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Conteúdo 24 de outubro de 2023

Quem trabalha no ramo provavelmente já ouviu falar do SCOR® – Mas… o que é mesmo um modelo de referência?

Introdução

 

Em Supply Chain estamos constantemente preocupados com níveis de serviço, estoques, flexibilidade, confiabilidade, performance, projeções, prazos de entrega e uma infinidade de outros detalhes fundamentais para o nosso dia-a-dia das operações. Temos o produto certo, no lugar certo, na quantidade certa e em tempo? Somos competitivos? Conseguimos, enfim, reduzir custos, prazos de entrega e estoques?

Nossos colegas de Finanças têm uma perspectiva diferente, concentrando-se prioritariamente nas receitas e lucratividade, com a gestão de caixa num segundo lugar bem próximo.

Considerando que a linguagem financeira é (por excelentes motivos) dominante nos processos decisórios de qualquer empresa séria, começamos a entender porque executivos financeiros, mesmo compreendendo que uma gestão efetiva do Supply Chain é parte fundamental do sucesso do negócio, tendem a considerar nossa performance insatisfatória, por diversos motivos (dentre os mais comuns: nos falta “rigor financeiro”, “ficamos devendo” em eficiência gerencial, não oferecemos visibilidade dos impactos financeiros de nossas decisões).

A base da linguagem financeira moderna (a “receita” ou “bill of materials” deles) é algo parecido com a árvore do valore econômico agregado (“EVA tree” para os íntimos), grosseiramente descrita na figura 1.  A grande ironia é que, para surpresa de muitos, Supply Chain tem grande impacto sobre todos os componentes da “raiz” dessa “árvore”.

 

 

Figura 1. A árvore do Valor Econômico Agregado (a “receita” ou “bill of materials” de Finanças) tem cada uma de suas “raízes” fortemente influenciadas por Supply Chain

 

Olhando a cadeia de abastecimento como um todo, veremos que na vasta maioria das empresas Supply Chain é responsável por 60% a 90% do total de custos. Isso quer dizer que um ganho de 2% de eficiência em processos de Supply Chain equivale a 30.000-50.000% dos mesmos 2% em Sistemas, RH, Finanças, Vendas… alguma surpresa que todas as metodologias e técnicas de aperfeiçoamento de processos (Six-Sigma, Lean, BPR, ERP, ISO, MRP-II, TQM…) tiveram origem em Supply Chain?

Uma gestão superior de Supply Chain representa, portanto, fonte de enormes vantagens competitivas, como demonstra a figura 2.

 

 

Figura 2. Custos totais de Supply Chain (% das receitas) em algumas indústrias – as de melhor performance em cada indústria apresentam uma vantagem consistente da ordem de 50% sobre a respectiva mediana!

 

A ASCM (Association for Supply-Chain Management) acredita que o modelo SCOR® é uma ferramenta valiosa para alcançar a tal gestão superior, e a figura 3 ajuda a demonstrar isso, comparando durante quase uma década o desempenho agregado de 70 usuários listados na Bolsa de Nova York aos indicadores mais importantes do mercado.

 

Figura 3. Comparação do desempenho agregado de 70 empresas usuárias de SCOR® listadas na Bolsa de Nova York com os principais indicadores de mercado (Dow Jones e Standard & Poors) ao longo de 7 anos

 

Mas… o que é mesmo um modelo de referência?

 

Um modelo de referência de processos é uma ferramenta que coloca num único “pacote” as técnicas de reengenharia de processos, benchmarking, análise de melhores práticas e desenho organizacional, como demonstrado a seguir:

 

Figura 4. O modelo SCOR® junta numa única ferramenta técnicas de reengenharia de processos, benchmarking, análise de melhores práticas e desenho organizacional

 

Como o próprio nome sugere, essa ferramenta serve de referência para o desenho e/ou aperfeiçoamento de processos, avaliação de seu desempenho, análise de melhores práticas possivelmente aplicáveis e definição do perfil de competências das pessoas que terão responsabilidade por operar tais processos no dia-a-dia.

Cabe aqui uma consideração fundamental para o bom uso da ferramenta: um modelo de referência não é uma “receita de bolo” ou “bíblia” que deve ser seguida à risca e pretende ter todas as respostas. Isso gera muita confusão, pois as pessoas ouvem falar que o SCOR® é “uma referência” em Supply Chain e ficam com a (errônea) impressão que vão encontrar no mesmo todas as respostas.

