Entidades discutem importância do Projeto Porto 24 Horas
Com os pátios de estocagem de contêineres nos terminais “molhados” cada vez mais congestionados, são necessárias ações urgentes para não prejudicar o fluxo de carga e melhorar a qualidade do serviço.
Uma das soluções defendidas pelo Comus – Comitê de Usuários dos Portos e Aeroportos do Estado de São Paulo (Fone: 11 3244.3500), pela ACSP – Associação Comercial de São Paulo e por representantes do setor é o projeto Porto 24 Horas, que prevê a realização ininterrupta de operações portuárias durante todo o dia, nos sete dias da semana.
O Comus elegeu este projeto como tema central de suas atividades no período de 2008/2009, realizando reuniões de trabalho para discutir os entraves a serem superados. Só no ano passado foram 11 reuniões exclusivas sobre o assunto.
Benefícios do Porto 24 Horas em Santos
O Comus destaca que a efetiva implementação do Porto 24 Horas garantirá maior fluidez da movimentação de contêineres no complexo portuário santista, formado pelo Porto, suas vias de acesso terrestre, bem como pelas instalações e áreas do retroporto. A consecução desse objetivo envolve, entre outros, aspectos de: Maior articulação operacional de exportadores, importadores, transportadores rodoviários, operadores de terminais de contêineres vazios (depots), operadores portuários e armadores;
Preparação e educação de exportadores e importadores no sentido de ajustarem a programação do embarque e do desembarque de suas cargas de maneira mais sincronizada com as saídas e chegadas de navios, de tal forma que os pátios portuários da zona primária (terminais “molhados”) sejam utilizados como locais de trânsito de contêineres cheios; e Horários ininterruptos de trabalho dos órgãos anuentes, como, por exemplo, a ANVISA, a Polícia Federal e a SRF, a fim de assegurar a liberação contínua de navios para carga e descarga e despachos contínuos de mercadorias de exportação e importação. |
Na reunião que aconteceu no último dia 12 de fevereiro, na ACSP, foi promovido um debate sobre a implementação na Baixada Santista do Projeto Porto 24 Horas sob a ótica dos depots de contêineres vazios, destacando as perspectivas de racionalização de processos e procedimentos inerentes à operação desses recintos.
O Porto de Santos foi responsável, em 2007, pelo escoamento de 27% do valor das exportações e 23% do montante das importações brasileiras. Portanto, o Comus acredita que o funcionamento contínuo do Porto é fundamental para assegurar ganhos de produtividade das instalações portuárias, aumentando a capacidade de movimentação de cargas e permitindo a redução de custos operacionais em nível de operadores portuários e armadores, ampliando-se, dessa forma, as perspectivas de redução de preços de serviços logísticos para exportadores e importadores, incluindo fretes marítimos e THCs.
Pelos dados da movimentação de contêineres em Santos, de 2001 a 2007, é possível observar a importância das operações ininterruptas. O total de unidades cheias e vazias movimentadas na navegação de longo curso e cabotagem cresceu 184%, passando de 893 mil para 2,5 milhões de TEUs, do início ao fim do período.
A análise desses dados revela, ainda, que a consignação média por atracação, em contêineres por navio operado, cresceu 82%, de 392 TEUs, em 2001, para 714 TEUs, em 2007. De acordo com o Comus, esse resultado mostra a importância crescente de os terminais “molhados” contarem com capacidades dos pátios de estocagem de contêineres cada vez maiores, para que seja possível realizar as operações de pré-estivagem das unidades a serem embarcadas e acomodar as que serão desembarcadas. Essa condição deve ser observada para assegurar as cadências (pranchas) das operações de carga e descarga nos berços em níveis compatíveis com as características tecnológicas dos guindastes de terra ou a bordo dos navios, avalia o Comitê no folheto explicativo do projeto Porto 24 Horas.
Abrindo o encontro, José Cândido Senna, coordenador executivo do Comus, fez um resumo das outras reuniões para situar os participantes e salientou a importância do foco nos contêineres: “o filé mignon das cargas”. Para que o projeto funcione corretamente, o profissional revelou a necessidade de investimento em Tecnologia da Informação, a fim de se ter uma gestão melhor dos fluxos de movimentação, sincronizados com a chegada dos navios. “Há custos envolvidos pela morosidade das operações. Na carga e descarga, o tempo é muito importante, pois ele impacta no valor do frete”, disse.
Também foi revelado que o Sistema Anchieta-Imigrantes, segundo a Ecovias, possui trânsito livre das 20 às 6 horas, horário que poderia ser aproveitado para o transporte de mercadorias até o Porto de Santos.
Principais solicitações do mercado
Padronização de procedimentos de entrega e retirada de contêineres vazios; Solução para problema de cobranças de avarias de terceira parte (TPL) pelos depots; Extensão do horário de atendimento; Diminuição das filas e tempo de espera para carga e descarga. Fonte: ABTTC |
Presentes na reunião, Marcelo Nobre e Claudia Celita Gonzáles, vice-presidentes da ABTTC – Associação Brasileira das Empresas Transportadoras de Contêineres e Terminais Retroportuários, falaram sobre a polêmica questão da remuneração do funcionário nas horas a mais trabalhadas para atender ao projeto. “Como um todo, é preciso regulamentar o trabalho das empresas que atuam com contêineres vazios, para nivelar o serviço”, disse Nobre. Isso porque, lembrou na ocasião Marcelo Rocha, presidente do SINDISAN – Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Cargas do Litoral Paulista, empresas de má qualidade oferecem serviços mais baratos e acabam prejudicando as idôneas, que podem sair do mercado.
Sobre a informatização dos processos, Rocha disse que é preciso favorecer a modernização com ressalvas. Segundo ele, o problema só foi transferido, de filas físicas para filas virtuais. “Oito horas é muito pouco tempo para trabalho em um terminal de contêineres”. Claudia concordou que, além da melhora no agendamento, é necessária uma melhora contínua.
Pela análise de Osvaldo Freitas Vale Barbosa, superintendente de Fiscalização de Operações da Codesp – Companhia Docas do Estado de São Paulo, também compondo a mesa na reunião, todos estão perdendo com a situação atual dos portos. “É preciso eliminar as filas e reduzir preços. Temos que nos unir para alcançar os objetivos”.
Outro importante projeto comentado no encontro foi o PSP – Porto Sem Papel, que estabelece um documento virtual único para processar e distribuir, em tempo real, as informações necessárias ao funcionamento do setor. Ele integra os órgãos e os ministérios envolvidos e reduz os custos operacionais. “O PSP vai agilizar muito a cadeia logística”, aposta Claudia.