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Conteúdo 1 de julho de 2008

A economia e as políticas

Declaro, inicialmente, que embora haja estudado Economia com Paul Hugon, na USP, tanto a história como a teoria dessa matéria, não me considero um economista. Mas considero os conhecimentos teóricos que adquiri, e a experiência prática que tive durante dezenas de anos como empresário, suficientes para as considerações que farei a seguir, fundadas numa reflexão mais abrangente que a de um mero especialismo. O especialismo tende a funcionar como um tapa-olhos intelectual que impede uma visão do óbvio que se acha fora de seu campo.

O fato é que da Teoria Geral , de Keynes, publicada em 1936 para cá, se passaram 62 anos e embora suas postulações continuem teórica e praticamente válidas para a compreensão de alguns fatos essenciais, relativamente aos investimentos e a medidas políticas práticas relativas ao comando de conjunturas econômicas, já não perdeu a capacidade de nos dar uma visão integrada de como realmente funcionam as economias nacionais e a economia mundial globalizada.

A razão deste fato reside no fato de que, desde suas origens aos dias de hoje, a Economia Política , como diz sua própria designação, é uma matéria cujo entendimento e operacionalidade transcende fatos meramente econômicos e meramente políticos. Metodologicamente, tanto a teoria demográfica malthusiana – de que a demanda cresce em proporção geométrica, enquanto a capacidade de produção tem limites de crescimento aritméticos – parece mais geral, atual e importante do que as postulações keynesianas e se aplica melhor à compreensão dos fatos correntes da economia mundial.

Magno e determinante na economia mundial é ter-se ela realmente tornado globalizado, com a conseqüência de que as políticas econômicas nacionais pouco ou nada podem contra as tendências conjunturais mundiais.

Políticas nacionais que tentam autarcizar a produção e a proteger seus mercados são derrotadas pelas leis mais poderosas da concorrência. E as teorias relativas ao poder dos juros e dos bancos centrais para controle da inflação se mostram inócuas para o controle da expansão do aumento do consumo, dos preços e da inflação. Como temos flagrante prova na atual conjuntura brasileira.

Um olhar global sobre o mundo globalizado transcende a visão que a Teoria Geral keynesiana é incapaz de nos proporcionar, já porque ela foi escrita para um cenário que, se não deixou de existir, se tornou secundário na realidade presente.

Omercado econômico mundial atual engloba a demanda de nações e povos como a China, a Índia e outras nações de população bilionária, cuja demanda de commodities (gêneros alimentícios e energéticos), ultrapassa de muito a oferta produtiva mundial.

Assim, é óbvio que o preço desses bens detonará uma tendência inflacionária mundial e, em decorrência, uma anulação de todas as políticas sociais que visam a combater a pobreza e as desigualdades econômicas, as quais, diga-se de passagem, ao aumentar o bolso econômico com bolsas políticas, contribuem para o aumento da procura sem contrapartida do aumento da oferta, e, conseqüentemente, da inflação que sacrifica precisamente as classes mais necessitadas. Como aliás, já se vem verificando entre nós.

Não pretendemos que estas breves e sumárias reflexões estabeleçam um limite trágico, fatal e intransponível para a realidade econômica mundial e nacional. Enfocamos como urgente e prioritária uma revisão do pensamento e das práticas econômicas de rotina. Apenas, como exemplo, no que se refere aos recursos energéticos, há numerosas outras fontes disponíveis e não exploradas adequadamente, como a energia solar, a eólica, a das marés e outras tantas que a tecnologia disponível não tem estudado com a amplitude que merecem.

Falta, isto sim, o que, a seu tempo, Bacon denominou de uma emmendatione intellectus , a qual supõe uma reforma muito mais difícil, que é a dos interesses constituídos e da vontade correspondente.

Benedicto Ferri de Barros é escritor pajolube@terra.com.br

Fonte: www.dcomercio.com.br

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