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Conteúdo 26 de fevereiro de 2009

Uma surpresa mais do que esperada

As fontes "bem informadas"de sempre apressaram-se, às vésperas dos feriados de Momo, a informar que o presidente Lula foi surpreendido com a notícia de que a Embraer, contumaz tomadora de empréstimos no BNDES para financiar suas vendas para o Exterior, estava demitindo mais de 4.200 funcionários, cerca de 20% de sua força de trabalho no Brasil e no mundo. As mesmas fontes acrescentaram que o presidente ficou indignado – ao que tudo indica, a mesma indignação que demonstrou quando a Vale cortou 1.300 empregos ainda no fim de 2008 – com o que aconteceu e estava convocando da diretoria da empresa para se explicar, depois das festas de Momo.

Graças a alguns jornalistas de Brasília e de São Paulo, naturalmente não pertencentes ao bloco dos "bem informados", ficamos sabendo, no entanto, que a "surpresa" não foi tão surpreendente assim. Desde a segunda-feira da semana passada a notícia de que as demissões viriam havia aportado no Palácio do Planalto. Não chegou até Lula? Além do mais, um repórter da região de São José dos Campos, Julio Otoboni, anunciara em dezembro que os cortes viriam e deu até o número correto delas. Sabiam também do iminente corte os líderes das centrais sindicais que freqüentam com assiduidade os gabinetes palacianos.

A tentativa do Palácio do Planalto de fingir estupefação em episódios desagradáveis como este, e de demonstrar que se sente traído pelas empresas que o governo ajuda, só mostra as dificuldades que o presidente Lula está enfrentando para tratar da questão do desemprego. Ou, pelo menos, de tratar o problema sobre outros ângulos que não os convencionais e pontuais, tais como os já adotados aumento da disponibilidade de empréstimos e cortes seletivos de impostos. A deterioração do quadro de empregos exige soluções rápidas e criativas. E nesses momentos o papel do governo é crucial. O presidente, contudo, parece não querer entrar em certas discussões, em nome de seu passado de sindicalista.

Tome-se o próprio caso da Embraer. Os sindicatos querem a intervenção da justiça trabalhista para determinar a reintegração dos demitidos, sob a alegação de que a empresa não esgotou todas as possibilidades de negociação, entre elas a de redução da jornada de trabalho, acrescida da redução dos salários, como forma de preservar os empregos. É uma solução temporária, já adotada em várias companhias, inclusive na Vale, com sucesso. Os sindicatos acreditam que por aí o corte seria amenizado.

Desde que a luz amarela começou a piscar mais incessantemente no universo do trabalho, a partir de novembro, sugestões nesse sentido foram apresentadas por entidades patronais, como a federação das indústrias paulistas, a Fiesp, e por diversas empresas. Em São Paulo a debate avançou vários passos e a Força Sindical chegou a sentar-se à mesa para conversar, recuando em seguida porque sentiu falta de chão para prosseguir. Não houve sinais oficiais. E há resistências na CUT, embora muitos sindicatos ligados à entidade tenham celebrado acordos nesse sentido em diversos setores. Uma questão política – estúpida naturalmente.

O assunto chegou ao Palácio do Planalto. Não prosperou, porém. O governo não quer se meter no assunto para não prejudicar sua imagem. Não quer parecer que está dando razão aos empresários contra os trabalhadores. No fundo, disfarçadamente, aceita os acertos que estão sendo feitos. Só não quer aparece como patrocinador dos arranjos. Mas melhor isso do que o soco no estômago dos 4.200 da Embraer. Quando ele se omite, deixa a motosserra na mão do mais forte.

Não se está dizendo que a redução de jornada e de salários seja a panacéia para o delicado momento de nosso mercado de trabalho. É preciso ir mais fundo e discutir de um modo geral nossas legislações trabalhista e sindical, velhas de muitas guerras. Agora, porém, é preciso aliviar o ambiente. Se o governo estivesse na frente das negociações, o massacre da Embraer poderia ter sido contido. E outros que podem vir, também. Culpar apenas os empresários ou ameaçar com medidas inviáveis (e burras), como o corte de crédito, não resolve.

E nem traz os empregos de volta.

Fonte: Diário do Comércio – www.dcomercio.com.br

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