Facebook Twitter Linkedin Instagram Youtube telegram
Conteúdo 31 de março de 2009

País recicla 4 milhões de pneus por mês

O pneu gasto, conhecido como careca, aparentemente não possui nenhuma outra utilidade e é facilmente descartado em córregos e rios ou é queimado em beiras de estrada, liberando os mesmos poluentes dos combustíveis fósseis, como monóxido e dióxido de carbono, um dos causadores do efeito estufa. No entanto, o entulho possui diversas aplicações na indústria, desde combustível alternativo para fornos de cimenteiras até matéria-prima para solados de calçados, asfalto, pisos e tapetes de automóveis.

Hoje, a Reciclanip, entidade sem fins lucrativos criada em 2007 pela Anip (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos) para administrar a destinação correta dos pneus inservíveis recolhe 20 mil toneladas mensais. "Uma tonelada contém, em média, 200 mil pneus. Portanto, coletamos cerca de 4 milhões de itens por mês", conta Renata Murad, diretora da Reciclanip.

Desde 1999, quando foi criado um programa de coleta de pneus sem uso, a Anip já destinou corretamente um milhão de toneladas, o que equivale a 200 milhões de pneus. Para se ter um ideia, o volume é suficiente para equipar duas vezes a atual frota de automóveis do Brasil, estimada em 25 milhões de veículos circulantes, ou lotar o vão livre do estádio do Maracanã.

A partir de 2002, por conta da resolução número 301 da Conama (Câmara Técnica de Saúde, Saneamento Ambiental e Gestão de Resíduos do Conselho Nacional do Meio Ambiente), todos os fabricantes e importadores de pneus passaram a ter a responsabilidade de coletar os itens usados e inservíveis e destiná-los corretamente, já que são considerados passivo ambiental – têm tempo indeterminado de decomposição – representando riscos à saúde – já que é um dos principais proliferadores do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue – e ao meio ambiente.

Aplicações

Em torno de 80% dos pneus velhos coletados transformam-se em combustível para fornos de cimenteiras. "Eles são coprocessados e, por terem um alto poder energético (semelhante ao do coque de petróleo e superior ao do carvão), podem ser utilizados inteiros ou triturados", explica a diretora da Reciclanip.

Desse modo, essas indústrias deixam de utilizar combustível fóssil e contribuem para desacelerar o aquecimento global. Ainda lucram com a alternativa, pois os fabricantes de pneus, como Bridgestone Firestone, Goodyear, Michelin, Pirelli, Maggion, Levorin e Rinaldi, pagam às cimenteiras em média R$ 50 por tonelada ou 20 pneus, revela Renata. "Hoje o fabricante financia para que, futuramente, se crie um mercado a partir dos pneus inservíveis".

Os outros 20% são reciclados, sendo empregados na fabricação de artefatos – como pisos, mangueiras e tapetes para veículos – e asfalto (15%) e como matéria-prima para solado de sapato e dutos fluviais (5%).

Grande ABC recolhe 50 mil unidades a cada 30 dias

O pneu recolhido nas revendedoras, deixado pelo motorista quando uma troca é realizada, pode ser encaminhado a dois destinos diferentes: trituração ou recuperação. A região coleta, por mês, cerca de 50 mil itens inservíveis – que não têm mais capacidade de circular com os automóveis -, destinados à trituração. O índice refere-se às cidades de Santo André, onde existe uma caçamba próxima à Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), e São Bernardo, em que a Prefeitura se encarrega do recolhimento.

A única trituradora da região, a CBL Recicladora, de São Bernardo, contabiliza que dos 50 mil, metade provém de veículos de passeio e a outra parcela, de carga. Antes da crise financeira internacional, porém, "havia uma contribuição 20% superior por parte de pneus de carros de passeio. Agora, as pessoas usam os pneus por mais tempo", conta Amauri Marchi Jr., diretor da empresa.

Antes de serem desmantelados, os pneus têm o aro central retirado. Este é vendido à siderúrgica Gerdau. A reutilização do aço movimenta na empresa, por mês, cerca de R$ 100 mil reais. São 500 toneladas vendidas a R$ 150 cada.

A borracha dá origem a diversos subprodutos, que são destinados a finalidades diferentes. O chip, por exemplo, é uma fatia de 3 cm a 5 cm, comercializado a R$ 220 a tonelada para as cimenteiras, a fim de ser utilizado como combustível. Quem subsidia o negócio, entretanto, são os fabricantes de pneus que, além de remunerar a CBL, pagam também às cimenteiras.

O granulado possui formato diferente, é menor e mais espesso. O item geralmente é exportado para Estados Unidos e Europa para dar origem a pisos e isolamento acústico. "A Disneyworld compra o material para fabricar pisos coloridos", conta Marchi Jr. A tonelada é vendida por US$ 150, e responde por 20% do faturamento.

Outro subproduto é o pó, que por ser reprocessado diversas vezes e custa entre R$ 500 e R$ 900 a tonelada. Este é destinado para produção de tapetes de veículos e solado de calçados.

Empresa da região coleta 7 mil itens mensais

No Grande ABC, a operadora logística Alta Reciclagem Assessoria e Consultoria Ambiental coleta entre 5 mil e 7 mil pneus por mês. Do montante, entre 40% e 50% segue para trituração, e de 50% a 60% são vendidos para recuperadores.

Na realidade, este é o ganha pão de quem recolhe os pneus em revendedoras. O mercado de reciclagem, embora bem intencionado, é pouco remunerado. Os recuperadores pagam entre R$ 3 e R$ 30 por pneus, dependendo de seu estado.

Em alguns casos, as revendedoras inclusive vendem os pneus usados. "Ou fazem caixa dois ou dividem o valor entre os funcionários. Por lei os fabricantes têm de financiar a destinação correta dos itens usados. Mesmo assim pagamos de acordo com o que avaliamos, já que é nossa matéria-prima", diz Garré.

Já a trituradora – a Alta Reciclagem entrega para a CBL Recicladora – não paga pelo que recebe, e os fabricantes que solicitam consultoria e transporte das unidades descartadas nas lojas pagam em média R$ 180 a hora pelo serviço prestado, e não pelos pneus.

"Mesmo assim, continuamos no segmento pois acreditamos que, em alguns anos, será um grande negócio", conta Bruno Garré, consultor da empresa.

A Alta Reciclagem fornece, inclusive, um certificado de que o que é lixo, ou seja, os pneus inservíveis, são enviados à trituração.

Um negócio que pode vingar no futuro é a destinação das unidades trituradas para fabricação de asfalto. Até hoje, existe apenas um projeto no País, no Rio de Janeiro, de rodovia feita de borracha reciclada. Esse tipo de asfalto possui uma memória elástica que dilata e contrai enquanto os veículos circulam sobre ele, assim se adaptando melhor às variações de temperatura.

De acordo com a Reciclanip para cobrir um quilômetro de rodovia são necessários 4,6 mil pneus de passeio. Apesar de o preço ser quase 30% maior, o investimento vale pela preservação das estradas – já que não provoca rachaduras – e do meio ambiente.

 

Fonte: Diário do Grande ABC

Enersys
Savoy
Retrak
postal