Facebook Twitter Linkedin Instagram Youtube telegram
Conteúdo 9 de janeiro de 2009

O que esperar de 2009

Uma coisa dá para garantir: 2009 não tem cara de ano monótono.

Começando pelas eliminatórias da Copa do Mundo, será que o Dunga será Feliz em sua empreitada, ou se mostrará Zangado com a implicância da imprensa especializada? Dizem que ele é na verdade um Mestre das quatro linhas. Outros falam que o técnico é muito Dengoso para a função, ou que tira Soneca no primeiro tempo dos jogos e não faz as substituições razoáveis para a etapa complementar. Falar que quando ele espirra faz Atchim seria forçar demais a barra.

Essa rápida brincadeira com os anões mais famosos do mundo, além de homenagear o Zé Abbud, serve para lembrar que, em princípio, são sete os detalhes que determinarão a dinâmica econômica desse ano.

A primeira questão é dedicada ao tempo que ainda demorará para as turbulências do mercado de ações se arrefecerem. Apesar dessa variável não estar obrigatoriamente ligada à realidade dos fatos, a verdade é que os movimentos especulativos nas bolsas acabaram por ser uma das grandes causas da crise atual, lembrando que há poucos meses o crédito internacional estava tão barato que era captado pelas pessoas físicas para especular com ações. Isso é mais ou menos parecido com pegar dinheiro emprestado de um caro agiota para apostar na roleta de um cassino.

Nesse ponto, a situação parecia estar se acalmando em dezembro. Entretanto, já nos primeiros dias desse ano, a bipolaridade voltou a predominar, adiando mais um pouco o encontro de algum ponto de estabilidade que permita reconstruir gradativamente o que foi perdido na economia global.

Nos próximos dias teremos a posse de Barack Obama na presidência dos EUA, o que deverá ser recebido com novas ondas de turbulência (positiva ou negativa) nos mercados especulativos globais.

O segundo aspecto a ser tratado diz respeito, a própria questão da troca de poder na América do Norte.

Em resumo, a situação por lá é a seguinte: Obama está recebendo um país num dos piores momentos da sua história. A economia dos EUA entrou em um círculo vicioso do qual dificilmente terá condições de sair sem traumas. A população está excessivamente endividada; os níveis de inadimplência sobem; enquanto a disponibilidade de empregos diminui rapidamente.

A queda dos juros aos menores níveis históricos tem o objetivo de reaquecer o consumo. Mas isso significa induzir ainda mais o endividamento, aumentando a bola de neve. Ao mesmo tempo, o futuro governo federal promete engordar os investimentos públicos, em um contexto no qual as contas nacionais estão depauperadas pelas guerras e barbeiragens fiscais do governo Bush.

E aqui entramos no terceiro ponto, que consiste nas prováveis soluções ao problema norte-americano, que evidentemente compromete toda a economia global.

Entendo que são quatro os cenários possíveis: insistir na política atual de juros baixos e socorro financeiro às principais instituições do país em dificuldades; buscar alongar o perfil das dívidas das pessoas físicas para o longo prazo, dando margem para a retomada do consumo; centrar esforços em investimentos públicos de infra-estrutura como forma de gerar empregos em frentes de trabalho (orientação keynesiana); ou seguir o caminho contrário, qual seja, aumentar juros, proteger a economia das importações, trazer as fábricas de volta para o território norte-americano e virar, por algum tempo, as costas para o mundo.

Essa última possibilidade, evidentemente, é a mais indesejável para o resto do planeta. Mas não se pode desconsiderar a tradição do partido democrata dos EUA de maior protecionismo econômico, em contraposição a uma política externa mais simpática, desde que isso não prejudique o bolso de Tio Sam. Além do mais, não podemos desconsiderar que o governo norte-americano não tem mais capacidade ilimitada de endividamento, para esbanjar com pacotes de bondade em demasia. Eles, por mais poderosos que sejam, não são imunes à inflação e perda de credibilidade.

