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Conteúdo 12 de fevereiro de 2009

O País do eterno palanque

A inda não se completaram dois meses desde que o presidente Lula, em passagem pelo Nordeste, avisou que não queria saber de campanha eleitoral neste ano, que seria de trabalho duro na gerência do governo, ainda mais com a crise econômica que se avizinhava com vagas tão altas que nem de longe se assemelhavam à "marolinha" prenunciada para o Brasil. E, no entanto, ninguém mais neste País está mais nos palanques eleitorais neste início de 2009 do que o presidente da República, embora continue negando que suas ações, como a pajelança com quase quatro mil prefeitos terça-feira e quarta-feira em Brasília tenham tal objetivo. Basta ver a desenvoltura presidencial diante de qualquer platéia, as palavras e, principalmente, as concessões que tem feito para ver que o que Lula diz não tem nada a ver com o que está praticando.

E o mais comprometedor é que ele leva a tiracolo, para onde vai, para cada compromisso político-eleitoral que organiza, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, escolhida por ele para sucedê-lo, ou melhor, para concorrer à sua sucessão. Com isso, Dilma, cuja responsabilidade é coordenar todas as ações do governo e ainda ser a "mãezona" do Programa de Aceleração Econômica (PAC), afasta-se de seus afazeres mais prementes. Não é à toa que o governo Lula, que nunca exibiu entre suas características mais positivas a capacidade executiva, em contraste com a extraordinária capacidade de expor idéias ou apresentar sugestões, está um pouco mais lento, mais dispersivo e mais descoordenado.

O episódio da exigência de licença prévia para importação de cerca de três mil produtos e nossa pauta de compras no Exterior é um exemplo desse déficit de coordenação. A exigência apareceu quase clandestinamente e foi retirada dois dias depois, sem que ninguém assumisse diretamente a responsabilidade sobre ela e explicasse convincentemente porque foi lançada, se era uma "trapalhada". E não se falou mais no assunto.

O prometido pacote "imobiliário", com o qual o presidente Lula pretende construir um milhão (isso mesmo, um milhão) de casas populares em 2009 e 2010, é uma amostra da morosidade do governo para decidir e implementar seus projetos. Ele está em elaboração há quase três meses, seus primeiros sinais datam do fim de novembro, quando se descobriu lá em Brasília que a tal da crise do Bush era crise mesmo, e de lá para cá teve seu anúncio adiado, pois há sempre um detalhe a ser corrigido.

Haja detalhes! A última informação é que ele pode vir à luz amanhã, sexta-feira ou na semana seguinte. Mas quando se trata de adular um de seus públicos prediletos, os servidores públicos, os operadores de Brasília não encontram tantos obstáculos. Nesta semana, na lista de bondades federais compartilhadas com os prefeitos, o governo anunciou a abertura de uma linha de crédito na Caixa Econômica Federal, subsidiada, para financiar casa própria para mais de 5 milhões de funcionários das prefeituras e dos governos dos Estados, com desconto em folha. Até aqui o privilégio era apenas para os servidores federais.

Há dificuldades, também, interpostas pela Receita Federal, com medo da diminuição excessiva na arrecadação, para atender à reivindicação de alguns setores empresariais para a ampliação, maior do que a que já foi dada, do prazo que eles têm para recolher alguns impostos. Seria um reforço no capital de giro das companhias, especialmente as pequenas e médias nesses tempos de escassez e carestia de crédito. Não há folga para isso, mas apareceu uma brecha para estender de cinco para vinte anos o prazo para os prefeitos pagarem suas dívidas com o INSS, incluindo até as prefeituras que já fizeram acordo com a instituição e estão atrasadas em seus compromissos.

O mais cruel é que a oposição não faz papel muito melhor. O que se sabe de seus principais nomes a não ser algumas providências locais para tentar conter a crise em seus territórios? Quais as propostas de cunho nacional para esta hora amarga, que saiam do círculo vicioso das críticas verbais a Brasília? Quais os projetos apresentados por suas bancadas no Congresso e como estão agindo para forçar o governo a debater suas propostas e votá-las no Congresso? Se existem, são quase secretas.

Enquanto não sairmos dessa armadilha de vivermos em permanente campanha eleitoral, não vamos avançar. Quando a sucessão federal estiver vencida, em 2010, já estaremos de olho nas eleições municipais de 2012. E aí não há clima para votar a reforma tributária, a reforma previdenciária…

 

Fonte: Diário do Comércio – www.dcomercio.com.br

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