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Conteúdo 16 de novembro de 2009

Em análise, o ensino de logística no Brasil

Aqui, professores da área fazem uma análise do ensino da logística nos últimos sete anos, ­considerando ser esta a “idade” da revista Logweb. Eles falam do crescimento, das mudanças ­ocorridas, das carências e de outros tópicos.

“O ensino da logística apresenta algumas peculiaridades em relação às outras áreas profissionalizantes da administração. Trata-se de uma área de conhecimento com estudos relativamente recentes, pois a maioria das publicações e cases obteve destaque, no Brasil, nesta última década. Neste período, então, a logística passou a compor o rol das disciplinas de cursos profissionalizantes em nível técnico, de graduação e especialização. A emergência do tema e, muitas vezes, a escassez de publicações, têm exigido de empresários, professores e acadêmicos um esforço maior, buscando encontrar respostas/soluções para as diferentes situações do cotidiano das organizações. Contudo, esta situação não tem inibido o desenvolvimento do ensino e da pesquisa, ao contrário, estimula a produção do conhecimento e publicações inéditas. Deste modo, o ensino da logística, atualmente, tem conseguido avançar no ritmo que a atividade impõe. Respostas rápidas, excelência em serviço e a utilização de meios eletrônicos constituem a plataforma-base para o desenvolvimento da logística. Estes meios, também, são amplamente utilizados em seu estudo, certamente, é a área com a maior gama de material disponível em meios eletrônicos. Os sites e portais que enfocam o tema e que são alimentados tanto pela iniciativa pública, quanto pela iniciativa privada são referências básicas para a prática do ensino e para o avanço do conhecimento. Neste ritmo e nesta forma, o ensino da logística evolui.”

Adelar Markoski, Professor nos Programas de Pós-Graduação da URI – Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Multicampi – RS; UNOESC – Universidade do Oeste de Santa Catarina – Multicampi – SC; UNOCHAPECO – Universidade Comunitária Regional de Chapecó – SC; e IMED – Faculdade Meridional – Passo Fundo – RS

“O ensino da logística nos últimos 7 anos, período que marca, também, a expansão dos cursos técnicos e, principalmente, tecnólogos de logística, está em grande ascensão e poderia, no meu ponto de vista, estar mais avançado se não fosse a crise nas empresas que afetou o ensino nesta área. Muitas empresas também investem através de parcerias com Universidades nestes cursos para seus colaboradores. Outra mudança que vejo é a aceitação maior da graduação tecnológica de logística nas empresas e a quebra de paradigmas do conflito técnico e tecnólogo. Estamos em grande evolução neste sentido, porém há muito o que fazer ainda na área de ensino de logística. Crescem os cursos de pós-graduação e MBA na área, principalmente com foco na produção e serviços. Ainda temos dificuldades para o reconhecimento, no mercado, do tecnólogo em logística, mas num passado recente foi bem maior o preconceito, a cada dia conquista-se um espaço importante dentro da empresa. O que ajudou e muito neste reconhecimento foram os eventos e as grandes revistas do setor que tratam cada vez mais com propriedade o assunto e dedicam espaços importantes. Em 2002, em sala de aula, o público predominante era o masculino (numa turma de 32 alunos, apenas 3 eram mulheres), ainda continua esta predominância, porém houve um aumento significativo da participação das mulheres no curso (hoje de 32 alunos, temos 12 mulheres). A novidade está na oferta de ensino da logística, tanto no formato graduação tecnológica, como extensões, cursos e MBAs e pós-graduações em EAD – Ensino a Distância que vem crescendo muito nos últimos 2 anos e que já está inserido no dia-a-dia de muitas empresas que têm educação corporativa e utilizam este formato como investimento na capaci­tação do seu colaborador. O setor tem muito a oferecer no ensino da logística, e com certeza teremos novidades.”

