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Conteúdo 25 de junho de 2008

O cavalcante e os cavalgados

Reza a lenda política pernambucana, em períodos ainda de Repúblicas mais antigas, que em Pernambuco, onde a família Cavalcante dominava as coisas políticas e os negócios públicos, que no estado coabitavam apenas dois grupos: os cavalcantes e os cavalgados – a oposição e o povo em geral. Trocadilho à parte, a imagem encaixa-se perfeitamente na nova crise de identidade -agora da idade adulta – que assola o PT e ofusca o brilho de suas relações mais ou menos conturbadas com sua estrela maior, a única com luz própria na constelação petista – o presidente Lula. O sol e seus satélites vivem um momento de caos sideral, embora nas aparências tudo esteja no melhor dos mundos.

O PT dá demonstrações de que não está mais disposto a ser um simples siderado de Lula, à sombra do qual cresceu, disputou quatro vezes a Presidência sem dar vexame e ganho oito anos no comando geral da República. O PT quer ser protagonista de primeira, até porque não terá mais Lula numa chapa presidencial.

O governador de Minas, de olho em alguma simpatia de Lula para sua postulação – e também ciente de que não dá para brigar com quem tem tanta popularidade – cunhou a expressão Pós-Lula para designar do seu projeto brasiliense. Nada de Anti-Lula . Até o paulista José Serra, embora mais crítico do que Aécio, não bate de frente com o presidente.

Quem parece encarar com obstinação este papel de anti-Lula é o PT, partido que ajudou a transformar-se numa das maiores forças políticas nacionais. E não se trata, no caso, do apetite digamos "negocial" que o partido adquiriu quando chegou lá cima, fonte de desgaste também para a presidência. É o jogo político do dia-a-dia que põe em risco a sustentação parlamentar do governo.

Não há partido ou líder da coalizão governamental que não tenha queixas do PT e, por conta disso, não tenha ameaçado – e às vezes concretizado –criar complicações para os planos governamentais. E isso normalmente aumenta os custos dos acordos. Sem contar que tais atitudes podem incendiar o Congresso nos dois últimos anos do mandato de Lula.

A maior parte dos aliados está irritadíssima com o que PT vem aprontando nessa fase da sucessão municipal. A obsessão do partido em ser o cabeça de chapa na maioria dos casos, incomoda. E pode ter troco. O PT sempre dirá que fez concessões. Fez, sim. Mas menos do que os aliados gostariam e os operadores políticos mais próximos de Lula acham conveniente. Além do mais, o comando petista decidiu contrariar o presidente em alguns lugares-chave no xadrez político que ele está montando para 2010, para eleger, sem sufoco, um sucessor de sua confiança. Foi assim na Bahia, onde o PT abandonou a aliança com o atual prefeito de Salvador e preferiu lançar candidato próprio com poucas chances. Isso ampliou as possibilidades de êxito do DEM e do PSDB, partidos que Lula quer derrotar (se não humilhar) no País.

Não tenham dúvidas de que isso irritou o PMDB e foi o responsável pelo apoio peemedebista ao prefeito Gilberto Kassab, com a benção não tão discreta do governador Serra. Com isso, quem quase ficou isolada foi Marta Suplicy, salva na última hora por uma ação direta de Lula junto ao bloquinho . E logo no berço do tucanato – para Lula, derrubar os tucanos e o DEM em São Paulo é chave para 2010.

No Rio, o PT queimou duas pontes. Primeiro, detonou um acordo prévio com o governador Sergio Cabral ao impor candidaturas próprias em cidades fluminenses nas quais os peemedebistas dominam. Depois, ao recusar-se a apoiar Jandira Feghalli, do PC do B, para facilitar a adesão do bloquinho ao grupo de Marta. Há um preço a ser pago por isso, no futuro. E em Belo Horizonte o PT mantém uma obstinada resistência à entrada formal de Aécio na chapa que o partido montou com o PSB. O PT diz que é para não dar força para o tucano Aécio. Sabe-se, porém, que são outras coisas: ciúme das relações do mineiro com Lula, questões de disputas regionais do Estado e temores com o crescimento do prefeito Fernando Pimentel, um crítico dos grupos que comandam o PT nacionalmente há anos.

A realidade é que esse grupo não quer que as rédeas de 2010 fujam de suas mãos. Como demonstram as agruras pelas quais está passando a ministra Dilma Roussef, também uma estranha em tal ninho. Estaria ela na berlinda se não fosse, no momento, a preferida de Lula?

O comando do PT está espalhando mágoas para todos os lados. Conseguirá levar adiante, sozinho, seus planos de continuar mandando em Brasília, ainda mais sabendo-se que não terá Lula como puxador direto de votos? É uma aposta arriscada.

José Márcio Mendonça é jornalista e comentarista político

 
Fonte: www.dcomercio.com.br

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