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Conteúdo 10 de agosto de 2008

Se enxergando na História

Quando se fala em história, o normal é as pessoas imaginarem algum passado distante do tipo Dom Pedro I gritando Terra à Vista; Napoleão Bonaparte lutando contra os exércitos de Trotsky, ou Aracy de Almeida interpretando Noel Rosa.

Aos adeptos da enfadonha verdade absoluta, apenas a última referência é puramente verdadeira. Mas subjetivamente, as outras não são completamente falsas. O primeiro imperador de nosso país pode ser considerado um dos principais arquitetos (mesmo que intuitivos) da formação do que hoje conhecemos como Brasil; e os encadeamentos dos fatos a partir da Revolução Francesa e do período napoleônico muito provavelmente criaram o ambiente político e filosófico para a revolução socialista que descambou na criação do império soviético.

Moral de toda essa confusão: a história não é nada linear e só pode ser realmente compreendida através de análises dinâmicas, deixando o romantismo um pouco de lado.

E quem consegue o discernimento para elaborar tal tipo de avaliação provavelmente vai procurar contextualizar a si próprio na contemporaneidade histórica.

Pois bem, estamos rapidamente rumando para o final da primeira década do primeiro século do terceiro milênio. O desmantelamento da URSS, o estraçalhamento do muro de Berlim; e a destruição das torres gêmeas do World Trade Center de Nova Iorque, já são imagens congeladas na memória da humanidade.

E o futuro? Será ficaremos como estamos hoje, ou a história vai prosseguir com novos episódios dignos de se perpetuarem nos livros que contam a trajetória da humanidade? Evidente que a segunda alternativa é a correta. Mas o que será que nos aguarda no futuro? Sofreremos mutações a ponto de nossas orelhas se transformarem em fones de mp3? Não, não vamos tão longe…

Mas algumas coisas já podem ser observadas na direção de transformações da realidade global no futuro.

Uma questão instigante é a teimosia dos dirigentes norte-americanos em resistir à recessão que ronda o país, mesmo que o custo de tal diretriz seja elevadíssimo.

Mas olhando o cenário mundial, é possível tentar entender o que está acontecendo. Em primeiro lugar, as relações de amizade entre países são naturalmente carregadas de cinismos. Sem entrar em maiores detalhes sobre isso, basta dizer que parceiros de comércio podem ser grandes inimigos geopolíticos. E é essa contradição que turbina as relações entre EUA e China.

E pelo jeito, os asiáticos estão levando a melhor no negócio. Até os anos 70, o povo chinês era um fiel servidor de Mao Tse Tung, que isolou a maior população do planeta do resto do mundo, sujeitando-a até a crises de fome para não dar o braço a torcer.

Mas o comércio é algo quase atávico na terra dos mandarins. E em poucas décadas, a China voltou a posição que teve em quase 90% da sua história de mais de 4 mil anos, como uma das protagonistas dos movimentos mais importantes da humanidade.

Então, se a regra de hoje é ter poder econômico, os chineses foram à luta e buscaram o poder econômico. Mas parece que eles estão indo bem além dos limites imaginados pelos norte-americanos que estavam ingenuamente de olho no mercado de 1,3 bilhão de pessoas.

De acordo com o FMI, o PIB dos EUA fechou em US$ 13,8 trilhões em 2007, contra US$ 6,9 trilhões da China. E na projeção do Fundo, a riqueza dessas nações em 2013 estará respectivamente em US$ 17,7 trilhões e US$ 13,8 trilhões.

E aqui vai a bomba: usando os mesmos critérios de previsão do crescimento do FMI para os dois países, os chineses deverão se tornar o maior gerador de riqueza do mundo em 2016, ou daqui a 8 minguados anos. No passado recente,  essa virada de mesa era projetada para daqui a 30 anos.

Mas o tempo passou; a economia norte-americana capengou; e a China prosperou…

Assim, com o bafo na nuca, os gestores yankees reviram suas próprias tripas para achar alguma energia para continuar crescendo de forma a adiar a perda da hegemonia econômica mundial. Mas por que isso é tão importante? Afinal, a China tem sete ou oito vezes mais habitantes que os EUA, fazendo com que esses últimos continuem com renda per capita muito superior.

Ora, países com Suíça e Luxemburgo são muito mais ricos que os norte-americanos na média por habitante, mas praticamente não apitam nas questões globais.

E que quem tem o poder da riqueza bruta, detém inquestionáveis vantagens, diríamos, persuasivas sobre o restante do planeta.

Foi assim, pelo menos, que Ronald Reagan derrotou os soviéticos na Guerra Fria (previsão acertada de Paul Kennedy): com a “guerra nas estrelas”, os norte-americanos impulsionaram ainda mais a corrida armamentista. A URSS, com um PIB menor, chegou a acompanhar os gastos dos rivais, mas não teve forças para cuidar ao mesmo tempo da educação, saúde e abastecimento da população, dentro do modelo de economia planificada existente…. e tchau para o socialismo de Lênin e Stalin.

Agora a situação é inversa. Quando a China passar os EUA em termos de geração de riqueza, deve disparar na frente em poucos anos. A não ser que alguma coisa seja feita pelos atuais líderes.

E nesse sentido, a primeira idéia que passa na cabeça é crescer mais. Mas isso – a não ser que algumas dezenas de novos Bill Gates surjam no Vale do Silício – está fora de questão.

Daí vem aquela outra opção normalmente inconfessável em público. Se você está começando a perder uma competição na qual a sua própria vida está em jogo, o mais lógico é mudar as regras… ou roubar! Partir para o próprio sacrifício, jamais!

E é de causar calafrios, quando projetamos tal pensamento para disputas econômicas e geopolíticas globais.

A história vai continuar; e novidades virão. Segurem os próprios queixos!

Eduardo Starosta é economista: eduardostarosta@uol.com.br

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