O quarto detalhe envolve as expectativas globais (afora os EUA) em relação à crise. Não há mais dúvidas de que 2009 será um ano recessivo para a União Européia e Japão. Os chineses falam em redução do crescimento para patamares próximos a 9%, mas alguns indicativos apontam para uma situação mais grave. Por exemplo, o país mais populoso do mundo reduziu em 30% suas importações da Coréia do Sul em novembro último. E as exportações brasileiras para lá, também em novembro, caíram gigantescos 60,5% em relação a outubro e 30% diante do mesmo mês de 2007. Um quadro desses, lamentavelmente, não tem harmonia com a idéia de uma nação em crescimento. A China pode, sim, entrar em recessão. Enquanto isso, a Rússia ficou sem crédito e corre risco de  passar por novo colapso econômico. No mais, pode até haver uma ou outra localidade no mundo que continue a crescer. Mas parece claro que nesse ano quase todos estarão apertando o cinto. Lamentavelmente não existem bases para adiantar, pelo menos no momento, que 2010 será muito melhor do que isso.

Mas tudo tem um lado bom, comentado agora nesse quinto ponto. A falta de dinheiro de crédito barato provavelmente está sendo um belo balde de água fria nas guerras que hoje em dia ainda flagelam o mundo. As restrições orçamentárias deverão fazer com que os EUA diminua sua presença no Iraque e Afeganistão. E tem até chances de que as eternas batalhas no Oriente Médio percam força. Por um lado, o orçamento bélico israelense deverá minguar por conta da limitação de verbas de aliados internacionais; por outro, os guerrilheiros do Hamas, Hezbollah, etc. perderão recursos para comprar armas, com os preços do petróleo a 1/3 do que eram há poucos meses. Assim, se eles quiserem continuar brigando, vai ter que ser no tapa. Talvez, dessa forma, mantendo um contato físico mais próximo, os habitantes daquela região finalmente aprendam que são todos farinha do mesmo saco.

Para o Brasil, reservamos o sexto ponto. A queda recorde da produção industrial do país comprova que aquela história de marola foi pura balela. Nossa economia está, sim, comprometida até o pescoço com a crise global, agravada por problemas internos no campo dos juros,  dívida pública e impostos em demasia.

Quem fala em desaceleração do crescimento está enrolando. O quarto trimestre de 2008 já vai fechar com recessão, a qual se propagará por um bom (ou mau) tempo.

A situação poderá ficar menos grave se o Banco Central aceitar o atual processo de desvalorização cambial, o que beneficiaria nossas exportações, mesmo no contexto de um mundo menos propenso a comprar badulaques. Mas comida, roupas, calçados, remédios e outros gêneros de primeira necessidade devem ter seu comércio menos prejudicado após o período agudo de turbulências, que dificilmente passará do final do primeiro trimestre.

Finalmente, o sétimo aspecto diz respeito a uma visão mais ampla da realidade. Indubitavelmente a situação atual do mundo é grave, sendo que somos forçados a admitir que é impossível dar garantia de que as ações dos governos e bancos centrais serão bem-sucedidas no sentido de reconduzir a economia na direção da prosperidade.

Acima de tudo, isso requer o resgate da confiança por parte dos empreendedores e consumidores. E será muito difícil que isso ocorra de acordo com os conceitos lógicos predominantes na atualidade. A saída, obrigatoriamente, passará pela inovação de produtos, das relações comerciais e humanas. E isso não tem nada de utopia. As crises sempre exerceram esse papel de redirecionamento da humanidade.

Por exemplo: o petróleo barato, em tese, inviabiliza o biodiesel e outras alternativas energéticas mais limpas. Mas isso tenderia a agravar os danos ambientais. Coincidentemente, as maiores montadoras de veículos do mundo estão sendo obrigadas a se reformular para não quebrar. Qual será a conseqüência disso no futuro?

E nessa mesma dinâmica, outros aspectos poderão ser marcantes em 2009 e nos próximos anos. Os avanços da tecnologia da informação e comunicação já permitem que profissionais em atividades intelectuais possam fazer seu trabalho sem sair de casa a um custo praticamente nulo. Vida sedentária? É só comprar um Wii e jogar tênis ou lutar boxe com a própria televisão.

O melhor é ficar de olho no que vai acontecer. A encrenca atual é realmente feia. Mas ela vai ser superada de uma forma ou outra (provavelmente outra). 2009, acima de tudo será um ano de aprendizagem para todos. E o que pode se esperar (mais no sentido de esperança do que de aguardar) é que as lições do ano sirvam para a construção de um futuro melhor.

Feliz 2009.

 

 

Eduardo Starosta é economista: eduardostarosta@uol.com.

Enersys
Savoy
Retrak
postal