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Conteúdo 8 de setembro de 2009

Tendências no transporte rodoviário de cargas fracionadas no Brasil

As empresas em geral têm realizado intermináveis esforços para manterem-se competitivas em seus mercados. Nesse contexto a empresa de transporte de carga fracionada assume papel importantíssimo na transformação da cadeia logística como um diferencial competitivo.

Em transição para um ambiente cada vez mais dinâmico e menos estático, em que se prioriza o fluxo das informações e dos materiais, as empresas estão colocando em prática conceitos como Just-in-Time (JIT), Continuous Replenishement, Lean Manufacturing, etc, gerando resultados altamente positivos sobre os inventários. Para exemplificar, em 1980 os estoques representavam 8,5% do PIB norte-americano; em 2008 chegaram a menos de 3%. Menos estoques parados e mais caminhões em trânsito.

Se de um lado reduzimos estoques, por outro lado, ocorrerá uma maior pressão sobre os custos de transporte, em função do aumento do nível de fracionamento das cargas. A “atomização” dos pedidos e dos embarques torna a gestão do transporte de carga fracionada imprescindível para as empresas. Um importante fabricante mundial de eletroeletrônicos, por exemplo, reportou que em 2000 cerca de 10% dos seus embarques tinham múltiplas entregas; em 2003 já representavam 46% e em 2008 ultrapassaram 75%. Nos últimos 10 anos, segundo levantamentos realizados nos EUA, o peso médio por embarque diminuiu em 15% no transporte aéreo doméstico e 10% na carga fracionada transportada no modal rodoviário.

A redução do tempo de ciclo de pedido (tempo decorrido entre coleta e entrega) e a pontualidade na entrega são condições imperativas para competir nesse mercado. Como conseguir isso a um custo competitivo?

A atividade de contratação de transportes será cada vez mais encarada como uma atividade estratégica dentro das empresas devido ao impacto em custos e nível de serviços, e será cada vez mais comum a concentração de volumes em poucos prestadores de serviços. Os editais de concorrência serão tratados com extremo profissionalismo, o nível de exigência será cada vez maior e os embarcadores buscarão parcerias de longo prazo, atreladas a contratos.

Nesse novo ambiente empresarial, podemos apontar algumas tendências no mercado de cargas fracionadas.

Novas plataformas de distribuição serão desenvolvidas, principalmente em função da intensificação do e-business. Em comparação com o primeiro semestre de 2008, as vendas pela Internet aumentaram em cerca de 30%, atingindo algo ao redor de R$ 5,0 bilhões. Segundo o Ibope Nielsen, mais de 65 milhões de brasileiros com mais de 16 anos estão conectados à Internet. O número de computadores no Brasil alcançou a marca de 60 milhões, entre máquinas residenciais e corporativas. Com isso, proporcionalmente, há um computador para cada três brasileiros. A previsão é que, até 2012, o país tenha 100 milhões de computadores, o que equivaleria a um micro para cada dois habitantes.

Portanto, esqueça os tradicionais modelos de consolidação de cargas e de centralização dos estoques e prepare-se para um volume cada vez maior de entregas diretas aos clientes finais.

Para complicar ainda um pouco mais tudo isso, não se esqueçam da logística reversa! Para o embarcador um grande desafio; para as Transportadoras uma excepcional oportunidade!

O mercado continuará se expandindo a taxas superiores ao da economia em geral, e também acima de outros serviços logísticos. Análises realizadas nos EUA apontam que a receita das empresas de transporte de carga fracionada (US$/ton/milha) mais do que dobrou nos últimos 30 anos, principalmente em função de uma maior consolidação das cargas, maiores volumes e de preços superiores. Aqui no Brasil, o crescimento está ao redor de 20% a 30% ao ano, mas encontramos fenômenos como a JadLog, que apresentou um crescimento de 70% neste primeiro semestre, e prevê um aumento de 80% em seu faturamento em 2009.

Estimamos que o faturamento com cargas fracionadas triplique nos próximos 5 anos no Brasil!

O preço continua e continuará sendo o principal critério para a escolha do transportador de carga fracionada. A pontualidade na entrega aos poucos assumirá maior importância. As empresas de transportes precisarão racionalizar e reduzir custos administrativos e operacionais. A rentabilidade líquida sobre a receita de vendas no setor de cargas fracionadas está, atualmente, ao redor de 2% a 5% e se as despesas administrativas e de terminais não estiverem sob controle, a sobrevivência futura das empresas poderá ser comprometida. Em raros casos identificamos rentabilidades líquidas superiores a 5%, dificilmente ultrapassando os 12% alcançados nas melhores situações. Aliás, custear o transporte de carga fracionada é e continuará sendo um enorme desafio para as transportadoras! Elaborar tabelas de preços então, o que dizer? Qual a fórmula mágica?

Muitas empresas revisarão a sua malha logística e optarão por “enxugar” a rede existente; outras continuarão expandido rapidamente a sua área de atuação; a Planalto Encomendas, por exemplo, conta com mais de 100 filiais ou bases nos estados do Sul do Brasil. A criação de novas filiais e a manutenção da estrutura atual deverão ser criteriosamente analisadas, sob o ponto de vista mercadológico, operacional e financeiro.

