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Conteúdo 15 de setembro de 2008

Vento amarelo no comércio internacional (4)

Que os ventos do novo comércio internacional sopram da China, já não restam dúvidas. Eles são cada vez mais fortes, e se para uns são agradável brisa, para outros parecem uma grande tempestade, capaz de fazer desmoronar suas edificações, pacientemente construídas ao longo de décadas. Afinal, a simples mudança do quadrante de onde sopram os ventos já provoca significativas alterações no cenário, ainda mais que tal fato era poucos anos atrás tão imprevisível como a derrubada do muro de Berlim pela população, numa noite de festa de novembro de 1989.

Não mudam significativamente apenas os grandes eixos do transporte marítimo. Portos ganham ou perdem força em função disso, e os mais favorecidos precisarão se adaptar para o recebimento de quantidades cada vez maiores de carga. Os portos menos favorecidos pelas mudanças econômicas precisarão encontrar formas de se reinserir na economia mundial, talvez oferecendo qualidade operacional, baixo custo e rapidez, ou ligação com uma eficiente rede terrestre na ligação com o destino final das mercadorias. Provavelmente, terão de oferecer simultaneamente todas essas vantagens, para continuarem atraindo as cargas.

È preciso que exista um grande entendimento entre os empresários particulares e os representantes do poder público, para que esses portos se mantenham competitivos, atraindo clientes, tanto na importação como na exportação. No mundo atual, apenas localização nada vale, pois portos vizinhos podem desviar as cargas e mesmo portos bem distantes – no caso brasileiro, os exemplos podem ser Belém, Itaqui, talvez até Buenos Aires (via bacia do Prata). Conforme as condições logísticas oferecidas, pode ser até mais vantajoso que uma carga com origem em São Paulo, uns 70 km distante do porto de Santos, viaje até um daqueles outros portos para embarcar num navio, em função da disponibilidade de navios numa ou noutra rota marítima, das demoras, dos custos e da eficiência de cada caminho de transporte. E se muitos pensarem da mesma forma, cria-se um novo roteiro de movimentação de cargas.

Por exemplo, no caso sulamericano, a atração chinesa, tanto via Leste como via Oeste, pode fazer com que as cargas atravessem o continente de forma paralela ao Equador, para embarque num navio melhor posicionado no Pacífico ou Atlântico Sul, sem necessariamente terem de passar pelo Atlântico Norte. Barreiras políticas eventualmente criadas nas ligações via Europa ou Estados Unidos também podem contribuir para que se forme uma tendência de as cargas viajarem apenas pelo Atlântico e Pacífico Sul. A oferta de rotas multimodais transoceânicas sulamericanas também pode atrair negócios, que hoje dependem do canal do Panamá, das ferrovias norte-americanas ou dos transbordos na Europa.

O balanceamento de cargas nos navios, entre importação e exportação, também pode constituir importante redutor de custos de transporte, e isso se consegue fazendo com que haja semelhança nas tonelagens de carga geral envolvidas no comércio entre a China e seus parceiros. A criação de ambientes favoráveis aos entendimentos com os chineses pode ser outro atrativo. Saber se expressar em mandarim pode ser decisivo nas negociações. Mais que isso, o entendimento da cultura chinesa, de suas superstições, de sua forma de pensar e agir, podem significar o fechamento de importantes negócios. Tanto quanto saber prospectar as possibilidades de abertura de novas negociações econômicas, através do intercâmbio cultural intenso e da troca de idéias.

Saber oferecer o produto certo na hora exata é uma arte que o mundo precisará cultivar em relação aos chineses. Preparar as condições logísticas para que esse produto esteja nas mãos do cliente no momento e lugar aprazados, em perfeita ordem, motivando a compra de novos lotes, é uma ciência. Quem conseguir unir melhor essa arte com essa ciência fica com o prêmio, que é ver a carga fluindo pelos caminhos desejados…
 

Carlos Pimentel Mendes é jornalista e edita o site Novo Milênio (www.novomilenio.inf.br): pimentel@pimentel.jor.br

 

Fonte: PortoGente – www.portogente.com.br

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