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Conteúdo 26 de agosto de 2008

Vento amarelo no comércio internacional (2)

Comentamos que enquanto o mundo ocidental discute quem é o culpado por uma crise econômica que todos sabem de onde vem, mas fingem ignorar, nova tempestade se levanta no horizonte, que já tem a mesma cor cinza da poluição que os atletas encontraram no auto-denominado Centro do Mundo – a China e sua capital, sede das Olimpíadas-2008.

Uma revolução consistente está surgindo ali, e as armas são poderosas: um potencialmente gigantesco mercado interno – garantido pela forte escolarização básica atual e pela abertura contínua de grande número de postos de trabalho qualificado; auto-suficiência econômica – proporcionada pelo crédito cada vez maior obtido na balança comercial e nas aplicações financeiras internacionais; a grande infra-estrutura que vem sendo criada; o fato de ser tudo baseado nas mais recentes tecnologias, competindo, portanto, com vantagens com os parques industriais do resto do mundo.

Até mesmo as velhas acusações feitas à China tendem a cair por terra: a má qualidade dos produtos deve ser esquecida em menos de cinco anos, com as mudanças ora em curso nas indústrias e a busca pela excelência tecnológica; a questão do trabalho escravo tende a desaparecer, na medida em que num mundo de competição baseada em qualidade não há lugar para mão-de-obra escrava ou barata, já que esta não tem qualificação para atuar nas sofisticadas estruturas produtoras; a escala industrial absurda elimina a necessidade de subsidiar preços de insumos para tornar os produtos competitivos – eles o serão por si mesmos, em razão do grande mercado que alcançarão e da qualidade que terão.

A enorme capacidade compradora chinesa também forçará os mercados a seu favor. Para atingir o desejado equilíbrio na balança comercial, os países parceiros precisarão comprar para também vender. E a tendência é, portanto, que tais vínculos se reforcem, aumentando assim o potencial de vendas da economia chinesa.

Liberdade? Ah, sim. Não é difícil imaginar que, com toda essa evolução econômica, até mesmo um regime comunista verá vantagens em conceder liberdade plena aos cidadãos, pois não será preciso esconder o mundo aos chineses, eles poderão se orgulhar de um padrão de vida melhor que o de outras nações. E, para satisfazerem as necessidades dos clientes, antecipar seus desejos, obter novas idéias ou simplesmente fazerem negócios, mais e mais chineses precisarão se aventurar mundo afora, imergindo nas outras culturas. E, sem dúvida, tornar permeável a sua própria cultura, para que estrangeiros percorram seu território constantemente, na troca de experiências e tecnologia que hoje apenas se insinua. Limitar o acesso dos chineses ao mundo, se já é anacrônico e infrutífero hoje, mais o será nos próximos anos.

A propósito, nos últimos anos o país-sede da Estátua da Liberdade pouco vem fazendo no sentido de preservá-la. Seja em seu próprio território, seja nos lugares do mundo em que suas forças guerreiras intervêm. Afeganistão, Iraque, para citar apenas dois exemplos. Será tão absurdo assim prolongar nas mesmas direções os sinais que cada uma dessas culturas vem dando e imaginar, em poucos anos mais, uma China mais aberta ao mundo e mais livre do que os Estados Unidos? O tempo dirá.

Ou seja: o cenário chinês parece otimista, a não ser que venham à tona com muita força – e de forma descontrolada – as dissensões internas entre as inúmeras etnias e facções políticas, hoje sublimadas pelo férreo controle do poder central… Pode ser, mas também temos o direito de ser otimistas e imaginar que sempre é possível uma transição mais pacífica de um regime político fechado para uma democracia plena e aberta.

Como todas essas fabulosas mudanças já afetam e afetarão ainda mais o comércio marítimo internacional e a logística mundial de transportes? Veremos a seguir…

 

Carlos Pimentel Mendes é jornalista e edita o site Novo Milênio (www.novomilenio.inf.br): pimentel@pimentel.jor.br

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