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Conteúdo 26 de março de 2009

Será que o G-20 aprendeu?

Uma certa ansiedade está se criando em antecipação à próxima reunião do grupo dos 20 – ou G-20, –que será realizada em Londres, para discutir o que esses países podem fazer com relação aos excessos nos mercados financeiros que conduziram à recente bolha da habitação.

Uma vez que os excessos foram amplamente desencadeados por ações governamentais, a melhor coisa que o G-20 poderia fazer é concentrar-se em limitar a capacidade das autoridades governamentais de gerar futuras bolhas.

A bolha habitacional foi o produto que surgiu a partir da fabricação de dinheiro e do crédito fácil pelo Fed, o banco central americano, enquanto este parecia não estar sendo avisado das atividades econômicas do país. Em 2001, recuperando-se ainda da explosão da bolha tecnológica do final de 1990, e depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, o banco central americano baixou a meta da taxa de juros de 6,5% para 1,75%. Em meados de junho de 2003, a taxa era de 1%. Neste período crucial, o Fed teve de aumentar o fornecimento dinheiro a uma taxa anual de 5% a 10% a fim de manter as taxas de juros baixas e dentro da meta desejada. Só que, no processo, taxas hipotecárias também vieram para baixo.

Esta alquimia monetária não foi diferente, na essência, da que levou ao crash de 1929. Durante os anos de 1920, o fornecimento de dinheiro cresceu mais de 60% no total, repetindo assim o que aconteceu no ato de Sherman de 1890, quando o governo injetou dólares na economia através da compra de prata. E isso foi o que causou a depressão de 1893.

O ex-presidente do banco central americano Alan Greenspan afirma que a economia externa foi o verdadeiro culpado da atual bolha habitacional, porque os chineses enviaram dinheiro em abundância para os Estados Unidos através da compra de títulos do Tesouro. Mas uma coisa que está sendo esquecida é que o banco central é que define a taxa de juros. Pela própria lógica de Greenspan, o banco central poderia ter estabelecido uma meta maior e tirado do sistema o excesso de dinheiro originado de investimentos chineses nos Estados Unidos.

Outros fatores que impulsionaram os acontecimentosforam os incentivos governamentais, que forçaram os bancos a dar empréstimos a pessoas que não poderiam pagá-los. Os incentivos tomaram a forma de Fannie Mae e a de Freddie Mac que compraram hipotecas de bancos e revenderam-nas com garantias.

Na reunião, o G-20 deverá também ter em mente a quantidade de regulamentações que já existem e como estas se revelaram ineficazes. Poucos meses atrás, em um artigo no Canada’s National Post, Pierre Lemieux, um economista da Universidade de Quebec, enumerou as normas e os organismos que regulam o sistema financeiro dos Estados Unidos. A lista incluiu os enormes poderes conferidos à Corporação Federal de Segurança de Depósitos de 1991 e 2002, a Lei de Sarbanes-Oxley, que expandiu a autoridade da Comissão de Comercio e Seguros, e a obrigação de também as sociedades financeiras avaliarem seus ativos a preços correntes, não importando quanto subdesvalorizados estes ativos temporariamente poderiam estar, além das 31 regulamentações administradas pelo Fed e, por fim, uma grande expansão dos orçamentos de todas estas instâncias reguladoras nos últimos cinco anos.

Todas as crises anteriores geraram novas regulamentações e o mercado, através da inovação, tem encontrado meios para se manter à frente. Quando isso vai parar? Será que isso ocorrerá quando o governo nacionalizar todo o sistema financeiro? Não, nem mesmo assim, uma vez que a resposta seria, sem dúvida um grande mercado negro.

Washington também contribuiu para a crise com o seu recorde em operações de salvamento de bancos irresponsáveis. Uma regulamentação retaliadora é mais poderosa do que o medo do fracasso, mas isto tem sido radicalmente removido de grandes partes do sistema financeiro.

Considere a situação ridícula da American International

Group – AIG – , um grupo gigante de financas internacionais, afiançado pelo governo americano, onde quase eclodiu um escândalo quando os políticos apreenderam os nomes dos mais importantes bancos americanos e estrangeiros que a AIG havia pago, após receber os fundos dos contribuintes.

Mas a pergunta é: não foi o resgate da AIG baseado na ideia de que se a companhia caísse, derrubaria junto toda sorte de importantes instituições a quem devia dinheiro?

Há alguns dias, o professor Kevin Dow, da Universidade de Nottingham, deu uma palestra em Londres sobre a crise financeira mundial. Ele ofereceu a definição clássica de um economista sobre gastos com o seguinte exemplo: um ônibus cheio de economistas seguidores de John Maynard Keynes –ou keynesianos – chega perto de um precipício e ainda existem alguns lugares vazios no veículo. Então, o G-20 é convidado a entrar e juntar-se com os keynesianos. É de bom alvitre guardar a piada em mente.

Alvaro Vargas Llosa é escritor, analista político, diretor do Independent Institute e colunista do The Washington Post

Fonte: Diário do Comércio – www.dcomercio.com.br

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