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Conteúdo 10 de março de 2009

Custo Brasil (2)

Quando o Brasil se libertou do jugo português em 1822 e passou a ser controlado diretamente pela Inglaterra – quem duvidar, que se aprofunde nos estudos históricos, a começar pela constatação de quem foram os reais beneficiários da abertura dos portos brasileiros às "nações amigas" em 1808 –, pouca coisa mudou no já citado triângulo do Custo Brasil, que tem seus vértices na incompetência, na burocracia e na ganância.

Por exemplo, o Brasil teve de aceitar um empréstimo inglês em 1824 (repactuado em 1829 a juros extorsivos e que ainda em 1859 era alvo de novas negociatas sob pressão inglesa), como contrapartida pelo reconhecimento inglês da independência nacional. Suprema ironia: ficou dependente para ver reconhecido seu estado de nação independente!

Quando José Bonifácio, o santista patriarca da Independência Brasileira, tentou dar melhores rumos à nação, em bases mais modernas, a reação se impôs, de diversas formas, pois não havia interesse em mudar uma situação que agradava a certas elites dominantes, que se aliavam ao capital estrangeiro para negócios no mínimo classificáveis como "estranhos". Até caixões mortuários tinham de ser importados da Inglaterra. José Bonifácio foi exilado, voltou mais tarde, e apesar de algumas de suas idéias serem ainda hoje consideradas modernas, elas não foram implantadas.

Era preciso criar uma ferrovia para ligar o florescente Porto de Santos às zonas produtoras de café no interior de São Paulo. Após várias tentativas, o Barão de Mauá iniciou o audacioso projeto de transposição ferroviária dos 800 metros de altura da Serra do Mar. Em certo momento, sabotagens políticas e financeiras, com a participação dos banqueiros em Londres, fizeram com que Mauá se arruinasse e deixasse o empreendimento, que assim foi assumido pelos detentores estrangeiros do capital.

Veio a República, mudaram as figuras no poder, mas a cada tentativa os grupos interessados em manter o status quo se reorganizavam, aplicando os mesmos métodos. Na Paraíba, Delmiro Gouveia, empresário pioneiro do ramo têxtil no Nordeste Brasileiro, tornou-se também um mártir do empresariado nacional, ao travar uma batalha contra o monopólio inglês Machine Cottons, produtor de linhas de costura que ainda hoje atua em toda a América Latina com o nome Linhas Corrente (Coats Corrente ou Coats PLS). Não teve do governo brasileiro o mesmo apoio que a empresa estrangeira, sendo vencido por esse monopólio. Assassinado em 1917, logo em seguida seus filhos venderam a fábrica para a poderosa concorrente, que mandou destruir os equipamentos e jogar os escombros no Rio São Francisco.

O primeiro centro comercial do Brasil, o Derby (criado pelo mesmo Delmiro Gouveia em 1893 no Recife), havia sido incendiado em 2 de janeiro de 1900 pela polícia, a mando do governador pernambucano, seu inimigo político.

No início do século XX, o serviço da dívida externa brasileira já absorvia 40% da receita do Tesouro Nacional, e o país continuava a contrair novas dívidas, para pagar pelo consumo de manufaturados que não podia produzir, dado o domínio estrangeiro, traduzido em sabotagens e outros métodos para inibição da capacidade industrial brasileira. E certas elites nacionais, trabalhando contra os interesses do país, enriqueciam facilitando as coisas para estrangeiros e dificultando-as para a iniciativa brasileira. A maioria das principais obras da época tinha a participação direta de estrangeiros, que dominavam as construções portuárias, os serviços de transporte urbano, água, energia elétrica pública e domiciliar, saneamento, gás e carvão etc.

Carlos Pimentel é jornalista.

Fonte: PortoGente – www.portogente.com.br

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