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Conteúdo 14 de julho de 2008

Piorar antes de melhorar?

Deu no New York Times , no último dia 9: o índice Standard & Poor’s 500 caiu 29 pontos (queda de 2,3%), inaugurando, na opinião do jornal, o primeiro bear market (um período prolongado de queda nos preços das ações, acompanhado de um pessimismo generalizado) desde 2002. No mesmo dia, o índice Dow Jones , que mede a variação nos preços das empresas industriais na Bolsa de Nova Iorque , caiu 2,1%.

As bolsas de valores nos EUA servem de indicador antecedente do comportamento do PIB. Períodos prolongados de queda dos preços das ações indicam que se espera um desempenho pior das próprias empresas e, por extensão, do PIB. Um bear market indicaria uma forte desaceleração do crescimento nos EUA, com conseqüências importantes para a economia mundial.

A primeira delas seria uma redução do déficit comercial dos EUA. Somente em abril, o déficit na balança comercial (exclusive serviços) foi de quase 73 bilhões de dólares.

O déficit comercial americano é uma importante fonte de desvalorização do dólar, com grande impacto sobre as moedas dos países emergentes que têm suas taxas de câmbio atreladas ao dólar americano.

Uma redução na taxa de crescimento do PIB dos EUA se refletiria sobre as importações americanas (US$ 216 bilhões somente em abril) e reduziria o déficit comercial. A redução do déficit comercial estancaria a desvalorização do dólar e limitaria a valorização do real.

Um segundo efeito importante de uma desaceleração da economia americana seria a retirada de um importante componente na demanda por commodities no mercado internacional. Somada à demanda da China, Índia e de outros países emergentes, a demanda americana tem ajudado a pressionar os preços das commodities – do petróleo, particularmente – contribuindo para acelerar a inflação mundial.

Um desaquecimento da economia dos EUA frearia esse aumento nos preços.

Quotizado a R$ 1,60 por dólar, a moeda americana vale hoje em termos reais (isto é, corrigida por um índice de preços) aproximadamente a metade do que valia no final de julho de 1994, já que a cotação subiu 70% e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor mais que triplicou no período.

O resultado seria ainda pior se fosse apurado o valor real do dólar usando como deflator o Índice Geral de Preços da FGV. Da mesma maneira, os resultados se mostram calamitosos se a escolha da base de comparação for o segundo semestre de 2002, quando o dólar chegou a estar quotizado próximo de quatro reais. O valor real do dólar é claramente irrealista, já que o valor fixado para o primeiro dia de julho de 1994 – data de início do Plano Real – pretendia estabelecer uma paridade adequada para o dólar americano. Se o câmbio hoje, em termos reais, vale a metade do que valia em julho de 1994, alguma coisa está errada.

Até aqui, a elevação dos preços das commodities no mercado internacional tem sustentado o superávit na balança comercial brasileira, a despeito da acentuada queda até aqui observada e decorrente da valorização do câmbio. Medidas em volume, contudo, nossas exportações estão caindo, com ênfase na queda das vendas ao mercado externo de produtos manufaturados.

Reversões no comércio exterior tomam tempo. Se o dólar começar a valorizar – e, em conseqüência, o real a desvalorizar – e os preços das commodities começarem simultaneamente a se estabilizar, poderemos ter em 2009 uma redução adicional no saldo da balança comercial.

Além disso, se o câmbio der mostras de retornar a um valor real mais realista, a âncora cambial poderá começar a perder sua eficácia, justamente no momento em que a inflação brasileira está em aceleração.

O tempo de manter a política fiscal expansionista está chegando ao fim. A manter-se a situação atual, o Banco Central não segurará mais a inflação somente com aumentos nos juros. O ano que vem pode perfeitamente ser o momento de transição, com uma deterioração na situação econômica antes que o bom senso na política econômica volte a prevalecer.

Roberto Fendt é economista

Fonte: www.dcomercio.com.br

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