Facebook Twitter Linkedin Instagram Youtube telegram
Conteúdo 19 de julho de 2010

Planejamento em logística deve enxergar além do crescimento atual

A demanda por serviços de logística tem crescido exponencialmente, cerca de três vezes superior ao PIB, e algumas empresas especializadas estão dobrando o faturamento por anos seguidos. Sem dúvida é um indicativo promissor, pois esse movimento demonstra aquecimento de toda a cadeia produtiva, mas é importante que os responsáveis ajam com a cabeça fria. Paradoxalmente, esse evidente progresso camufla possibilidades perigosas para a área. É um ambiente que, mais do que em períodos de crise, exige um planejamento elaborado.

Expansões muito vigorosas devem, em primeiro lugar, fazer com que o empresário e os profissionais do setor avaliem até onde o crescimento é sustentável. O aumento da capacidade operacional tem que respeitar esse limite, principalmente quando a oferta de crédito é generosa e há estímulo fiscal para investimentos. Exageros agora podem causar ociosidade, e prejuízos, no futuro.

É realista prever que a curva ascendente dos negócios sofra uma inflexão em breve. Certamente as autoridades monetárias continuarão a intervir para conter o risco presente de inflação, há vários sinais de retração do consumo e, o mais importante para a área de logística, os gargalos da infraestrutura vão inviabilizar o ritmo crescente de embarques.

Está claro que o sistema de transporte, embarque e desembarque do Brasil está operando em sua capacidade máxima. Da mesma maneira, sobram evidências sobre dificuldades em obras que poderiam aumentar a eficiência no fluxo de mercadorias.

Há pouco tempo, o Ministério do Planejamento publicou em seu site (mas logo retirou do ar devido a reclamações de outros ministérios) um levantamento sobre problemas em diversos programas do Governo. No documento se destaca a informação de que 68% dos 161 principais projetos da área de transportes do PAC tiveram adiamento na data de conclusão. Os técnicos identificaram desarticulação entre os órgãos públicos, falta de pessoal e incapacidade de gestão de projetos de grande porte, entre outras incompetências que fazem um observador mais crítico duvidar de que esses planos saiam do papel.

Para completar o quadro, muitas notícias dão conta de que um provável corte orçamentário vai afetar em cheio os investimentos em transportes. Embora, como vimos acima, o problema não seja apenas falta de dinheiro, este é mais um complicador. Portanto, não é razoável contar com melhoras significativas na infraestrutura nos próximos anos.

Com a economia crescendo em ritmo de coelho e a construção de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos de tartaruga, vai ocorrer um choque entre essas duas realidades e afetar significativamente a demanda pelos serviços.

Tudo isso não quer dizer que o setor de logística não seja promissor, pelo contrário. O mercado, hoje estimado em R$ 300 bilhões, deve dobrar nos próximos 5 anos. No Brasil ainda existe um enorme potencial a ser explorado. Por aqui, apenas cerca de 5% das empresas tratam a logística com a importância devida, seja por meio de um departamento interno ou da contratação de um operador. No Japão e na Europa este índice é de 30% e nos EUA de 25%. Dadas as novas exigências da economia brasileira, mais e mais empresas terão que investir na área em busca de competitividade.

Ocorre, no entanto, que essas perspectivas exigem, agora, profissionalismo; e a verdade é que essa característica nunca se destacou no setor. Historicamente observamos as companhias especializadas, ou departamentos internos, atuando exclusivamente de acordo com as circunstâncias e se adaptando às necessidades imediatas (ou pressões) do embarcador, que nem sempre coincidem com seus interesses. Nunca houve, com pequenas exceções, um planejamento mais elaborado, de longo prazo, que analise as variações econômicas, trace um plano de negócios próprio e considere os prováveis obstáculos.

É necessário se libertar da condição de simples fornecedor, que atua apenas de acordo com a demanda diária. Chegou a hora de sentar à mesa com os clientes e propor uma estratégia integrada, com transparência de objetivos e divisão de responsabilidades. Por fim, a área de logística deve “arrumar a casa”. É urgente melhorar a gestão, capacitar a mão de obra e absorver as tecnologias disponíveis.

O setor de logística atravessa um excelente momento, talvez o melhor vivido até hoje, e as empresas e profissionais da área devem se posicionar a altura para aproveitar as oportunidades e se tornarem protagonistas do desenvolvimento do país.


Antonio Wrobleski Filho – Sócio da Awro Associados Logística e Participações; engenheiro com pós-graduação em Finanças e MBA pela Universidade de Nova York; foi presidente da Ryder Logística, além de diretor da Hertz e da DHL; recentemente comandou a fusão de cinco empresas de transportes e logística no ABC Paulista, operação que deu origem à Trafti Logística, empresa que presidiu durante o processo de fusão.
antoniowrobleski@gmail.com

Enersys
Volvo
Savoy
Retrak
postal