Dalva Santanna, Professora do Curso de Logística da ULBRA – Universidade Luterana do Brasil, RS

“O curso da Universidade São Judas Tadeu, que hoje se chama ‘Gestão Integrada da Logística’, vem formando turmas desde 2002. Os alunos são de diferentes formações, sendo a maioria formada em Administração de Empresas e Comércio Exterior, mas tivemos alunos engenheiros, economistas, contadores, biólogos, de Letras, Comunicação Social e outras formações. Tivemos alunos em diversos cargos, de analista junior a gerentes, atuando em logística de suprimentos, planta ou distribuição, em operadores logísticos ou empresas de diversos segmentos. Os alunos priorizam disciplinas que aliem teoria à prática, sempre. O que tenho visto como a maior dificuldade para os alunos é o tempo para dedicar-se a leituras complementares, atividades extra-sala de aula e a pesquisas para a elaboração de trabalhos. Fora isso, há uma dificul­dade muito grande para concluir a monografia, já que poucos têm a cultura da pesquisa e há muita dificuldade para estruturar um trabalho científico.”

Ana Cristina de Faria, doutora em Controladoria e Contabilidade; Professora responsável pelos cursos de Gestão Integrada da Logística e Empreendedorismo e Gestão de Pequenos Negócios na Universidade São Judas Tadeu, SP; Professora adjunta do curso de Ciências Contábeis

“Destaco 4 grandes mudanças no ensino da logística nos últimos sete anos. (1) O ciclo de vida dos produtos, em geral, tem encurtado bastante. Um bom exemplo deste fenômeno é o aumento do consumo de produtos orgânicos pela população, em especial nos grandes centros urbanos. O fato é que estes produtos garantem uma melhor qualidade de vida, entretanto, pela ausência de conser­van­tes, precisam ser consumidos ainda frescos. Adicionalmente, quanto mais cedo estes produtos estiverem disponí­veis para os consumidores, mais estes estarão dispostos a pagar pelos alimentos. Tudo isso parece natural e fácil de ser cumprido aos olhos da população em geral, entretanto, na verdade requer uma melhoria significativa na prestação do serviço logístico, que precisa ser mais ágil e consistente. (2) O segundo fenômeno que vem revolucionando a operação logística é a rápida evolução da tecnologia de comu­nicação. Hoje em dia, as informações podem ser trocadas em tempo real, onde quer que os eventos estejam ocorrendo. Tanto nos depósitos, como no trânsito, os produtos podem ser rastreados em tempo real; operadores e motoristas podem trocar informações com as bases a qualquer momento. Isso faz com que o ‘gap’ (diferença) entre os processos (funções) gerenciais de planejamento e controle diminua, garantindo previsões mais eficazes e ajustes mais efetivos. (3) O terceiro fenômeno advém de um comportamento econômico: a oferta de produtos e serviço tem crescido mais que a demanda por eles. O resultado disto é o aumento do poder de barganha de quem vai às compras, ou seja, o consumidor. Desta forma, a logística precisa, mais do que nunca, ser estrutura­da a partir da percepção do desejo do seu público alvo, para ganhar a preferên­cia dos consumidores cada vez mais ávidos por um serviço especial e persona­lizado. (4) Por fim, e não menos importante, está o foco nos recursos humanos. Com a ‘comoditi­za­ção’ das tecnologias, os gestores estão percebendo que cada vez mais os funcio­nários é que fazem a diferença entre um bom e um ruim serviço logístico. Portanto, o profissional de logística deve aprender, cada vez mais, a lidar com pessoas e a mantê-las motivadas e empenhadas com as metas empresariais.”

