quem realmente está rindo à toa é o Osama, vendo que finalmente derrubou todas as torres depois de cinco anos dos atentados.
 
Aliás, foi daí que partiu a exagerada derrubada dos juros americanos na busca de um alívio ao povo após a tragédia, de tal sorte que tivesse, no consumo, a certeza de que seu país caminharia apesar de tudo, e quem sabe um alívio para a alma. Se manteve baixo porém por muito tempo  e o mercado cheio de raposas quis tirar todo proveito possível.

Muitos aplicaram o seguinte golpe legal:vendo minha casa, pego empréstimo barato, aplico nas bolsas, devolvo o dinheiro e ainda sobra. Conto da carochinha que agora desabou.

No oposto, esteve nesse tempo a taxa de juros básicos no Brasil, fazendo exatamente o contrário, isto é, impedindo crescimento industrial pela incapacidade do tomador em lucrar mais do que a taxa cobrada.

Assim o mundo é cheio de extremos. Alguns dizem que é estimulante. Ativa a mente criativa na busca de respostas. No fundo se pode perceber que o mundo cresce mesmo, vigorosamente, apenas nos tempos de estabilidade quer econômica quer social.

O que nos resta a fazer nesse cenário? A primeira medida é tão simples que nossos avós já a usavam: só gaste o que você tem.

A segunda, que seria um correlato da primeira é: se pedir emprestado tenha certeza que pode pagar até o dobro.

A terceira é: de preferência a ativos que produzam; venda o carrão e compre uma van para transportar alunos para a escola (único lugar que espero não tenha que sofrer , ao contrario precisa ser incentivado).

De qualquer forma só adquira aquilo que realmente precisa.

De uma certa maneira o aumento do dólar já deve induzir a alguma reflexão, como: Vou viajar para estrangeiro como fazia antes? Vou comprar carrões importados que passarão a custar muito mais? Vou importar aquele monte de bugigangas da China ou da Índia só porque é barato.

Até quando o dólar vai continuar alto? E quando cair, vai para em que patamar? Estamos no meio do tiroteio sem qualquer proteção.

Nem sequer a pretensa confiança do presidente Lula, de que nada nos aconteceria, pode se mais considerada.

Já soube de varias empresas que iniciaram seus processos de demissão em grande escala, outras cancelaram ou suspenderam os investimentos já aprovados em seus orçamentos de 2008 ou de 2009.

Estaria na hora de dinamizar nosso mercado interno. Mas como? Se ainda temos as mesmas leis tributárias e políticas? Aquelas que emperram as empresas, as pesquisas, e o próprio consumo.

Mas, verdadeiramente, o problema é de confiança. Tentar tirar todo o proveito possível para bem próprio, no mais curto espaço de tempo, não é uma questão de mercado liberal é questão de safadeza, de grande safadeza. Mas a vida nos ensina muito dia-a-dia.

A gente não precisa sofrer para aprender a viver corretamente, mas aquele que sofreu e mesmo assim não aprendeu é bandido.

Hermann Gonçalves Marx é professor convidado da FIA-USP e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing.

 

Fonte: PortoGente – www.portogente.com.br

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