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Conteúdo 18 de setembro de 2008

Vento amarelo no comércio internacional (5)

Para que haja comércio entre dois países, é preciso que eles tenham o que trocar. Óbvio, dirá o leitor. Pode ser que um só tenha produtos e o outro só tenha dinheiro, então este compra e aquele vende. Mas o que se busca é que ambos tenham produtos para negociar, de forma que haja um equilíbrio entre as saídas e entradas de dinheiro. O que nem sempre é possível  – também é óbvio. Então, alguns desequilíbrios são válidos, desde que por certo tempo, ou que o déficit verificado nas contas entre dois países seja compensado pelo superávit nas contas entre o país deficitário e um terceiro país. Caso contrário, depois de certo tempo – novamente o leitor dirá que é obvio – um dos países não terá mais recursos para continuar comprando bens e serviços dos demais.

Por isso é que, se Brasil e China pretendem ter grandes parcerias, e a China está evoluindo tecnologicamente, agregando valor aos seus produtos, então o Brasil precisa também agregar valor à sua produção. Isto é, em vez de exportar minérios, incentivar a exportação de aço; em lugar de soja em grão, enviar ao exterior óleo de soja e outros produtos. E pensar também em parcerias que permitam exportar bens mais sofisticados – máquinas e equipamentos, aviões, programas de computador, serviços. Em cada setor, evitar sempre que possível o embarque de matéria-prima, preferindo em seu lugar o envio do produto acabado. Ainda que o acabamento seja feito numa fábrica chinesa instalada em território brasileiro (preferencialmente em parceria com empresários brasileiros).

Com isso, reduz-se a movimentação marítima necessária, pois em lugar de um navio transportar várias toneladas de matéria-prima, pode transportar apenas alguns contêineres do produto acabado. Evita-se assim o congestionamento nos acessos aos portos, contribui-se para a geração de empregos no próprio país, os serviços de apoio à carga (embalagem, transporte, seguro) serão também prestados sobre um produto mais nobre (o que permite um ganho maior, ao mesmo tempo que esse custo pesa menos no preço final, significando maior competitividade no mercado internacional).

Para uma rota marítima ser menos onerosa, é necessário que os mesmos navios que partem cheios também voltem cheios. Se um país exporta matérias-primas e recebe produtos acabados, há um grande desbalanço de cargas nessa rota, e isso acabará sendo repassado às cargas transportadas, na forma de fretes mais altos, maior ônus portanto com o transporte. Por outro lado, se é obtido o equilíbrio, a rota se torna mais atrativa, estimulando a competição entre armadores, e é isso que faz com que certos portos e países façam parte de uma rota internacional de comércio, enquanto outros ficam à margem, servidos por linhas secundárias de transporte.

Foi o que aconteceu no passado com o Japão. As grandes rotas marítimas eram entre América do Norte e Europa. A partir do momento em que os japoneses começaram seu desenvolvimento econômico, na década de 1960, aquele destino foi deixando de ser secundário, para se integrar à rota principal dos grandes navios porta-contêineres. E o mesmo já ocorre com vários portos chineses. Falta que o Brasil também consiga desviar para seus portos as grandes correntes de comércio marítimo, como fez o Japão em passado recente (óbvio, não?…)

Carlos Pimentel Mendes é jornalista e edita o site Novo Milênio: pimentel@pimentel.jor.br

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