Outro ponto que gera muita confusão para “marinheiros de primeira viagem” é a organização do SCOR® em vários níveis (do mais estratégico para o mais operacional). Essa característica (fundamental para o alinhamento da arquitetura da cadeia de abastecimento com a estratégia da empresa) torna necessário um bom entendimento do escopo geral da ferramenta, seu conteúdo e possíveis usos antes de partir para sua aplicação em projetos específicos. Apesar disso, é altamente aconselhável que as primeiras aplicações práticas sejam em projetos de escopo mais limitado.

 

Relacionamentos

 

O modelo SCOR® conecta processos, métricas, melhores práticas e tecnologias numa estrutura única, padronizada, hierárquica, interativa e interconectada, suportando o aprimoramento contínuo da cadeia de abastecimento. Acelerando a coleção de dados, reduz o tempo necessário para encontrarmos as respostas às questões básicas sobre nossa performance atual, causas de eventuais desvios e início de ações corretivas.

 

5 processos

 

Tratando-se de um modelo de referência de Supply Chain, o SCOR® é estruturado em torno de 5 grandes processos: Plan (planejar), Source (abastecer), Make (produzir, fazer – outro ponto passível de confusão: o modelo é válido tanto para operações industriais como comerciais ou de serviços, basta ter clareza sobre o que a empresa “faz”), Deliver (entregar para Clientes ou receber entregas de Fornecedores) e Return (devolver para um Fornecedor, ou receber devolução de Cliente).

 

Figura 5. O SCOR® está estruturado em torno de 5 grandes processos (Plan, Source, Make, Deliver e Return), se estendendo ao longo de toda a cadeia de abastecimento (do fornecedor do fornecedor ao cliente do cliente)

 

Como demonstra a figura 6, esses processos estão estruturados em 3 níveis de detalhamento, através dos quais podemos promover o alinhamento da arquitetura da cadeia com a estratégia da empresa para em seguida configurar cada categoria de processos (implementando as estratégias operacionais mais adequadas às necessidades do negócio) e finalmente definir os elementos de cada processo (dados de entrada e saída, métricas de performance, melhores práticas aplicáveis, sistemas de suporte e perfis de competência necessários aos responsáveis por nossos processos).

 

Figura 6. Os níveis de detalhamento dos processos

 

Esses níveis oferecem um passo a passo bastante natural para o alinhamento de projetos, propiciando uma conexão dos objetivos estratégicos do negócio à medida que pessoas de diferentes níveis hierárquicos aprofundam cada vez mais o detalhamento dos processos que compõe a cadeia de abastecimento, que por sua própria natureza apresentam níveis de complexidade muito diferentes (como demonstrado nas figuras 7e 8).

 

Figura 7. O conteúdo de cada nível do SCOR® se destina a atividades de diferente natureza e complexidade

 

Figura 8. O conteúdo de cada nível do SCOR® deve ser avaliado por diferentes audiências, em conformidade com o respectivo nível de complexidade

 

Métricas de performance integradas

 

Em paralelo aos padrões para desenho de processos, o SCOR® oferece métricas de performance que permitem tanto a amarração com os objetivos estratégicos, quanto a análise de causas raiz de eventuais desvios. Essas métricas foram desenvolvidas a partir dos 5 grandes atributos de performance com os quais podemos caracterizar qualquer cadeia de abastecimento (Confiabilidade, Responsividade, Agilidade, Custos e Gestão de Ativos), descritas em detalhe na tabela 9.

 

Figura 9. As métricas do SCOR® estão alinhadas em torno de 5 atributos de performance

 

Uma métrica é um padrão para medição da performance de um processo. As métricas do SCOR® também estão organizadas em 3 níveis: as de nível 1 servem para diagnosticar o desempenho da cadeia como um todo, são consideradas estratégicas e devem ser usadas como base para um benchmarking que ajude a estabelecer objetivos estratégicos realistas. As de nível 2 servem para diagnosticar as de nível 1, identificando a(s) causa(s) raiz de desvios de performance, assim como as de nível 3 em relação às de nível 2.

 

Melhores práticas

 

Para cada nível de cada processo o SCOR® apresenta uma relação de melhores práticas, que são formas pré-definidas de configuração de processos ou grupos de processos e podem estar relacionadas ao uso de processos de automação, tecnologias, sequenciamento de atividades ou formas diferenciadas de conectar processos entre organizações.