Leonardo de Oliveira Pontual, Professor da Faculdade Integrada do Recife, PE

“A logística deve ser vista nos dois aspectos, enquanto disciplina na academia e como operação nas empresas. O tema, em seu início, era analisado de forma partida, cada operação analisada e estudada separadamente, fosse transporte, armazenagem, estoque, localização, distribuição. Apesar de se considerar que os referidos temas possuem muitos subtemas e que justificavam sua separação nos estudos, artigos e livros, a logística não existia, mas atividades separadas. Nas empresas não era diferente – ainda em fins dos anos 90 no Brasil, as empresas concediam cargos e espaço físico separados para as gerências de transporte e de logística. Com a crise econômica dos anos 80 no Brasil, em que as empresas competiam com suas próprias parceiras, e com a abertura comercial dos anos 90 houve a necessidade de se refletir sobre uma integração maior. A partir daí, a logística passou a ser vista como um conjunto de atividades integradas, até mesmo as mais valorizadas, como transporte e armazenagem. Com isso, no ensino algumas áreas começaram a se integrar como os estudos gerenciais (geralmente com um enfoque bastante qualitativo) e os estudos na área de Pesquisa Operacional (com um enfoque totalmente quantitativo), tornando-se complementares, e não excludentes. Nas empresas também houve essa integração. O próximo passo foi integrar não somente as empresas internamente em suas operações, mas em uma direção oposta à dos anos 80, uma união de empresas fornecedoras e clientes. Essa união, considerando as relações contratuais, do marketing e, claro, operacionais, levou a um novo termo que no exterior já era explorado 10 anos antes: a Gestão da Cadeia de Suprimentos ou Supply Chain Management. Assim, o ensino passou a ter que ser mais abrangente, incluindo os aspectos descritos anteriormente, como relações nos canais de distribuição, seus conflitos, as relações contratuais e a coordenação das cadeias. Nas empresas, a competição passou a ser entre as cadeias de suprimentos, e não mais dentro dessas cadeias. As pesquisas de campo na área demonstraram essas mudanças quando se observa, no momento, uma gerência de suprimentos/SCM que integra todos os aspectos da logística e se integra melhor com os demais setores antes separados e discriminados pelos engenheiros da logística, como o marketing e as finanças. Assim, o termo logística ganhou maior abrangência e há autores que o estudem como Redes, e não SCM, devido às relações estabelecidas a partir da integração de funções e de parceiros na cadeia de suprimentos.”

MSc. Priscilla Cristina Cabral Ribeiro, Professora assistente lotada no Departamento de Engenharia de Produção, Administração e Economia (DEPRO), na Escola de Minas, na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP); Doutoranda no Departamento de Engenharia de Produção, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Visiting Scholar – Utah State University (USU)

“Durante os últimos sete anos, esta área tem apresentado uma evolução, principalmente pelo fato de os cursos de logística, através de seus professores, alunos e profissionais, estarem desmistificando a ideia que se tem sobre a profissão, ou seja, quando se fala em logística pensa-se imediatamente em caminhão e almoxarifado. E durante esse período foi necessário trabalhar essa mudança de visão, que era retirar esse rótulo que envolve somente transporte e armazenagem, e demonstrar que a logística é, na verdade, um estudo que proporciona uma visão sistêmica de todo o processo, sendo ela um fator estratégico que envolve planejamento e operação, ampliando o horizonte de visão. E essa evolução no estudo da logística cada vez mais tem o papel de criar ferramentas para enfrentar a concorrência, o que consequente­mente leva à formação de profissionais especializados. Neste sentido, podemos dizer que a área de ensino na logística se atualiza constantemente, pelo fato de acompanhar as evoluções do que ocorre no mercado competitivo, o que faz esta profissão se tornar crescente e ganhar uma importância relevante na sobrevivência competitiva das organizações. A principal dificuldade encontrada na área de ensino da logística seria o fato de o curso estar tão ligado ao mercado que as instituições sofrem diretamente os impactos que nele acontecem. Como a formação é bastante específica, ou seja, se o mercado cresce, a procura pelo curso é diretamente proporcional. E isso muitas vezes impede o crescimento contínuo do curso. Pode-se dizer que, em contrapartida, temos como grande fator positivo que o indivíduo que busca fazer logística, o faz porque já está decidido a fazê-lo ou já trabalha na área. O que os cursos de logística têm proporcionado é, principalmente, a autonomia ao profissional – formam-se pessoas com uma maior capacidade empreendedora e com uma maior emprega­bilidade após o curso, lógico que isso depende daquilo que o aluno desenvolve ao longo do curso. O grande impulso nesses últimos sete anos tem sido o fato que a evolução que a profissão chegou e a competitivi­dade fazem com que a qualificação seja necessária, e sem nenhum tipo de qualificação não existe sucesso, tanto para a empresa, que deve, sim, investir na formação desses profissionais, quanto do indivíduo, que não deve ficar esperando apenas a empresa incentivá-lo. A grande novidade que tem se apresentado nos anos que passaram é a presença em massa da tecnologia de informação (TI), que tem ajudado tanto no planejamento quanto na operação, o que faz com que a área de ensino também esteja preparada para atender a esses requisitos que o aluno encontrará no mercado de trabalho. Além disso, a promoção de simu­la­ções e oficinas preparatórias têm ajudado bastante no desenvolvimento dos alunos. Pois, a cada instante surge uma nova tecnologia e uma nova forma de enxergar o mesmo processo, e estes fatores sempre geram ­novidades.”

