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Conteúdo 6 de março de 2009

O decisivo primeiro trimestre de 2009

Uma análise dos dados relativos à economia brasileira em 2008, considerando-se os números totais de janeiro a dezembro, estaria muito distante de caracterizar retração. Ao contrário, as estatísticas indicam recordes de produção e vendas em vários segmentos, como o automobilístico. No entanto, é necessário fazer avaliação específica do quarto trimestre, considerando ter sido outubro o fatídico mês da internacionalização da crise nascida nos Estados Unidos. Infelizmente, a performance do nível de atividades foi atingida. Os efeitos negativos, é verdade, foram atenuados pelo movimento relativo ao Natal. A pergunta engasgada na garganta de empresários e trabalhadores de todos os segmentos está focada nos primeiros três meses de 2009, quando terão se esgotado os efeitos inerciais do crescimento econômico de 2008 e do estímulo de consumo do final de ano.

Há dois fatores cruciais para que o Brasil enfrente a crise mundial com melhores chances: o restabelecimento do crédito e da liquidez e o resgate da confiança dos consumidores e agentes econômicos (é óbvio que o segundo item é totalmente vinculado ao sucesso do primeiro). É preciso reconhecer que o governo tem feito esforço no sentido de estimular o nível de atividades. A desoneração tributária da indústria automotiva, a criação da nova alíquota do Imposto de Renda, a possibilidade de utilizar as reservas cambiais para financiar as empresas brasileiras no Exterior e a flexibilização dos depósitos compulsórios são medidas importantes e acertadas, representando a injeção de recursos superiores a R$ 250 bilhões.

No entanto, uma boa idéia somente apresenta resultados quando colocada em prática. Pois bem, para que as providências anunciadas pelo governo sejam positivamente sentidas no chão de fábrica, no comércio, no agronegócio e nos serviços, faltam duas medidas adicionais: a redução dos juros, pois não adianta ter dinheiro disponível se as taxas para sua captação mantiverem-se incompatíveis com o cenário de incertezas; e o caráter compulsório da disponibilização, para financiamento e crédito, dos R$ 135 bilhões injetados no sistema financeiro pela liberação do compulsório retido pelo Banco Central. Não há dúvida de que tais iniciativas seriam significativo passo para dar mais confiança ao empresariado e estimular a economia.

Além dessas questões pontuais, há um tema estrutural que o Governo Federal, senadores e deputados deveriam encarar de modo prioritário: a reforma tributária, que, independentemente da crise, representa o maior problema para os empresários (68,4% do total ouvido em consulta realizada pela Federação das Indústrias do Estado do Acre – FIEAC entendem ser esse o mais grave obstáculo ao desenvolvimento dos negócios).

Um exemplo pontual de como a garantia de recursos para sustentar os investimentos é essencial ao Brasil encontra-se no Acre. As perspectivas da economia local estão intrinsecamente ligadas à indústria da construção civil, em empreendimentos públicos e privados. Também são importantes as obras das usinas hidrelétricas do Complexo do Rio Madeira, com impacto expressivo na economia acreana. Desse modo, são cruciais mais recursos para crédito, de preferência com juros menores e desoneração tributária.

No tocante aos números globais de 2008, o Acre não fugiu à regra nacional. Dados da FIEAC indicam que as vendas da indústria de transformação, em termos reais, cresceram cerca de 25%, com destaque para junho e julho. O emprego no setor teve expansão de 5% e a utilização da capacidade instalada alcançou, em setembro, o patamar de 87%, contra a média de 60% em anos anteriores. O número de postos de trabalho na indústria de construção civil também se expandiu em 2008. A média de empregos na amostra pesquisada pela FIEAC alcançou cerca de quatro mil empregos diretos/mês. Isto pode significar que o universo de empresas do setor no Acre chegou a empregar 10 mil pessoas nos meses de pico, no verão.

É decisivo que o Brasil consiga impedir que a crise internacional comprometa de modo grave todo o avanço do nível de atividade observado em 2007 e 2008. Para isso, é preciso vencer o ceticismo relativo ao primeiro trimestre de 2009, período estratégico para balizar a performance da economia nacional durante todo o exercício de 2009. Daí a importância de o governo complementar as boas medidas anunciadas, concretizando seus efeitos práticos nos setores produtivos.

 

João Francisco Salomão é o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre (FIEAC).

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