As empresas do transporte de carga fracionada precisarão desenvolver alianças operacionais regionais para garantir ampla cobertura geográfica e prazos de entrega confiáveis. As grandes empresas deverão se concentrar nas principais cidades (polos) e capitais do Brasil e delegar a empresas menores e mais especializadas a distribuição nas localidades mais distantes. Rotas secundárias apenas deverão ser absorvidas à medida que se tornem economicamente viáveis.

Em função da intensificação da globalização, continuaremos assistindo a um crescimento significativo do transporte internacional e as empresas de transporte rodoviário de cargas fracionadas necessitarão se inserir nesse conceito, através de parcerias com os grandes Operadores Logísticos mundiais. Muitas desenvolveram a opção do transporte aéreo, apresentando excelentes resultados.

A concorrência se intensificará. No Brasil, nos próximos 10 anos, assistiremos a um aumento do número de empresas atuando na carga fracionada, para depois presenciarmos uma redução do número de transportadoras, e aí sim, constatarmos um aumento real e significativo dos preços do frete. Este é um processo que não ocorrerá em menos de dez anos e deverá estar consolidado até 2020. As empresas suportarão essa espera?

Também ocorrerá uma competição cada vez maior entre o modal aéreo e o rodoviário, por isso, as transportadoras deverão ampliar a sua área de cobertura e oferecer diferentes opções de transporte em função dos tempos de entrega, como já fazem atualmente os grandes Freight Forwarders como UPS, Fedex e DHL. Na Europa e principalmente nos EUA, em função da necessidade de se reduzir custos, têm ocorrido uma migração do cliente do modal aéreo para o modal rodoviário, que cada vez mais oferece soluções de curto prazo de entrega, e acima de tudo, altamente confiáveis.

Em 2005 a Fedex, pela primeira vez em sua história, registrou um número maior de embarques através de seu serviço de carga fracionada terrestre, superando o tradicional modal aéreo.

Para terem êxito nessa disputa entre modais, as empresas de transporte deverão disponibilizar um amplo menu de serviços que considerem diferentes prazos e preços para entregas emergenciais ou super expressas (em horas) com parcerias com o modal aéreo, entregas expressas (em horas, no mesmo dia), premium (entre 1 ou 2 dias), padrão ou standard (2 a 3 dias) e agendadas (prazo variável). Também deverá haver um alto comprometimento com o prazo acordado com o cliente; algumas empresas se autopenalizam e não cobram por fretes não entregues no prazo.

Não se esqueça de sua área de GRC – Gestão do Relacionamento com os Clientes. Mais que um SAC ou Telemarketing, desenvolva uma solução integrada de atendimento ao cliente.

Especializar-se valerá a pena? A especialização em determinados segmentos no transporte de cargas fracionadas deverá ser cuidadosamente estudada. Escala será vital para as grandes empresas, daí a necessidade de ampliar o raio de atuação; para pequenas e médias empresas poderá ser extremamente viável uma especialização em poucos segmentos.

A atuação em diversos segmentos inevitavelmente levará a problemas com a otimização cúbica dos veículos, gerenciamento de risco e ao controle do nível de avarias dentro de patamares aceitáveis. Imagine transportar em um mesmo veículo autopeças, cosméticos, têxtil, vinhos finos, computadores e produtos farmacêuticos?

Embora a TNT tenha realizado a aquisição da Mercúrio e do Expresso Araçatuba, as empresas brasileiras do setor de cargas fracionadas ainda não precisarão se preocupar com a ação dos grandes Operadores Logísticos internacionais, já que o foco continuará voltado para o mercado norte-americano, Europa Ocidental, Leste Europeu, China e demais países asiáticos, principalmente se a economia se recuperar a partir de 2010. A atuação dessas empresas aqui no Brasil permanecerá cautelosa e não deveremos presenciar novas grandes aquisições nos próximos anos, principalmente porque os empresários brasileiros do setor de transportes têm enormes dificuldades em valorizar as suas empresas no momento de uma eventual venda. Será mais provável assistirmos a fusões entre empresas nacionais. Por exemplo, imagine uma nova empresa oriunda da fusão de empresas como Rapidão Cometa, Expresso Jundiaí, Rodonaves, Transportes Bertolini, Mira e Translovato, formando uma empresa de mais de R$ 2,0 bilhões de faturamento anual, com sinergias que permitiriam uma redução nos custos operacionais e despesas administrativas de mais de 20%? Sonho ou realidade?

Este é o momento de otimizar as operações existentes, investir no capital humano e em tecnologia e de garantir a prestação de um bom nível de serviço. Tecnologia ainda é uma importante lacuna a ser preenchida. Ainda há muito para se fazer e muito espaço para agregar valor aos clientes internos e externos.

O crescimento desenfreado deve ser reavaliado. Priorizar receita e não a lucratividade tem sido um erro comumente cometido pelas empresas do setor. Cuidados com as armadilhas do crescimento. Ainda há tempo para ajustes e principalmente para um correto direcionamento estratégico, que garantirá o crescimento e sobrevivência das empresas de transporte de carga fracionada no futuro!

Marco Antonio Oliveira Neves – Diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística
marcoantonio@tigerlog.com.br

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