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Conteúdo 27 de março de 2009

Potências trocando tapas

O último relatório do Pentágono para o congresso dos EUA advertiu a respeito da rápida expansão bélica chinesa.
 
Sobre esse assunto, em primeiro lugar, é bom deixar claro que instituições militares como Estado-Maior norte-americano só justificam a sua sobrevivência se houver algum inimigo real ou hipotético a ser potencialmente combatido.
 
Porém, a despeito desse particular de cunho mais corporativo, a verdade é que na história da humanidade nunca chegou a existir uma real paz duradoura nas fases em que não era muito claro quem dava as cartas no mundo conhecido.

E  realmente, nos dias atuais, a crise econômica dos EUA e a falta de sucesso efetivo em suas últimas empreitadas militares, acabaram por criar certo vazio no posicionamento do país de xerife global, conquistado após a bancarrota da URSS.

Por seu lado, a China, ao mesmo tempo em que teve sucesso em rapidamente modernizar e tornar competitiva sua base econômica (com meios questionáveis, é verdade), esbarra atualmente na retração do consumo global, além de créditos da ordem de US$2 trilhões que podem virar fumaça caso a audaciosa política monetária de Barack Obama fracasse.

Diante disso, é inevitável o questionamento a respeito da necessidade de os povos saírem no tapa por conta de dificuldades econômicas. Aparentemente, o ser humano ainda carrega atavicamente um espírito meio predador, meio carniceiro, de atacar, em tribo, outros povos para seu próprio abastecimento.

O que ajuda a sustentação da paz é o fato de termos chegado à Era nuclear. Alguns países podem fabricar armas tão poderosas que qualquer guerra entre potências teria o poder de acabar com todos os beligerantes.

Simplificando, a China sabe que entrar em guerra com os EUA é suicídio e vice-versa. Porém, mesmo o mais poderoso dos leões tem que rosnar de vez em quando para lembrar aos outros de que é ele quem manda no pedaço. No oposto, se o bicho marcar bobeira, acaba perdendo a realeza para o felino mais forte que cobiça tomar conta de seu harém e matar seus filhotes.

Então, um em cada lado do mundo fica provocando o rival para garantir o respeito nas próprias vizinhanças.

Veja só: a reclamação norte-americana está baseada no aumento do orçamento militar chinês para US$ 70 bilhões, o que segundo os arapongas do Pentágono é um dado mascarado. A despesa prevista seria bem maior. Entretanto, os gastos dos próprios EUA com armas e outras engenhocas está orçado em mais de US$ 530 bilhões.

É um debate que não tem, aparentemente, como justificar, mas ele existe e muitas pessoas levam os argumentos a sério.

Espera um pouco: se admitimos que a tecnologia nuclear torna todos os países vulneráveis e sem possibilidade de vitória inquestionável em conflitos diretos com seus rivais de respeito, por que ainda existem trocas de ameaças?

Em primeiro lugar, porque as potencias têm, realmente, vários interesses geopolíticos conflitantes.

Mas o fundamental, é que a idéia do inimigo externo acaba sendo fator de união nacional, além de justificar polpudos recursos à fundo perdido para o desenvolvimento de armas.

Sim, mas e daí? Para que gastar com o que não deveria ser usado?

Além da idéia de segurança, a tecnologia militar acabou se consolidando como o terreno mais fértil para as principais inovações tecnológicas que hoje fazem parte do dia-à-dia da humanidade.

A internet, o celular, o forno de microondas, o chip, o GPS e outras coisas, são apenas decorrência dos esforços na obtenção das melhores tecnologias para se defender ou massacrar os outros. Os principais interesses atuais estão na exploração do espaço…

Se é assim, deixemos que EUA, China, Rússia e outros países com intenções dominadoras continuem se estapeando… pelo menos enquanto essas briguinhas mantiverem nos presenteando com produtos que melhoram a nossa existência.

É provável que seja das ameaças de guerra que saiam as tecnologias que tratarão de liquidar com a crise mundial.

Paradoxo interessante, não?

 

Eduardo S. Starosta é economista: eduardostarosta@uol.com.br

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