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Conteúdo 18 de outubro de 2023

A tributação de produtos importados para o Varejo é o único desafio?

Recentemente, tem se discutido com bastante ênfase se o varejo brasileiro “acabou” com a penetração e o avanço de empresas internacionais em território brasileiro, como, por exemplo, SHEIN, Shopee e AliExpress, com suas plataformas eletrônicas, preços supercompetitivos e variedade de produtos, principalmente no setor de vestuário. Ações brasileiras como Renner (-32%), Guararapes (-5%), Arezzo (-10%), Grupo SOMA (-35%), dentre muitos outros varejistas, têm performado, até o momento, abaixo do índice IBOVESPA, que sobe 10% no ano – Dados até 11/10/2023.

Todas as discussões em torno da performance do varejo brasileiro têm focado na isenção ou tributação para importação. Entretanto, existe um assunto de suma importância que, muitas das vezes, não tem tido a prioridade devida: a gestão de estoque. As mudanças do consumo, seja pelo advento da tecnologia, ou até mesmo pelo efeito que o COVID causou no consumo, podem impactar significativamente a performance da empresa.

O giro de estoque é uma métrica que mensura a quantidade de vezes que o estoque é vendido ou utilizado em um determinado período – o recomendável é utilizar 12 meses para anular a sazonalidade de vendas dentro de período específico. Ele é utilizado para identificar se a empresa tem estoque excessivo em relação ao seu nível de vendas. Alguns utilizam a fórmula RECEITA LÍQUIDA/ESTOQUE, entretanto, para uma métrica de comparação entre empresas, é recomendado que se utilize:

Essa se torna mais efetiva, pois anula o markup (diferença entre o preço de venda e o preço de custo do produto). Em vias práticas, uma empresa pode praticar 3x o preço de custo e outra pode praticar 6x, de acordo com seu posicionamento de mercado. Sendo assim, se utilizarmos a Receita Líquida, o poder de comparação fica distorcido. Abaixo é possivel observar dados de algumas empresas brasileiras no período de 2017 até 2022.

A tabela pode ser interpretada da seguinte maneira: As Lojas Marisa, em 2017, giraram o estoque em 2,66 vezes no ano, diferente de 2022, quando girou 2,8 vezes, tendo a sua receita líquida estável, se comparada à dos anos de 2017 até 2022. Já a Arezzo&CO girou 6,49 vezes o estoque em 2017, contra 2,52 vezes em 2022, alcançando no período um crescimento médio de sua receita em 25% por ano.

Vamos começar citando a Omnicanalidade, que é uma abordagem de vendas e marketing que integra diferentes canais de comunicação e vendas para proporcionar uma experiência de compra unificada aos consumidores. Essa abordagem teve um impacto significativo no consumo de várias maneiras, como, por exemplo, experiência do cliente aprimorada, visto que oferece aos consumidores uma experiência mais fluida, permitindo que ele comece sua jornada de compra por um canal (on line, por exemplo) e finalize por outro, como a loja física. Essa experiência se desdobra em conveniência, flexibilidade, integração dos canais de comunicação e ciclo de compra contínuo.

Outro fator que impacta diretamente a gestão do estoque é o Ciclo do Produto. Podemos observar que ele vem diminuindo de forma substancial. Sua redução têm um impacto significativo na inovação, competição, comportamento do consumidor e nas operações das empresas, exigindo agilidade e adaptabilidade para acompanhar as mudanças rápidas no mercado. Com ciclos de vida mais curtos, as empresas são incentivadas a inovar mais rapidamente para acompanhar as demandas do mercado. Isso pode levar a avanços tecnológicos mais rápidos e à introdução de novos produtos com mais frequência.

O COVID trouxe à tona, de forma latente, a importância da Estabilização da Cadeia Logística. Na pandemia, todos puderam observar a escalada de preços e a ruptura de alguns itens. Uma cadeia logística estável é essencial para a eficiência operacional, satisfação do cliente, gestão eficaz de custos, inovação e, em última análise, para o sucesso e a competitividade de uma empresa no mercado. Uma cadeia logística estável reduz os custos operacionais. Previsibilidade nos processos de produção, transporte e armazenamento permite um melhor planejamento financeiro e reduz o desperdício.

Diante de cenários mais desafiadores, métodos convencionais de planejamento de estoque ficaram obsoletos, dando lugar a modelos que utilizam a Inteligência Artificial (IA). Sendo assim, a IA desempenha um papel crucial na melhoria da assertividade da previsão de demanda em cadeias de suprimentos e gestão de estoques.

A IA, através de algoritmos do Machine Learning, pode processar grandes volumes de dados de vendas passadas, comportamento do cliente, condições climáticas, eventos sazonais e outras variáveis relevantes para identificar padrões e tendências que seriam difíceis de detectar manualmente ou por modelos tradicionais. Com previsões mais precisas, as empresas podem otimizar seus níveis de estoque. Isso significa manter estoques suficientes para atender à demanda sem acumular excessos que podem levar a custos desnecessários.

Importante ressaltar que os comentários citados no texto levam em conta uma gestão eficiente do estoque, ou seja, que os produtos ofertados ao mercado estão não só aderentes com o público-alvo que a empresa deseja alcançar, mas às necessidades e desejos manifestados pelos consumidores. Todas as medidas de melhorias e evolução para a gestão do estoque terão pouca efetividade com produtos em desacordo com a estratégia da empresa.

Diante deste contexto, será que vale a pena seguirmos destacando unicamente a questão tributária como problema, ou faz sentido irmos além, considerando também a mudança de padrão de consumo, a nova forma de previsibilidade de demanda através de machine learning e a gestão de cadeia de suprimentos como drivers relevantes para os desafios que as varejistas atuais têm enfrentado?

Gustavo Nascimento Gustavo Nascimento

Consultor Sr. na Connexxion Consulting. Engenheiro de Produção pela UFSC, com MBA em Finanças (INSPER). Tem 15 anos de experiência em logística e Supply Chain, atuando como gestor em áreas financeira, de processos e de operações. Atuou em Operadores Logísticos como JSL, Multilog e BBM.

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