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Conteúdo 26 de junho de 2008

Viva o rico e abaixo o pobre!

O Brasil tem contrastes incríveis. Por um lado, no ano passado, o número de milionários do país cresceu 19,1%, atingindo 143.000 pessoas. Pelo oposto, o programa bolsa família – e outros que dão dinheiro aos pobres – passou a atingir 35,9% das famílias nordestinas e 24,6% das nortistas, quando em 2004 esses percentuais eram de, respectivamente, 32% e 18,2%.

A primeira informação pode ser lida de duas formas: indica, que apesar dos pesares, o Brasil é ainda um lugar onde se pode prosperar. Apesar   de todos os problemas, ainda existem oportunidades. Mas também há quem diga que o crescimento do número de ricos apenas reflete uma relação espúria de concentração de renda .

Já no caso dos programas assistencialistas, o aumento da cobertura pode significar mais eficácia do governo em ajudar os pobres; ou menos eficácia, se considerarmos que o aumento do percentual em foco revela a perpetuação na pobreza de famílias que não tiveram a capacidade de se qualificar e gerar a própria renda, conforme a intenção do criador do bolsa família, o ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque.

Nos dois casos, a opção do que seria o mais próximo da verdade, depende do ponto de vista sob o qual cada um enxerga o que é o melhor para o futuro do Brasil.

Podemos optar por um país que priorize a formação de uma sociedade igualitária,  buscando diminuir a distância de renda entre os mais e os menos afortunados. Nesse caso, os impostos devem continuar a subir, ou o governo pode até estatizar as empresas.

A outra alternativa extrema seria incentivar irrestritamente o empreendedorismo. Os tributos despencariam a patamares mínimos, junto com os juros; e o estado seria reduzido a  funções básicas (alguns acham que ele nem deveria existir), sem meter o bedelho em tudo que é problema da sociedade.

Claro que tal radicalismo de opostos só pode mesmo sobreviver no papel. Mas como exercício vale a pena.

Porém, por incrível que possa parecer, os dois países de dimensões relevantes que hoje mais crescem no mundo – China e Índia – passaram por experiências bem próximas aos extremos descritos, especialmente no âmbito da proteção social.

Só que o grau de estatização era tanto (falando mais da China), que aquelas sociedades, mesmo com linhas igualitárias, não tinham forças para crescer, ao menos ao ponto de evitar repetidas epidemias de fome até a década de 70.

Primeiro a China e depois a Índia, cada qual ao seu modo, resolveram mudar; incentivar os interesses individuais do cidadão na busca da riqueza. Essa aproximação ao capitalismo é que acabou alavancando a economia daquela região do mundo, que hoje é a mais próspera do planeta. Por sinal, no que se refere ao aumento do número de ricos em 2007, o Brasil só foi superado pelos chineses e indianos.

E lá, evidentemente, ainda existem muitos problemas sociais. Mas não conheço nenhuma referência que tenha comentado a respeito da piora do padrão de vida dos mais pobres em função do aumento de ganhos dos mais ricos.

Enquanto isso, o governo federal brasileiro ainda insiste em aumentar a carga fiscal, ao mesmo tempo em que amplia sua rede de proteção social, anunciando 8% a mais para o programa bolsa família.

Não vou dizer se os governantes estão certos ou errados em fazer isso. Mas é tranqüilo afirmar que eles realmente optaram pelo caminho oposto de quem atualmente lidera o desenvolvimento global.

Sim, os chineses e indianos passam por um momento histórico no qual a riqueza nacional está em ritmo de concentração. Mas é exatamente essa concentração que acaba gerando efeitos positivos de empregabilidade e renda na maior parte da sociedade.

Os coitadinhos de lá  estão sendo induzidos a se educarem, qualificarem e partirem a luta por um lugar ao sol. Enquanto isso, os nossos coitadinhos recebem aumento de mesada. Isso efetivamente é muito bom para os políticos em ano eleitoral.

Mas a opção foi feita: a economia brasileira, é verdade, vem crescendo mais do que nos outros períodos de nossa história recente. Entretanto, deixa-se claro que isso está ocorrendo em função de um contexto internacional favorável, especialmente no que se refere às commodities agrícolas e minerais que o país exporta.

O problema é que isso não durará para sempre e chegará a hora da verdade, onde nos depararemos com um país de pouca vocação para gerar patentes; e repleto de famílias recebendo ajuda por serem pobres… e por isso mesmo desejosos de continuarem pobres

Eduardo Starosta é economista: eduardostarosta@uol.com.br

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