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Conteúdo 16 de fevereiro de 2009

Um velho filme que não merece reprise

O Brasil faz muito bem em se preparar para agir acionando (até preventivamente) os mecanismos que a Organização Mundial do Comércio (OMC) dispõe, para impedir a reedição de medidas de proteção aos seus mercados internos por parte da administração americana ou de países europeus.

No caso dos Estados Unidos – e apesar da reação do presidente Obama –- trata-se da inserção no Congresso do velho dispositivo do "buy american" pelo qual se garante a preferência de utilização de produtos fabricados no país na execução dos projetos financiados com recursos do plano de recuperação econômica votado na semana passada. O aço, o ferro e demais insumos para a construção de uma estrada terão que ter origem na indústria nacional e, seguindo essa trilha, se daria preferência de emprego na obra ao cidadão americano, em lugar de contratar um mexicano ou "similar".

As características de um processo dessa natureza são ruins em qualquer ocasião, mas na crise atual é uma verdadeira tragédia, porque ao contrário do que se argumentou ele leva, no final, ao corte dos empregos e não à sua preservação exclusiva para americanos. Nas discussões iniciais em que se analisava sua mensagem, Obama disse claramente aos congressistas: "Prestem atenção porque em 1929, início da Grande Depressão, nós começamos isso e vejam como tudo terminou!" Ele lembrou que o governo que precedeu o do presidente Roosevelt aprovou um conjunto de leis protecionistas muito forte, que pretendia proteger seu mercado de trabalho – algo como "trocar o emprego com meu vizinho", uma política que dizia mais ou menos o seguinte: "eu não me importo, dou emprego para o meu e deixo o vizinho desempregado"… A onda protecionista se alastrou aos demais países e produziu uma queda de 2/3 do comércio mundial. Os Estados Unidos, que eram o maior exportador, sofreram enormes prejuízos e os trabalhadores (lá e no resto do mundo) amargaram taxas de desemprego ainda mais formidáveis por um longo período.

O estrago da atual medida protecionista foi parcialmente corrigido com a emenda aceitando "bem, compre americano, mas é preciso respeitar os acordos que assinamos com os outros países…" Isso minimiza o prejuízo e certamente não é um grande refresco, mas de toda a forma mostra que eles começam a acordar com relação às conseqüências de um processo que inicialmente se imagina possa proteger o seu mercado interno. O protecionismo, na verdade, destroi empregos em toda a parte, aprofunda a crise em mais setores da produção e empurra a economia mundial para uma recessão que não precisa ser nem tão longa e nem tão destrutiva dos mercados de trabalho como foi a Grande Depressão dos anos 30 do século passado.

Não há nenhuma razão, nenhuma dose de sensatez em reprisar aquele velho filme. O Brasil terá todos os motivos para acionar os instrumentos da OMC, caso os Estados Unidos persistam em manter o programa "buy american". E isso é válido para deter iniciativas protecionistas em quaisquer outras regiões do globo.

 

Fonte: Diário do Comércio – www.dcomercio.com.br

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