Marcos Vinícius G. Ibias, Coordenador e professor do Curso de Logística da Unidade de Ensino São Lucas/ULBRA; Professor do Curso Superior de Tecnologia em Logística da Faculdade FTEC Brasil; Professor do Departamento de Economia da ­Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS

“Nos últimos sete anos, o interesse pelos cursos de logística cresceu consideravelmente no país, tanto no nível Lato Sensu (especialização e MBA) tanto no Stricto Sensu (mestrado e doutorado). No primeiro caso tivemos um crescimento do número de alunos, em especial de profissionais recém-formados ou com pouca (ou nenhuma) experiência na área. Também temos presenciado em salas de aula de MBA um aumento da presença de profissionais graduados em áreas distantes da tradicional dupla Administração e Engenharia. Por sua vez, nos cursos de mestrado e doutorado temos presenciado um crescimento do número de executivos, buscando, principalmente, atualização e conhecimentos mais específicos que possam ajudá-los em determinados temas ou projetos profissionais ou mesmo pessoais. Nesse caso, geralmente há também um claro interesse pessoal em fazer uma pós-graduação que vá além do Lato Sensu em termos de qualificação profissional, além da estratégica abertura para uma eventual futura atuação na vida acadêmica – corroborando
com a famosa frase: ‘parar de trabalhar e virar professor’.”

Sílvio Pires, Professor-doutor titular na UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba – SP; professor convidado na FGV Management – Fundação Getulio Vargas – Rio de Janeiro – RJ

“Alguns fatores já contribuíam para o destaque da logística como última fronteira a ser explorada para ganho de performance empresarial, como o desenvolvimento tecnológico, o aumento dos níveis de exigência dos consumidores e a concorrência globalizada. Mas nestes últimos sete anos, presenciamos o crescimento vertiginoso de um fator crucial para o estabelecimento definitivo da importância da logística no mundo dos negócios: a expansão do ensino desta já reconhecida área do saber social aplicado. Vimos a logística passar dos níveis mais superiores do ensino, como área de concentração em cursos de doutorado e mestrado, transitar pelas especializações, graduações e cursos técnicos e, agora, repousar nos formatos mais acessíveis de ensino, os cursos periódicos. Apesar de estar hoje disseminado por todo o planeta, o saber proporcionado pela logística ainda é pouco transmitido em linguagem acessível, restringindo-se às obras literárias de difícil entendimento e periódicos especializados. Especialmente no Brasil, li
damos diariamente com este tipo de problema quando trabalhamos com a inserção de jovens aos conteúdos relacionados ao tema. O iniciante tem que lidar com termos restritivos e conhecer relativamente marketing e produção, entre outras áreas correlatas ao Management. A mudança deste cenário passa pela produção de uma literatura básica voltada ao leigo, seja ele estudante, empregado ou dono do próprio negócio. Temos poucas iniciativas neste sentido, executando, muitas vezes, reproduções de obras americanas que incorrem no mesmo erro. É preciso fomentar projetos que propaguem os benefícios que podem ser colhidos com a aplicação efetiva das técnicas de otimização do fluxo material, financeiro e informativo, seja na empresa de grande porte, seja na padaria do Seu Joaquim. Certamente ele (Seu Joaquim) não entenderia nada do que foi escrito até então, mas se lhe fosse demonstrado que é possível, através de técnicas simples, fazer com que passasse a ganhar mais dinheiro vendendo um pão melhor e pagando menos por isso, obviamente se interessaria pelo assunto e procuraria aprender e aplicar tais técnicas.”

MSc. Claudinei Gonçalves, ­Professor de Logística e Produção no Ifes – Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Campus Linhares – ES

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