O SCOR® diferencia a maturidade das práticas, classificando-as como: emergentes, melhores, comuns e pobres, mas cabe ao usuário definir a aplicabilidade de cada prática à sua indústria, segmento, empresa ou unidade de negócio.

 

Pessoas

 

Pessoas talentosas estão no coração de qualquer cadeia de abastecimento que pretenda responder efetivamente aos desafios e oportunidades do negócio. O SCOR® inclui uma referência das competências (técnicas, comportamentais e experiência) necessárias para que esses profissionais possam exercer efetivamente suas funções, permitindo que os líderes da função alinhem estruturas com objetivos estratégicos. Essa referência está organizada em 4 áreas: competências básicas para execução do processo, competências críticas (que podem diferenciar os melhores candidatos a liderar um processo em particular), medidas de performance (métricas SCOR® relacionadas à avaliação contínua da performance em cada categoria de processo) e credenciamento de competências de gestão (incluindo programas de treinamento ou certificação relacionados às categorias de processos).

Competência é definida como a capacidade de alcançar resultados com níveis mínimos de esforço e é composta de níveis: experiência, aptidão, treinamento e qualificação. Os níveis de competência são categorizados em: novato, experiente, competente e especialista.

 

Conclusões

 

O SCOR® é um modelo de consenso que foi desenvolvido e é continuamente aprimorado com a participação direta de voluntários dedicados a desenvolver ou gerir cadeias globais de abastecimento, usando-o para analisar e aprimorar a performance de suas empresas. Dentre seus inúmeros benefícios se destacam:

– Rapidez na análise da performance da cadeia de abastecimento;

– Clareza na identificação dos gaps de performance;

– Eficiência no desenho e otimização da cadeia de abastecimento;

– Melhor controle operacional de processos chave padronizados;

– Simplificação de relatórios de gestão e estrutura organizacional;

– Alinhamento das equipes de Supply Chain em torno de objetivos estratégicos;

– Um plano de ação detalhado para o lançamento de novos produtos ou negócios;

– Sistematização das projeções e realização de ganhos em fusões e aquisições.

O uso do SCOR® torna o alinhamento da arquitetura e integração de cadeias de abastecimento com os objetivos estratégicos do negócio um exercício bem menos complexo, como destacam as figuras 10 e 11, mas isso é assunto para um outro artigo.

 

 

Figura 10. Alinhando a arquitetura da cadeia de abastecimento à estratégia do negócio

 

Figura 11. Componentes da arquitetura da cadeia de abastecimento

 

Referências

– Supply Chain Operations Reference (SCOR®) model Overview – Version 10.0 – Supply-Chain Council

– SCOR® 10 Reference Guide – Supply-Chain Council

– Linking Strategy and Operations – Define, Align and Perform with SCOR and SCORmark – Sean Culey, Supply Chain Council’s European Leadership Team

– What is SCOR® exactly – Dan Swartwood, Vice President of Process and Technology for Satellite Logistics Group

Elcio Grassia Elcio Grassia

Sócio Fundador e CEO da Nazar Systems, plataforma SaaS para digitalização da Cadeia de Abastecimento do Varejo Alimentar.

Vice Presidente da BSCA (Blockchain Supply Chain Association para o leste da América do Sul (Argentina, Brasil, Paraguay e Uruguay).

Sócio Consultor da Integrare Consulting, com foco em Logística e gestão da Cadeia de Abastecimento, tendo desenvolvido projetos para clientes como Ambev, Aqua Capital Partners, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Burguer King, Cacau Show, Carapreta Carnes Nobres, Comfrio, Consórcio Rio Energia,  FEMSA, FGV Projetos, Global Environment Fund, WalMart / Intelligrated, Mendes Junior, Novus, Radhakrishna Foodland, Secretaria de Logística do Estado de São Paulo, The Fifties e Vale, entre outros.

45 anos de experiência em Logística, Supply Chain, Operações, Gerência Geral e Desenvolvimento de Negócios em empresas como Havi Global Solutions, McDonald’s Brasil e América Latina, Martin-Brower Brasil e Nestle Brasil.

“Board Emeritus”, ex-Channel Partner e ex-membro do Global Research Committee da ASCM – Association for Supply Chain Management.

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